eleições presidenciais
Bate-boca entre MBL e bolsonaristas alimenta racha no antipetismo
Ofensas nas redes sociais explicitam a dificuldade em abraçar um mesmo candidato no início do ano eleitoral
Bruna de Lara
Os seguidores do Movimento Brasil Livre (MBL) e do deputado federal e pré-candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro vêm trocando ofensas nas redes sociais ao longo dos últimos três dias, evidenciando o racha entre grupos antipetistas neste início de ano eleitoral. As farpas se intensificaram a partir da noite de domingo, 14 de janeiro, quando o vereador pelo DEM de São Paulo Fernando Holiday, um dos coordenadores nacionais do MBL, condenou os ataques de apoiadores de Bolsonaro à apresentadora do telejornal SBT Brasil, Rachel Sheherazade, outra crítica notória do PT. Na madrugada do dia 9 de janeiro, a jornalista compartilhou uma notícia sobre o crescimento do patrimônio do deputado com o comentário: “Bolsonaro e Lula: os ‘opostos’ cada vez mais parecidos.” Com isso, atraiu a ira dos bolsonaristas.
Durante quatro dias, entre 9 e 13 de janeiro, Sheherazade, que costumava demonstrar apoio a Bolsonaro nas redes sociais, passou a investir contra o deputado. “Bolsonaro diz que usou auxílio-moradia para ‘comer gente’. Será que é para isso que pagamos seu polpudo salário e suas regalias parlamentares?”, escreveu a jornalista, em sua última postagem sobre o assunto. Em conjunto, seus tuítes renderam cerca de 3,8 mil comentários – a maioria, ofendendo a apresentadora, chamada de “vendida” e comparada a Judas. Os ataques eram direcionados também à sua vida pessoal: para os seguidores, a mudança de posicionamento, agora contrário ao pré-candidato, foi atribuída ao noivado com o tabelião Matheus Faria, rotulado de “tucano” e “socialista” pelos fãs do deputado.
Holiday entrou na discussão mais de um dia depois da última manifestação da jornalista – estimulando seguidores do MBL a confrontarem os bolsonaristas. Em sua página do Facebook, ele afirmou que os detratores da jornalista “aderiram a um Bolsonarismo religioso” que os levava a atacá-la por criticar “a pretensa divindade Bolsonariana”. Em um tuíte de tom ameno, publicado também no domingo, às 19h50, o deputado se restringiu a afirmar que não tem “nada a ver com a vida privada de quem quer que seja, nem incentivo ofensas neste sentido”. “Nosso foco é no Brasil. Temos muitos problemas importantíssimos para resolver!”, prosseguiu, em uma tentativa apaziguadora. Holiday respondeu 13 minutos depois. “Diga isso aos seus asseclas que estão tentando destruir a vida e o casamento de @RachelSherazade por ela não concordar com alguns posicionamentos de vossa excelência!”, afirmou o vereador.
Abriga que se desenrola nas redes tem como cenário a tentativa de conquistar a maior parcela possível do eleitorado antilulista. Aliados nas jornadas pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o MBL e o clã de Bolsonaro mantêm uma relação conturbada. Em fevereiro de 2017, Eduardo Bolsonaro, filho de Jair e deputado federal pelo estado de São Paulo, repreendeu Holiday por ter votado em um candidato do PT para integrar a Comissão de Transportes da Câmara paulistana, e acusou o vereador de difamar sua família. Em um grupo de WhatsApp do qual faziam parte líderes do MBL como Holiday e Kim Kataguiri e integrantes do mercado financeiro, como mostrou reportagem da piauí em outubro passado, Bolsonaro-pai era chamado de “tosco”, “ignorante”, “sem noção” e “inadmissível”.
Agora, os atritos ficam ainda mais evidentes na largada do ano eleitoral. Ao longo de 2017, o MBL se posicionou a favor de uma possível candidatura do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), que também abraçou a estratégia antipetista. Nas páginas do Jornalivre, site que replica notícias positivas ao MBL, as menções a Bolsonaro também são negativas. Poucas horas antes de Holiday posicionar-se contra os ataques a Sheherazade, o Jornalivre já comparava os fãs do deputado a “comunistas do PCdoB”. Já nas páginas oficiais do grupo, como no Facebook do MBL, até aqui as críticas ao presidenciável têm sido tímidas. O bate-boca virtual entre Holiday e o clã dos Bolsonaro ilustra a dificuldade que o antipetismo terá para se unir em torno de um mesmo candidato, pelo menos no primeiro turno presidencial.

Bruna de Lara
Bruna de Lara foi estagiária de jornalismo do site da piauí