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    Vladimir Brichta na pele de Bozo. "Atores mergulham com frequência, sem perceber, em projetos desastrosos", escreve o crítico de cinema Eduardo Escorel

questões cinematográficas

Bingo, O Rei das Manhãs – qual é o alvo?

Nem mesmo a atuação de Vladimir Brichta salva filme sobre a vida de Bozo

Eduardo Escorel | 30 ago 2017_18h07
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Tive que resistir ao impulso de abandonar no meio a sessão de Bingo – O Rei das Manhãs. À medida que a projeção avançava, meu incômodo crescia. Não parava de me perguntar a quem se dirigia o que ia sendo projetado na tela. Mas, por obrigação profissional, fiquei até o fim, mesmo sem ter conseguido decifrar com quem o roteirista Luiz Bolognesi, o diretor Daniel Rezende e os produtores pretendiam se comunicar.

De antemão fica claro que Bingo – O Rei das Manhãs não é dirigido a crianças. Até aí, nenhum problema. A galeria de palhaços tristes, trágicos, doidos, assustadores etc. é grande. Bingo, porém, não se enquadra em nenhuma dessas variantes. Ele é um compósito de drogado, devasso e pai caridoso. E o resultado da soma desses elementos me parece destituído de interesse para (a) jovens e adultos dotados de algum discernimento, assim como (b) espectadores em geral que não sejam atraídos por personagens sem grandeza, vivendo situações banais e mantendo relações pautadas por lugares comuns, e ainda (c) quem não ceda a apelos fáceis e comportamentos pretensamente escandalosos temperados por doses recorrentes de pieguice.

Não há, nem poderia haver, reparos a fazer à fatura de Bingo – O Rei das Manhãs. O filme resulta de contribuições de um conjunto de profissionais experientes e talentosos. O que claudica é a própria concepção mental do projeto, a meu ver equivocada.

A lamentar, no caso, o desperdício do talento de Vladimir Brichta, cujo empenho em fazer do palhaço Bingo um personagem interessante é inegável, embora frustrado. Nem mesmo a entrega total de Brichta é capaz de salvar o filme, uma vez que a tarefa está além do alcance até de um bom ator como ele. Nesse sentido, Bingo – O Rei das Manhãs comprova os sacrifícios aos quais atores e atrizes de cinema são submetidos – mergulham com frequência, sem perceber, em projetos desastrosos.

Estou a par que Bingo – O Rei das Manhãs recebeu alguns grandes elogios. André Miranda, no Globo, teceu loas ao filme e Luiz Zanin Oricchio, no Estado de S. Paulo, o considera “uma estreia empolgante”. Outros críticos, como eu, discordam. Cada cabeça, uma sentença – é o que nos salva.

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