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    Alckmin em visita a Caraguatatuba, no litoral paulista, em agosto de 2017 FOTO: ABCDIGIPRESS_FOLHAPRESS

questões da política

Candidatura Alckmin é gravidez de alto risco

Tucano tenta sobreviver ao fogo amigo para ter chance de enfrentar os inimigos na campanha presidencial

José Roberto de Toledo | 25 abr 2018_13h32
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A candidatura presidencial de Geraldo Alckmin está se revelando uma gestação de alto risco – e não apenas pelo resultado dos exames pré-eleitorais apresentados por Ibope e Datafolha. Para dar à luz em 15 de agosto, a candidatura do tucano terá que superar conspirações do MDB, desconfianças do PSDB e a falta de estrutura de sua própria campanha. Nem comitê ele montou ainda. Se sobreviver aos próximos quatro meses, porém, tem chance de vir a ser uma das favoritas para a sucessão de Michel Temer.

O diagnóstico das pesquisas eleitorais é ruim para Alckmin. Apesar de ser um dos mais conhecidos entre os candidatos a presidente, o ex-governador paulista varia de 6% a 8% nos nove cenários estimulados pelo Datafolha. São taxas muito menores do que a intenção de voto espontânea em Lula e em Jair Bolsonaro. Ou seja, nem citando o nome do pré-candidato do PSDB ele consegue chegar perto da quantidade de eleitores que citam de memória e sem estímulo os dos rivais do PT e do nanico PSL.

Pode-se argumentar que o eleitor de Alckmin, a exemplo do seu candidato, demora para se decidir e que, portanto, o tucano só vai crescer na reta final da campanha. É possível, mas Alckmin está muito abaixo do patamar histórico dos candidatos do PSDB e dele próprio. Isso acontece por dois motivos: 1) Bolsonaro roubou seus eleitores mais conservadores; 2) Alckmin não converte os votos de nem um terço dos simpatizantes do PSDB.

Apenas 25% a 31% do eleitorado tucano é alckmista hoje, dependendo do cenário testado pelo Datafolha. Bolsonaro captura 20% a 23% do tucanato. O resto se divide entre Joaquim Barbosa (PSB), Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT) e Alvaro Dias (Podemos). Quanto mais candidatos, mais os tucanos se dispersam.

Daí Alckmin dizer que acredita em um “afunilamento” da corrida presidencial, que parte das duas dezenas de candidaturas atuais convergirá para um punhado de campanhas mais fortes. Ou seja, nanopresidenciáveis como Rodrigo Maia (DEM) e Henrique Meirelles (MDB) seriam, na verdade, candidatos a vice em sua chapa.

Isso pode acontecer? Sempre pode, mas vai demandar um enorme trabalho de convencimento do eleitor. A começar do eleitor paulista. A pesquisa presidencial Ibope feita apenas no estado de São Paulo e divulgada pela Band mostra Alckmin (15%) tecnicamente empatado, mas numericamente atrás de Bolsonaro (16%) no estado que o tucano governou por mais de doze anos. Isso sem Lula. Com o petista no páreo, Alckmin cai para terceiro, com 12%, em um dos cenários.

Quando se reelegeu governador de São Paulo, em outubro de 2014, Alckmin tinha um saldo positivo de avaliação (ótimo/bom/menos ruim/péssimo) de 31 pontos. Ao renunciar ao mandato, agora, para concorrer a presidente, esse saldo é menos da metade: 14 pontos. Entre uma pesquisa e outra aconteceu a Lava Jato, aprofundou-se a crise de abastecimento de água na capital paulista e as obras do metrô e congêneres atrasaram. Alckmin correu para inaugurar estações semiacabadas no último dia de mandato.

Para complicar, deixou aberta uma disputa entre seu vice empossado governador, Márcio França, do PSB, e o candidato ao governo paulista pelo PSDB, o ex-prefeito paulistano João Doria. Ambos trocam ofensas em público e golpes baixos atrás do palco. Alckmin tenta se equilibrar entre as duas candidaturas, mas corre risco de perder um dos dois aliados no meio da corrida.

A fragilidade eleitoral do ex-governador paulista é acompanhada da fragilidade estrutural de sua campanha. Alckmin não tem comitê. Trabalha desde o seu escritório político. Faz pouco mais de uma semana que passou a ter um coordenador de comunicação de campanha, Luiz Felipe d’Avila – um cientista político. Planeja apenas para maio as primeiras viagens para outros estados. Sua presença nas redes sociais ainda é raquítica.

Não bastassem os problemas internos, há muitos interessados em abortar a candidatura presidencial de Alckmin fora do PSDB, a começar pelo governo federal e o MDB paulista. Temer alimenta em público a ilusão de ser candidato à reeleição, na esperança de que isso impeça que lhe sirvam café frio no Palácio do Planalto. A candidatura de Alckmin ocupa o espaço que ele sonha ocupar.

Além disso, se os tucanos rifarem o ex-governador e trocarem-no por uma candidatura presidencial de Doria, o maior beneficiado em São Paulo seria o candidato a governador do MDB, Paulo Skaf, que aparece em segundo lugar, quase empatado com o ex-prefeito.

Abundam, portanto, os que trabalham contra a candidatura Alckmin. E eles vão fazer de tudo até 15 de agosto – data limite de registro das candidaturas – para tentar abortá-la. Esse será o período mais crítico para o ex-governador. Se sobreviver, ainda terá uma campanha dura pela frente, mas terá mais chances de ocupar o buraco no centro do espectro político. Alckmin terá que sobreviver aos amigos para poder enfrentar os inimigos.

 

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