05fev2010 | 20h04 | Brasil

MP descobre que rádios repetem o mesmo boletim de trânsito desde 1987

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"Sim, basicamente, fomos vítimas de fraude." Foi assim que o Procurador-Geral da Justiça do Rio de Janeiro, Claudio Soares Lopes, abriu a coletiva de imprensa convocada às pressas na manhã desta sexta-feira. "O carioca precisa ser informado sobre o cartel formado pelas emissoras AM e FM da cidade." Em investigação que durou seis meses, o Ministério Público comprovou que, há exatos doze anos, as rádios repetem as mesmas informações sobre o trânsito. "Veja bem, faz muito tempo que escutamos religiosamente, às seis da tarde, que o elevado da Perimetral está parado, que a avenida Brasil encontra fortes retenções, que a Francisco Bicalho apresenta lentidão para quem vai em sentido à Baixada, e que o trânsito segue complicado na Praça da Bandeira. O impressionante é que ninguém reparou que, entrava ano, saía ano, a voz era sempre a mesma. E não era difícil, pois o locutor tem língua presa. Chamava-se Crispim Duarte e morreu em 1998. Conseguimos estourar uma retransmissora no Morro da Providência, e encontramos a fita K-7 gravada por Crispim. As rádios transmitiam de lá." Lopes contou que o MP inicou a investigação quando um procurador ligou a rádio na avenida das Américas e ouviu que o trânsito encontrava retenções ao longo da via. "Seria normal, pois era uma terça-feira por volta das seis da tarde. Acontece que era dia de Zumbi, e a avenida estava praticamente deserta. Foi ali que começamos a desconfiar. " Levado à 18 DP, na Praça da Bandeira, o operador da retransmissora, Atayde Castilho, confessou o crime. "Ninguém teria descoberto nada se o Formiga e o Pincel não tivessem me chamado pra tomar uma cerveja pra comemorar o Zumbi. Coisa vai, coisa vem, e eu esqueci de por a fita ‘Fim de semana e feriados’ no console". O caso despertou o interesse do Ministério Público de São Paulo, cidade que que há anos convive com "retenções na Ponte do Limão" e "trânsito complicado na rua das Juntas Provisórias". "Pode até ser mais grave do que no Rio", disse Florisbal Repchynsnky, Procurador-Geral da Justiça de São Paulo, "pois sequer temos certeza se a rua das Juntas Provisórias existe".