24mar2016 | 16h50 | Cultura

Cláudio Botelho se retrata: “Bilhete de Chico Buarque à diarista é na verdade delicado”

A+ A- A

LEBLON – Em uma reviravolta inesperada, o dramaturgo Cláudio Botelho veio a público para pedir desculpas ao compositor Chico Buarque. No começo da semana, Botelho havia afirmado que o novo bilhete de Buarque à diarista Maria do Socorro era repressivo e autoritário. No documento, adiantado por este piauí Herald, o compositor pedia a Socorro que não mexesse “no armário onde guardo a louça de mamãe”. Botelho havia comparado o ato aos “piores excessos da ditadura cubana”.

“Errei. Errei muito. Sou humano, mas isso não me desculpa”, confessou Botelho, lamentando o ocorrido. “O que Chico deixa claro no bilhete é a importância da família como célula formadora de toda sociabilidade. O respeito às ‘louças de mamãe’ nada mais é do que uma variante do mesmo sentimento terno que Chico nos deu a ver em canções como Gente humilde e A banda. É o retorno às raízes, ao húmus que abriga e alimenta as gentes deste país”, explicou, com emoção. “Eu estava cego de ódio e não vi o óbvio”, disse, chicoteando-se.

Entre soluços, Botelho chamou atenção para outro trecho do bilhete. “Ele diz ‘Socorro, por favor, não mexa nas louças de mamãe’. Veja bem, é a ‘louça de mamãe’ que está em jogo. Algo crítico na economia afetiva de cada um de nós, delicadezas que resistiram à Ditadura e aos anos Collor. Mesmo assim, Chico faz questão de ser cordato. É um homem cordial, herdeiro e exemplo maior da obra do pai.”

Aos prantos, Botelho prosseguiu: “Ouso crer que, por mais desastrosa que tenha sido a minha intervenção, o bilhete à diarista ainda é um espaço capaz de levantar debates nacionais relevantes e de grande repercussão. O bilhete à diarista é sagrado e será sempre um espaço livre, de troca de ideias e de respeito às diferenças”, declarou, perdendo o ar.

Antes de entrar num balão de oxigênio, o dramaturgo ainda conseguiu anunciar que o musical Todos os Bilhetes de Chico Buarque passará a ser chamado de Todos os Bilhetes Recebidos Por Maria do Socorro. “Vai ser um retrato da revolução social dos anos Lula.”