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    "Foda é a perspectiva de passar anos trancado nesta gruta do Ali Babá high-tech. Não sou particularmente claustrofóbico, mas, porra, também não sou nenhum urso em hibernação." ILUSTRAÇÃO: CAIO BORGES_ESTÚDIO ONZE_2015

ficção

A grande sinuca celestial

Talvez eu tenha sido um grande surfista em alguma vida passada. Me contento hoje em ser um bom surfista de lençol

Reinaldo Moraes | Edição 104, Maio 2015

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Todo mundo sabe que além da razão começa a loucura, a poesia, o caos. E o nada, que é basicamente uma palavra que não tem nada a esconder dentro dela. O nada só faz sentido quando esconde uma ausência que faz doer, que faz morrer de saudade. Uma saudade de matar é o que eu antecipo pra mim, se essa loucurada toda em que essa doida me meteu for mesmo pra valer e eu tiver que passar muitos anos da minha vida aqui dentro, se não mesmo toda a vida que me resta, embora a Shyn tenha dito há pouco que em cinco anos poderemos dar umas voltinhas curtas nas redondezas com os trajes. É o que ela acha, pelo menos. Tudo isso é absurdo, eu sei, mas tem uma lógica implacável, científica. E o resultado é que tô eu aqui pagando de personagem duma peça de teatrão do absurdão escrita por essa tipa cabulosa, como diria o pessoal do surf. Na verdade, ela não é a única autora, embora, até onde consegui sacar, seja a mais importante. Talvez a líder de um grupelho de operadores de satélite que se autointitulam “black angels”. Mais gibi da Marvel impossível. Digo isso a quem puder me ouvir, e vou dizendo até entupir o gravador do meu celular, sem sinal há horas, como ela disse que aconteceria em algum momento.

Eu disse pra ela que tô aqui ditando um diário de bordo no celular, e ela disse, o.k., isso é bom pra cabeça, go on, e que se eu precisar descarregar o chip num computador dela, tá às ordens. Então eu sigo falando aqui com toda a liberdade, mesmo na frente dela, que não entende picas de português. E não tem mais ninguém aqui, só eu e ela, entocados numa caverna dentro dessa montanha rochosa, longe das cervejas e das mulheres. Digo, de outras mulheres. De todas as mulheres do mundo, digo.

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Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz

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