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    O lulismo se presta a inúmeros gêneros de mistificação, por ser regressivo e progressivo ao mesmo tempo. Ele não pretendia produzir confronto com as classes dominantes, mas ao diminuir a pobreza o fazia sem querer. Acelerado por Dilma, o lulismo acabou vítima de suas contradições FOTO: ED FERREIRA_BRAZIL PHOTO PRESS

tribuna livre da luta de classes

Do sonho rooseveltiano ao pesadelo golpista

A ascensão e o declínio do lulismo¹

André Singer | Edição 140, Maio 2018

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O  que aconteceu com a perspectiva rooseveltiana de acelerar o lulismo e criar “no curto espaço de alguns anos” um país em que as maiorias pudessem levar “vida material reconhecidamente decente e similar”? Onde foi parar o horizonte desenhado por Dilma Rousseff no discurso inaugural daquele bonito sábado, 1º de janeiro de 2011, de podermos ser “uma das nações mais desenvolvidas e menos desiguais do mundo – um país de classe média sólida e empreendedora”? O que restou da previsão feita pelo economista Marcelo Neri, segundo a qual os brasileiros – “campeões mundiais de felicidade futura” – teriam, daquela vez, razão para ser otimistas, pois uma “nova classe média” seria dominante em 2014?

Motivos de esperança existiam. Dilma sentou na cadeira presidencial tendo atrás de si um crescimento de 7,5% do PIB, uma taxa de desemprego de 5,3% e uma participação do trabalho na renda 14% acima da que havia em 2004. Uma massa de trabalhadores fazia uso de prerrogativas antes destinadas apenas à classe média, como viagens de avião, tratamento dentário e ingresso em universidades. O Brasil parecia incluir os pobres no desenvolvimento capitalista sem que uma só pedra tivesse riscado o céu límpido de Brasília[1]. Lula resolvera a quadratura do círculo e achara o caminho para a integração sem confronto. Aclamado urbi et orbi, recebia aplausos da burguesia, nacional e estrangeira, e de centrais sindicais concorrentes. No início de 2009, Obama declarou que ele era “o político mais popular da Terra”. Em novembro, a revista britânica The Economist colocara na capa o Cristo Redentor como um foguete e a frase “O Brasil decola”. Em dezembro de 2010, o ex-presidente encerrava o mandato com 83% de aprovação, a maior da série iniciada pelo Datafolha na década de 80. A Copa do Mundo de Futebol de 2014 e a Olimpíada de 2016, ambas no Brasil, projetavam-se como a consagração definitiva do lulismo.

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