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    ILUSTRAÇÃO: ANDRÉS SANDOVAL_2016

esquina

Moli vai à China

Uma garota fissurada em mandarim

Paula Scarpin | Edição 120, Setembro 2016

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Do hotel em frente à Baía da Guanabara, Amiris Rodrigues divisou o ponto em que o sol se levanta e entoou o mantra Daimoku, recomendado pela tradição budista àqueles que precisam de força para transformar o destino. Era fim de junho. A adolescente miúda, de óculos e aparelho nos dentes, pediu em japonês – idioma que ignora – o reconhecimento de sua competência em mandarim. Dentro de poucas horas, a moça de 16 anos disputaria a final brasileira do Chinese Bridge, concurso mundial de língua e cultura chinesas para alunos dos ensinos médio e superior. Um dos requisitos da competição é que os participantes não tenham nenhum elo familiar com a China. “Meu bisavô paterno nasceu na Espanha e se casou com uma baiana. Minha bisavó materna era índia, casada com um nortista”, apressou-se em me explicar a garota. Até um ano e meio atrás, tudo o que ela sabia a respeito do gigantesco país asiático limitava-se às lições recebidas durante as aulas de geografia num colégio agrícola de Franca, cidade paulista onde nasceu e mora. Nem rolinho primavera a menina havia experimentado.

No começo de 2015, mal ingressou no ensino médio, Rodrigues descobriu que, além de aprender inglês e espanhol, poderia se inscrever num curso optativo de mandarim, graças a uma parceria da escola com o Instituto Confúcio. A organização sem fins lucrativos, vinculada ao Ministério da Educação da China, possui 500 centros espalhados pelo mundo. “É meio bobo falar desse jeito, mas o mandarim deu sentido à minha vida”, confidenciou a jovem. O currículo regular do colégio agrícola não a desafiava – tampouco a convivência com outros adolescentes. Muito estudiosa, nem sempre se interessava pelo papo dos colegas. “Em resumo, morria de tédio.”

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