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    Em Paris É uma Festa, que voltou a ser best-seller na França, Hemingway relembra seus anos de escritor iniciante na cidade. O Louvre, Picasso, a vida às margens do Sena: só um niilista convicto se negaria a admirar uma cidade assim FOTO: PHOTO RESEARCHERS_GETTY IMAGES

questões literárias

Paris não é uma festa

Depois dos ataques, os franceses recorrem ao mundo descomplicado de Hemingway

Alejandro Chacoff | Edição 112, Janeiro 2016

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No dia 16 de novembro passado, três dias após os atentados terroristas em Paris, uma equipe de tevê do canal francês BFMTV foi até a porta da sala de concertos Bataclan, onde as pessoas depositavam flores, velas e objetos em memória dos mortos. Na calçada, repórteres começaram a interpelar os pedestres. Em meio à aglomeração estava Danielle Merian, uma velhinha parisiense de 77 anos. Quando um repórter lhe perguntou por que estava no local, ela disse: “É importante trazer flores para os mortos. É importante ver também mais vezes aqui o livro de Hemingway, Paris É uma Festa, porque nós somos uma civilização muito antiga, e nós manteremos nossos valores sagrados no lugar mais alto.” Não estava claro se Merian havia visto o livro entre os objetos de luto ou se apenas se lembrara da obra num momento de inspiração. “Nós confraternizaremos com os 5 milhões de muçulmanos que praticam a sua fé aqui, livre e gentilmente”, ela continuou, “e nós lutaremos contra os 10 mil bárbaros que matam, supostamente em nome de Alá.”

A entrevista durou 28 segundos. Nos dias seguintes, o vídeo espalhou-se pelas redes sociais, e Merian recebeu menções elogiosas em diversos jornais e programas televisivos franceses. Sua fala misturava um orgulho ocidental inequívoco com uma certa tolerância religiosa, e parecia assim articular um sentimento coletivo que ainda estava latente. Um sentimento entre muitos, por assim dizer, mas que se sobressaía por ser belo e palatável: despido de xenofobia ou autoflagelação, era condizente com um luto delicado, em que qualquer divagação intelectual ou abstração mais ambiciosa soaria precipitada, insensível. A fama repentina de Merian lhe rendeu o apelido de “vovozinha Danielle” (um apelido que ela agora, compreensivelmente, tenta rejeitar).

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