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Jornadas, catracas e vandalismo – um ano depois (I)

Além de Junho e Rio em chamas, outros documentários tratam também das manifestações de junho de 2013, diferenciando-se, porém, desses dois comentados há algumas semanas por não terem feito das telas de cinema do circuito comercial sua principal vitrine – 20 centavos, realizado por Tiago Tambelli, embora lançado no Festival de Documentários É Tudo Verdade deste ano, pode ser visto agora no Netflix; Com vandalismo, “produção inteiramente independente e feita de maneira colaborativa” pela Nigéria Audiovisual, A partir de agora – as jornadas de junho e Por uma vida sem catracas, MPL | SP, dirigidos e produzidos por Carlos Pronzato, estão, todos três, disponíveis no YouTube. Com vandalismo há onze meses, A partir de agora – as jornadas de junho e Por uma vida sem catracas, MPL | SP, desde feveireiro.

| 21 jul 2014_17h36
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Além de Junho e Rio em chamas, outros documentários tratam também das manifestações de junho de 2013, diferenciando-se, porém, desses dois comentados há algumas semanas por não terem feito das telas de cinema do circuito comercial sua principal vitrine – 20 centavos, realizado por Tiago Tambelli, embora lançado no Festival de Documentários É Tudo Verdade deste ano, pode ser visto agora no Netflix; Com vandalismo, “produção inteiramente independente e feita de maneira colaborativa” pela Nigéria Audiovisual, A partir de agora – as jornadas de junho e Por uma vida sem catracas, MPL | SP, dirigidos e produzidos por Carlos Pronzato, estão, todos três, disponíveis no YouTube. Com vandalismo há onze meses, A partir de agora – as jornadas de junho e Por uma vida sem catracas, MPL | SP, desde feveireiro.

Diante do resultado de bilheteria pouco expressivo de Junho e Rio em chamas, a estratégia de lançamento desses quatro outros documentários parece alternativa válida, mesmo ao alto preço de serem praticamente ignorados pela mídia impressa. No caso de Com vandalismo, inclusive, os 185960 acessos registrados até agora ultrapassam de longe a expectativa mais otimista do que poderia alcançar nos cinemas. Enquanto isso, A partir de agora – as jornadas de junho e Por uma vida sem catracas somados tiveram até agora resultado menos espetacular de 24302 acessos, ainda assim superior à média dos documentários lançados nas salas do circuito comercial.

Além de sinalizarem tendência de produções independentes buscarem lançamentos alternativos, os quatro filmes citados acima, somados a Junho e Rio em chamas, indicam a existência, nem sempre facilmente perceptível, de produtores e realizadores empenhados em fazer filmes vinculados à atualidade do País. Com exceção de Junho, produzido pela Folha de S.Paulo, os demais compõem o lado B do cinema brasileiro, à margem das políticas públicas do setor, além de relegado a segundo plano pela mídia.

Sendo veiculados pela internet, é surpreendente que filmes como A partir de agora – as jornadas de junho e Por uma vida sem catracas, MPL | SP já tenham certa tradição. Carlos Pronzato, diretor de ambos, argentino de nascimento, radicado no Brasil, é um prolífico escritor e cineasta militante que trabalha nessa área desde 2001. Em 2003, realizou A revolta do Buzu (também disponível no YouTube, assim como em DVD), documentário sobre a manifestação estudantil contra o aumento da tarifa de ônibus urbano, ocorrida em Salvador, considerada precursora das jornadas de junho de 2013.

No caso de 20 centavos, o lançamento no Festival É Tudo Verdade propiciou um mínimo de atenção da mídia e a possibilidade de alguma avaliação crítica. O documentário de Tiago Tambelli é um registro de grande valor documental, incluindo algumas sequências preciosas que permitem vislumbrar a dinâmica das manifestações ao longo do mês de junho de 2013, em São Paulo. As poucas cenas em Brasília e no Rio, porém, em vez de darem ideia da abrangência nacional dos eventos resultam dispersivas.

O prólogo, mostrando a invasão do plenário do Congresso Nacional, é em si mesmo poderoso mas parece deslocado. 20 centavos só começa para valer, depois de aparecer o título, com as imagens do dia 13 de junho de 2013, o quarto ato contra a tarifa de ônibus, ocorrido na rua Maria Antônia, em São Paulo. Na linha de frente, os manifestantes carregam uma grande faixa preta na qual está escrito, em letras garrafais brancas, “Violência é a tarifa”, síntese do que estava em jogo naquele momento – a tentativa não só de fazer leitura política da violência como de identificar sua origem e os responsáveis por sua irrupção brutal nas três manifestações anteriores.

A palavra de ordem “sem violência” é entoada pela multidão, recebendo a anuência de um policial militar. O trajeto da passeata até a Assembléia Legislativa é informado a outro policial, assim como a afirmação de que “a manifestação tá pacífica” e não há “intenção de quebrar nada”. Sem que se veja como nem por quê, bombas de gás explodem, manifestantes jogam cestos de lixo, a polícia avança com seus escudos formando uma barreira de proteção, surgem fogueiras, o conflito se generaliza, a tropa de choque chega seguida da polícia montada etc.

Visto um ano depois das gravações, 20 centavos resulta insatisfatório, em parte por que imagens equivalentes às suas puderam ser vistas no calor da hora, entre outros, através do streaming da Mídia Ninja. Mas talvez mais importante que essa perda relativa de ineditismo seja o fato do documentário ficar restrito ao plano da constatação. Por melhor que seja o que mostra, como por exemplo as diferentes frases pintadas na faixa preta à frente das manifestação, a queima das catracas etc., é frustrante a ausência de reflexão sobre o que está sendo visto, inclusive, e principalmente, a eclosão da violência. (cont.)

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