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    Temer e Padilha durante reunião no Palácio do Planalto, em setembro do ano passado FOTO: PEDRO LADEIRA/FOLHAPRESS

questões da política

A tempestade perfeita do PMDB

Começou ontem um período de altíssimo risco para Temer

Malu Gaspar | 24 fev 2017_09h07
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É provável que dentro de alguns meses a gente venha se lembrar várias vezes de 23 de fevereiro de 2017. Foi um dia sui generis na política e um dos piores dias para os inquilinos do Palácio do Planalto.

A manhã começou com Osmar Serraglio, outrora aliado de Eduardo Cunha, sendo nomeado ministro da Justiça. Enquanto se escreviam as notas oficiais a respeito em Brasília, a Lava Jato saía a campo para prender um grande operador do PMDB, Jorge Luz, apontado pelos próprios lobistas do partido como o pai de todos eles. Quando a noite terminava, soube-se que José Yunes, o primeiro-amigo e ex-assessor especial da Presidência, disse ao Ministério Público, à revista Veja e ao jornal O Globo ter sido usado como “mula” pelo operador de Cunha, Lucio Funaro, para enviar dinheiro sujo a Eliseu Padilha. E isso depois de repetidas notícias de conversas subterrâneas entre atores políticos que buscam sem sucesso uma forma de soltar Cunha. Quem conhece os bastidores de Brasília não acredita que esses fatos sejam desconexos. E é capaz de apostar que suas consequências podem se tornar incontroláveis.

Nos depoimentos e arrazoados entregues ao juiz Sérgio Moro, Eduardo Cunha tem mandado seguidos recados ao presidente Michel Temer. “Qual a relação de Vossa Excelência com o senhor José Yunes? O senhor José Yunes recebeu alguma contribuição de campanha para alguma eleição de Vossa Excelência ou do PMDB?” O presidente tem se mantido firme nas negativas, dizendo que é tudo invenção de Cunha. Nos bastidores, seus interlocutores mais próximos querem fazer crer que é tudo desespero do ex-presidente da Câmara e aliado de Temer, que busca ser solto.

O depoimento de Yunes vem autorizar que se pense que não é bem assim. A história que o primeiro-amigo conta foi relatada também por um dos executivos da Odebrecht que terão as delações anexadas ao inquérito do TSE sobre caixa dois nas contas de campanha da chapa Dilma/Temer. Antes, Yunes negava tudo. Agora, mudou radicalmente de postura.

Ao procurar o Ministério Público para contar sua versão da história, Yunes provavelmente buscou evitar que batessem à sua porta as seis da manhã com uma ordem judicial de prisão ou de condução coercitiva. Por ora, conseguiu. Mas implicou ninguém menos que o ministro-chefe da Casa Civil. E incluiu no rolo, ainda, Lucio Funaro, personagem de pavio-curto que está sob incrível pressão. Funaro vem esperando que a situação de Cunha se defina, para que ambos decidam que rumo tomar: sair da cadeia em silêncio, levando juntos os segredos do PMDB, ou começar a negociar uma delação para ter alguma chance de não mofar atrás das grades. Com a inclusão de Jorge Luz, amigo de muitos anos de Eduardo Cunha, no rol de lobistas encurralados, a competição pela sobrevivência aumenta, assim como a quantidade de cabeças peemedebistas passíveis de degola.

Em seu depoimento, Yunes disse ter contado a Temer sobre o caso. O presidente, segundo ele, não fez nada. “O meu amigo reagiu com aquela serenidade de sempre”, disse, entre risos. Naquele momento, Temer talvez pudesse se dar ao luxo de fingir que nada ouvira. Agora, ou chama Yunes de mentiroso, ou demite Padilha. Ao pedir licença, agora de manhã, Padilha aliviou um pouco a carga de Temer. Supõe-se que ele não mais voltará. Ainda assim, qualquer movimento daqui em diante é arriscadíssimo para o presidente, cercado de profissionais capazes de tudo para garantir a própria sobrevivência política.  O mais perigoso, porém, é continuar  agindo “com a serenidade de sempre”, enquanto os fios soltos do submundo peemedebista se juntam no escuro do submundo. O curto-circuito pode ser fatal.

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