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    George Santos - Foto: Divulgação

questões americanas

Derrota por correspondência

Filho de imigrantes brasileiros, gay e conservador, o republicano George Santos já se considerava eleito deputado federal por Nova York – até chegarem os votos retardatários pelos correios

João Batista Jr. | 24 nov 2020_16h54
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Primeiro, a alegria: George Santos recebeu cumprimentos de amigos, parentes e colegas de Partido Republicano por ter recebido 137.928 votos, contra 133.743 de seu oponente, o democrata Thomas Suozzi. Esse era o placar de votação até o dia 10 de novembro. A votação presencial aconteceu até o dia 3, mas por causa da pandemia foi permitido que os votos chegassem pelos correios pelos próximos sete dias. Nos dias 11 e 12 de novembro, logo após o limite estipulado, deu-se a reviravolta: milhares de votos atrasados chegaram e, na nova contagem, Santos perdeu. 

Os advogados do Partido Republicano entraram na Justiça, alegando que os novos votos ultrapassaram o prazo e que, portanto, tratava-se de uma fraude. A Corte de Nova York entendeu que, em função da pandemia, o atraso poderia ser tolerado. “Eu me senti roubado ao mudarem a regra ao fim das eleições”, diz Santos. “Mas por mais chateado e chocado por esse desrespeito ao que havia sido combinado, o que mostra que as eleições nos Estados Unidos são uma bagunça, eu respeito a Justiça”, afirmou Santos à piauí.

 Há outras vitórias em sua trajetória. Filho de pai mineiro (pintor) e mãe carioca (governanta e bancária; morreu de câncer em 2016), Santos nasceu no Queens em 1988. Formado em economia e finanças pela Baruch College, de Nova York, há mais de dez anos ele atua no mercado financeiro, com passagens pelo Goldman Sachs, Citigroup e Harbor City Capital. “Meus pais sempre me mostraram o valor do trabalho, de andar na linha.” Aos 32 anos, assumidamente gay e abertamente conservador, integrante do que a imprensa americana chama de extrema direita do país, Santos tentou uma vaga como candidato a deputado pelo pelo terceiro distrito de Nova York. Os Estados Unidos são divididos em 435 distritos eleitorais, cada um deles elege um representante para a Câmara dos Representantes, com mandato de dois anos. O salário anual é de 174 mil dólares.

O sonho de Santos de entrar na política se deu por uma razão principal: lutar contra o que considera uma “agenda socialista” da esquerda. “Os esquerdistas querem aumentar impostos e burocratizar o país, tirando suas oportunidades de desenvolvimento e crescimento econômico”, explica. Católico praticante, ele se diz terminantemente contra o direito das mulheres de interromper uma gravidez – exceto em casos de estupro e incesto. “De todo modo, eu prego o diálogo: sou contra extremos de direita e de esquerda.” Mas, então, como avalia o presidente Donald Trump, que até agora não aceitou a derrota para Joe Biden? “Tenho uma boa relação com Trump, até já estive com ele em inúmeras ocasiões. Mas vejo essa negação da derrota como um ato desesperado; ele está aumentando a divisão entre as pessoas e criando um ambiente político ainda mais tóxico.”

Embora a bandeira LGBTQI+ não seja parte de sua linha de atuação, se eleito Santos seria um dos primeiros deputados republicanos assumidamente homossexuais dos Estados Unidos. As bandeiras dele não são a do arco-íris, por acreditar que a orientação sexual não pode, digamos assim, limitar. “Primeiramente, sou humano.” Entre os pilares de sua campanha estavam diminuir o controle de venda de armas de fogo e seguir a construção do muro entre México e Estados Unidos. Sobre o último ponto, ele não vê uma contradição por ser um latino que apoia a separação de latinos e de americanos. Alega que o muro evita tráfico de entorpecentes e de pessoas. E vai além: “Há grupos de defesa de animais que dizem que muitas espécies podem morrer por não poder atravessar a fronteira. Mas há adaptação: aqui em Nova York, uma cidade urbana e lotada de gente, não andamos uma quadra sem encontrar esquilos e guaxinins, em uma prova de que os animais se adaptam ao ambiente onde vivem.”

O quase deputado vive com seu companheiro, o também brasileiro Matheus Gerard, de 24 anos, farmacêutico nascido em Pelotas, no Rio Grande Sul. O casal mora em Whitestone, bairro de classe média alta do Queens, com mais quatro cachorros das raças Golden Retriever, Morkie (mistura de Yorkshire com Malta) e Papillon (Spaniel anão). “Todos eles foram resgatados”, frisa Santos. A dupla pretendia se casar em abril deste ano, mas a pandemia fez os planos serem adiados. Devem trocar as alianças em abril de 2021. 

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