Amara Moira: se a sua frequentação da zona não excedeu um par de anos, a convivência com James Joyce foi mais extensa, com um mestrado sobre Dublinenses e um doutorado sobre Ulysses CRÉDITO: MANAUARA CLANDESTINA_2025
A neca da boneca
O inovador romance travesti de Amara Moira
Eliane Robert Moraes | Edição 226, Julho 2025
Neca, para os íntimos. Vale também o necão, sobretudo quando se trata de acentuar as qualidades dos casos mais avantajados, que só perdem para a cobiçadíssima necona odara, com seus 20 e tantos centímetros a garantir os mais raros deleites. Atende ainda por mastruço, pirocona, rolão, trambolho, mangueirona, bilau, xiri e mais uma infinidade de nomes. A rigor, não faltam significantes nesse amplo léxico que comporta do simples xuxu ao promissor xuxuzão, ou do minhocão à minhoquinha, sendo esta um exemplo da fecunda classe dos diminutivos ao lado de calabresinha, piquititinha ou varinha, fora os conhecidos pirulito, dote, rola, parafuso, pistola, croquete – e mesmo do trivial e corriqueiro pau.
O vocabulário praticado por Simona, narradora do romance Neca, de Amara Moira (Companhia das Letras), é de uma riqueza ímpar e, cumpre dizer, tal atributo não se restringe ao festejado órgão sexual masculino. Aliás, o privilégio que este ganha ao longo da narrativa encontra um concorrente à altura no reiterado édi ou edi, que se desdobra em cebola, buraco, redondo, fiofó, o de trás e tantas outras variantes possíveis entre o prosaico rabo e o hilário Edivaldo. São “as edilidades, per così dire”, resume a autora. Não é esse, ainda, o caso do bizarro viaduto do maridão, que denuncia a descoberta de uma ruela larga no recôndito traseiro de um ocó hétero, quer dizer, de um respeitado pai de família que ostenta uma aliança de ouro na mão esquerda?
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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