O Brasil, vitorioso na guerra do Paraguai, escreveu naturalmente a história à sua maneira e transformou o marechal Francisco Solano López, presidente do país vizinho, num ditador sanguinário que levou à morte numa guerra insana quase 90% da população masculina de seu país.
Há hoje muitas teses revisionistas que tentam reabilitar Solano López, apresentando o muito que teria feito pelo país, mas não há dúvida de que a guerra deixou o Paraguai exangue e que López, já filho de um ditador, continuou uma dinastia de poder absoluto que cometeu inmeros abusos.
Um dos aspectos da vida privada do marechal mais explorados por seus detratores no Brasil foi a ligação, na época escandalosa, que manteve por quase duas décadas com a irlandesa Elisa Lynch, apresentada como uma messalina de passado mais que nebuloso que López teria importado da Europa.
O fato é que Madame Lynch, como se tornou conhecida, provou-se sempre companheira fiel do ditador até a morte deste, por um golpe de lança desferido por um soldado brasileiro, em março de 1870.
O documento reproduzido nesta página é particularmente significativo, pois se trata da última página do acordo final, assinado em Londres em dezembro de 1871, entre Elisa, a mãe ainda viva de seu companheiro, um filho de um casamento anterior do ditador e os tres filhos sobreviventes (dos sete que Elisa tivera com López), a respeito da partilha dos bens do marechal deixados no Paraguai, menos de dois anos após sua morte. O documento demonstra que a família do ditador reconhecia planamente os direitos da amante de López e mãe de três de seus filhos, apesar da inexistência de um casamento formal.
Elisa, então com 36 anos, viveu tranquilamente mais 15 na Inglaterra, com a fortuna deixada por seu amante.
Este é um dos raríssimos documentos que se conhece revestidos de sua assinatura. Foi encontrado no arquivo de um sócio de uma firma de advocacia inglesa, atuante no século XIX, e adquirido por seu atual proprietário nos anos 1990.