A boiada do Senado, o imbróglio do IOF e a farra das bets
Semanalmente, os apresentadores mencionam as principais leituras que fundamentaram suas análises. Confira:
Conteúdos citados neste episódio:
“Nas asas do tigrinho”, reportagem de João Batista Jr, para a piauí, sobre a viagem do senador Ciro Nogueira, da CPI das bets, no jatinho de um dono de casa de apostas investigado na comissão.
Entrevista de Marina Silva para Bernardo de Mello Franco no Globo.
“Como o governo Lula colaborou para aprovar o PL da Devastação”, reportagem de Rafael Moro Martins para o Sumaúma.
Reportagem de André Borges, para a Agência Pública, sobre a atuação do Senador Plínio Valério na tentativa de licenciar a exploração do ouro na Amazônia.
Entrevista de Fernando Haddad, para o Globo.
Entrevista de Bernardo Guimarães, para Natuza Nery, no podcast ‘O Assunto’.
“Grupo com renda anual de R$ 750 milhões a R$ 1 bi paga 1,49% de IR”, matéria do Valor Econômico.
TRANSCRIÇÃO DE ÁUDIO
Sonora: Rádio Piauí.
Fernando de Barros e Silva: Olá, sejam muito bem vindos ao Foro de Teresina, o podcast de política da Revista Piauí.
Sonora: Eu fui convidada como ministra. Ele não me respeita. Eu vou me retirar.
Fernando de Barros e Silva: Eu, Fernando de Barros e Silva, da minha casa em São Paulo, tenho a alegria de conversar com os meus amigos Celso Rocha de Barros e Ana Clara Costa, no Estúdio Rastro, no Rio de Janeiro. Olá, Celso! Casca de bala. Bem vindo!
Celso Rocha de Barros: Fala aí, Fernando! Estamos aí mais uma sexta feira.
Sonora: Não temos nenhum problema em corrigir rota desde que o rumo traçado pelo governo seja mantido. Reforçar o arcabouço fiscal, cumprir as metas para saúde financeira do Brasil.
Fernando de Barros e Silva: Diga lá. Ana Clara, bem vinda! Hoje eu inverti as saudações para vocês.
Ana Clara Costa: É, o Tico e Teco.
Celso Rocha de Barros: Fiquei confuso aqui.
Ana Clara Costa: Oi, Fernando. Oi, Celso! Oi, pessoal!
Sonora: Um membro desta CPI tem uma relação de amizade muito forte com um dos, senão o maior investigado desta CPI.
Fernando de Barros e Silva: E hoje, com a participação luxuosa do nosso querido João Batista Junior, repórter da Piauí, que vai estar com a gente no terceiro bloco do programa. Oi João, bem vindo! Obrigado pela participação mais uma vez.
João Batista Jr: Fernando, tudo bem? Eu que agradeço o convite. Oi pessoal!
Fernando de Barros e Silva: Vamos então de casa cheia. Sem mais delongas aos assuntos da semana.
Fernando de Barros e Silva: A gente abre o programa de hoje com a aprovação por 54 votos a 13, do projeto que desmonta a política ambiental brasileira e tem o nome cínico de Lei Geral do Licenciamento Ambiental. O texto foi aprovado com uma emenda do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que se destina a facilitar a exploração de petróleo na chamada Margem Equatorial. A faixa de mar entre o Amapá de Alcolumbre e o Rio Grande do Norte, uma extensão de mais de 2200 km de costa, é um projeto complicadíssimo, com imensos riscos ambientais, entre eles a proximidade da foz do rio Amazonas, onde qualquer vazamento de óleo poderia ter consequências trágicas para o ecossistema. Aprovada pelo Senado, a lei que debilita muito o poder dos órgãos de controle ambiental do Governo Federal, retorna agora à Câmara, onde se prevê que também seja aprovada, apesar da repercussão negativa na opinião pública. Dias depois da votação, como se não bastasse, a ministra Marina Silva foi alvo do ataque brutal, a um só tempo cínico e misógino por parte de senadores durante uma sessão na Comissão de Infraestrutura do Senado, para a qual ela tinha sido convidada. O presidente da Comissão, Marcos Rogério, do PL de Rondônia, Plínio Valério, do PSDB do Amazonas, e Omar Aziz, do PSD, também do Amazonas, ofenderam e desrespeitaram a ministra, como poucas vezes se viu. Eu não me lembro de nada parecido. Indignada com o tratamento, ela se retirou da sala em sinal de protesto. Nenhum aliado se levantou com ela. O comportamento de Lula e do governo neste episódio oscilou entre a ambiguidade e a omissão. Houve desagravos protocolares à ministra, mas a sensação de que ela está isolada na defesa da bandeira ambiental se acentuou. No segundo bloco, nosso assunto será a crise deflagrada na seara econômica por causa do IOF, o Imposto sobre Operações Financeiras. Na quinta da semana passada, o governo anunciou um congelamento de 31,3 bilhões no orçamento de 2025 para cumprir as regras fiscais, mas anunciou ao mesmo tempo o aumento sobre o IOF. O efeito foi desastroso e, horas depois, o mesmo governo recuou da medida. Um recuo parcial suficiente para conter a histeria no mercado, mas incapaz de eliminar a sequela do desgaste, a sensação de falta de coordenação e rumo do executivo ganhou um novo capítulo, obviamente explorado pelos adversários. E a novela não acabou. Como, apesar do recuo, o decreto presidencial aumentou o imposto, a Câmara está ameaçando derrubar a medida. O presidente da Casa, Hugo Motta, disse à jornalista Andrea Sadi que o governo parece estar atrás de manobras que soam como gambiarras para aumentar a arrecadação. E isso algumas horas depois de uma reunião entre ele próprio Motta, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre. A coisa não está boa. Por fim, no terceiro bloco, a gente recebe o João Batista Jr para falar dos escândalos e pecadilhos relacionados ao mercado bilionário de apostas online no Brasil, as bets. Numa reportagem publicada recentemente no site da Piauí, o João contou que o senador Ciro Nogueira, presidente do Progressistas, viajou de carona a bordo de um jatinho rumo ao Grande Prêmio de Mônaco. Com um detalhe picante ou escandaloso, você decide de que o dono da aeronave é investigado pela CPI das Bets, da qual Ciro Nogueira, por coincidência, faz parte. Estamos no Brasil. Então é isso, vem com a gente.
Fernando de Barros e Silva: Muito bem Ana Clara, Vamos começar com você. Tivemos a aprovação, como eu disse, na abertura, com folga no Senado, desse projeto que afrouxa ou demole as regras de licenciamento ambiental no país. Interesses variados, interesses do Alcolumbre, interesse do senador Omar Aziz, que foi um dos que ofendeu a Marina na Comissão de Infraestrutura do Senado. Eu deixo você começar por onde quiser, mas estou curioso para saber o que você está pensando do comportamento do governo Lula nesse episódio…
Ana Clara Costa: Fernando primeiro eu queria dizer que assisti aquelas cenas da Marina na Comissão de Infraestrutura foi uma experiência violenta. Assim, eu fico pensando se aqueles homens cujos salários o Brasil paga tem noção da violência dos atos deles naquela terça-feira e do efeito multiplicador que esses atos podem ter. Foi muito difícil assistir. E a situação toda é meio que de fazer a gente perder a cabeça. Para quem não viu, eu queria resumir aqui o Omar Aziz, que é senador da base do governo, ele acusa a Marina de divulgar dados falsos sobre a Amazônia. A Marina diz que ele está ofendendo ela e o microfone dela é cortado pelo presidente da comissão, o senador Marcos Rogério, que é do PL. Quando a senadora Eliziane Gama vai defender a Marina pedindo que a palavra dela não seja cortada, o Marcos Rogério sugere que a senadora não tem nem legitimidade para falar porque ela chegou depois do início da sessão e ele ainda tem a cara de pau de dizer que a Marina estava sendo tratada com todo o respeito. Ele, em seguida fala em tom de deboche, rindo mesmo, sugerindo que a Marina não tem educação. E ela responde dizendo que ela não é submissa a ele ali e ele diz para ela se pôr no seu lugar. Ela se defende e ele diz que ela só foi na comissão para tumultuar. O Plínio Valério, que é senador desse quase ex-partido chamado PSDB pede a palavra…
Celso Rocha de Barros: Ah é, Tinha um negócio desse, né? PSDB.
Fernando de Barros e Silva: Existia. Exato.
Ana Clara Costa: Lembrança remota.
Celso Rocha de Barros: Rapaz, lembra a juventude. Eu tinha cabelo quando existia PSDB.
Fernando de Barros e Silva: Exato. E o meu era preto. O PSDB, que já teve a pretensão de ensinar boas maneiras a elite e a direita brasileira, agora agoniza nas mãos desse sacripanta, como diria o Celso, no Senado.
Ana Clara Costa: Pois é, ele pede a palavra só para destratá-la. Ele nem estava na conversa e pede a palavra para dizer que não a respeita como ministra. E quando ela tenta de novo se defender, ele fala “não me provoque”. Sendo que ele que começou com os ataques completamente gratuitos. E enquanto ele fazia isso, Marcos Rogério dava um sorrisinho. Ela exige que ele se desculpe, ele se nega. Lembrando que em março ele disse, sobre a participação da Marina na CPI das ONGs, “imagine o que é tolerar a Marina 6 horas e 10 minutos sem enforcá-la”. Obviamente, ninguém pediu desculpa para Marina. Essa violência veio, como eu falei, de senadores da base e da oposição. E o líder do governo, que é o senador Jaques Wagner, do PT, foi questionado depois sobre por que ele não defendeu a Marina. E aí ele fez um deixa disso, disse que não viu nada. Depois ele disse que às vezes sobe a temperatura nesse tipo de comissão e no final ele acabou quase defendendo o Omar Aziz, dizendo que ela falou alguma coisa que o ofendeu e que o que aconteceu era calor do debate. Isso foi dito pelo líder do governo no Senado. O Lula ligou para a Marina para se solidarizar. Janja mandou mensagem. E até a Marina foi elegante e engoliu essa conduta do governo sem acusar o golpe. Numa entrevista que ela deu para o Bernardo Mello Franco no Globo, ela se limitou a dizer que o governo tinha contradições, ou seja, que essas contradições justificariam a falta de defesa naquele momento. Agora, o pano de fundo dessa conduta imperdoável desse senadores são três projetos devastadores para o meio ambiente que estão sendo colocados em prática ou apoiados por este governo. E quero reforçar que este governo, não o governo passado. Não que o governo passado não fosse a favor também, mas quem tem agenda ambiental é esse governo e quem tem a Marina no governo é esse governo.
Fernando de Barros e Silva: Projeto caro ao Omar Aziz é a BR-319.
Ana Clara Costa: Sim, todos eles são devastadores. Mas você tem a questão da exploração de petróleo na foz do rio Amazonas que a gente fala. Isso parece surreal e é uma coisa que a Marina e todos os ambientalistas são contra pelo impacto atroz que isso pode ter para o mundo, porque qualquer vazamento de óleo ali pode destruir a biodiversidade de uma forma irreparável. Mas o governo é super a favor e deu carta branca para a Petrobras fazer o que tem que ser feito. O Ibama fez várias notas técnicas contra a exploração da foz, mas a pressão foi tão forte que o último entrave regulatório do Ibama foi derrubado esse mês pelo próprio órgão. Mas mesmo que o Ibama não tivesse derrubado esse entrave e não tivesse capitulado, o Senado aprovou na semana passada o tal PL da Devastação, que é um PL que afrouxa as regras para concessão de licenciamento ambiental. Então a foz ela fica viável por duas formas hoje, seja pelo Ibama, seja por esse PL, que foi aprovado com ampla maioria de votos, como você falou. O que acontece? A Marina e o Ministério do Meio Ambiente, eles defendem a criação de uma unidade de conservação marinha ali. Então ela estava sendo cobrada nessa comissão. Na verdade, ela foi nessa comissão para ser cobrada e uma das cobranças era sobre por que ela quer fazer essa área de conservação marinha ali na foz do Amazonas, onde eles querem explorar petróleo. Eles estavam se dirigindo a ela como se ela tivesse inventado essa unidade só para prejudicar o andamento do projeto. E ela teve que se justificar dizendo que a previsão de criação dessa área existe desde que a Petrobras começou a fazer os estudos na Foz do Amazonas, que é na margem equatorial. Ela teve que se justificar por defender algo que já estava sendo gestado há mais de 20 anos. Voltando ao PL da Devastação, porque eu acho que são três projetos que estão interligados. De certa forma, é um assunto caríssimo aos senadores e deputados do norte do país, porque ele permite que eles tenham muito menos trabalho para destruir tudo por ali. E quando esse PL foi votado, o governo simplesmente não trabalhou para impedir, não fez nada e deixou a base livre para votar do jeito que quisesse.
Fernando de Barros e Silva: Norte e Centro-Oeste.
Ana Clara Costa: Verdade, Centro-Oeste é importante também.
Fernando de Barros e Silva: Os dez Estados, três do Centro-Oeste e de sete do norte… De 33 senadores, se você contar, os três do Distrito Federal, 27 votaram a favor do projeto e três contra só e três se abstiveram.
Ana Clara Costa: Pois é. E aí eu quero citar um pouco como que foi essa votação. Eu queria recomendar para vocês para vocês lerem no site Sumaúma, uma reportagem que conta os bastidores dessa votação intitulada Como o governo Lula colaborou para aprovar o PL da Devastação. O site Sumaúma é especializado na cobertura ambiental. Veja bem, olha que curioso, nessa votação só 13 senadores votaram contra e oito desses votos eram do PT, o restante eram de partidos de esquerda
Fernando de Barros e Silva: É, teve a Leila lá que votou contra.
Ana Clara Costa: Do PDT. Exato. Na verdade, assim, o Jaques Wagner, que é líder do governo e é do PT, deixou a Leila lá no plenário para se dizer contra, porque nem isso ele queria ter na conta dele, de estar lá no plenário dizendo que ele é contra. Jaques Wagner não participou daquela sessão. O Randolfe Rodrigues, que é um senador hoje do PT, que já foi da Rede, já foi aliado da Marina, ele é líder do governo no Congresso, defendeu a exploração da foz do Amazonas e preferiu se ausentar da votação. E não votou. Simplesmente um cara que era da rede que é do Amapá, que supostamente teve ao longo, pelo menos de parte da carreira política dele, a defesa do meio ambiente como pauta se ausentou de votar contra esse projeto naquela noite. São três projetos, a exploração da foz do rio Amazonas, esse PL que libera, libera todo mundo para fazer o que quiser. Na verdade, afrouxa todos os requisitos para a licença ambiental. E o terceiro projeto sobre o qual a Marina teve que prestar esclarecimentos é o asfaltamento da BR 319, que liga Porto Velho a Manaus, ou seja, Rondônia e o Amazonas. O que está em discussão é uma licença para asfaltar 20 km dessa rodovia, que tem mais de 800 quilômetros. 20 km pode parecer nada, mas são 20 km no meio do caminho, justamente na área mais preservada, no coração da floresta. E quando se tem uma perspectiva de uma obra dessa magnitude no meio da floresta, a grilagem opera a todo vapor para desmatar e depois ocupar as terras próximas da estrada para vender depois. Eles operam diante da perspectiva de rentabilidade. E o que a Marina defende não é que não haja asfalto nesse trecho, mas que haja governança, que haja garantia de que essa grilagem vai ser combatida e de que vai ter fiscalização, de que não vai ter desmatamento nessas áreas. E aí, sabe o que que o Omar Aziz fala para ela? A senhora está atrapalhando o desenvolvimento no nosso país, tem mais de 5000 obras paradas por causa dessa conversinha de governança nhenhenhém.
Fernando de Barros e Silva: E ele falou que quer passear. “A senhora passeia na Avenida Paulista, eu quero passear na BR-319”. O nível realmente é constrangedor.
Ana Clara Costa: E essa comoção em relação ao que aconteceu com a Marina dificilmente vai impedir que esses projetos se viabilizem. O que pode acontecer, segundo as pessoas com quem eu conversei, é que pode haver um certo constrangimento em relação ao PL da devastação, mas não constrangimento para impedir que ele seja aprovado porque ele foi aprovado no Senado. Só que, como ele foi modificado, ele tem que voltar para a Câmara agora. Só o que acontece, na próxima semana a gente tem a Semana do Meio Ambiente. Então, embora haja muita gente lá no Congresso que não ligue para isso, ficaria muito feio para o Hugo Motta pautar isso justamente na Semana do Meio Ambiente. Então, o que eles estão esperando é que toda essa comoção atrase a votação desse projeto na Câmara e não mude nada, entendeu? Então, tudo isso que a Marina passou ali, na verdade é só uma garantia de algumas semanas a mais sem esse projeto valendo. Agora, o que eu acho curioso é como os ambientalistas chamam esse PL. “A mãe de todas as boiadas”, ou seja, a mãe de todas as boiadas está sendo aprovada no governo Lula no ano da COP, junto com dois dos projetos mais nocivos para a Amazônia que a…
Fernando de Barros e Silva: O que provavelmente vai acontecer é a Câmara aprovar o projeto, o Lula vetar alguns pontos e daí o Congresso derruba o veto do Lula. Esse é o roteiro mais previsível.
Ana Clara Costa: É possível para ele, pelo menos fingir, que foi contra alguma coisa. Mas fica difícil porque o Lula já disse publicamente que o Ibama faz lengalenga na aprovação das coisas. Ele defende muito, irrestritamente, o ministro dele, Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia.
Fernando de Barros e Silva: Ele está no fio da navalha porque, ao mesmo tempo, ele tem um compromisso, tem a COP, ele quer fazer da COP uma vitrine para o mundo do compromisso ambiental do Brasil, etc. Ele está se equilibrando de maneira bem temerária. Na prática, o que está prevalecendo é isso que você falou. Eu não acho que seja um jogo de cena dele só, mas ele está, como você falou na abertura?
Ana Clara Costa: A Marina diz que são as contradições do governo.
Fernando de Barros e Silva: É isso. Celso, e as contradições do Foro de Teresina?
Celso Rocha de Barros: Vão bem, obrigado.
Fernando de Barros e Silva: O que a gente ta achando desse episódio?
Celso Rocha de Barros: Três palhaços lá foram lá xingar a Marina, basicamente. Mas assim, a diferença de estatura deles é absolutamente bizarra. Marina Silva, uma das maiores lideranças do mundo, é uma das pessoas mais importantes do mundo nas últimas décadas. Se vocês pegarem, por exemplo, os dois primeiros governos do Lula, teve várias realizações importantes. As duas principais seriam a queda da pobreza e a queda do desmatamento. Só que a queda do desmatamento é um feito de políticas públicas incomparavelmente maior pelo seguinte: a queda da pobreza contou com a ajuda da alta das commodities. A alta das commodities fez a tendência para desmatamento aumentar porque aumentou o preço da comida. A Terra passou a ser mais valorizada. Tanto que, no comecinho do governo Lula, o desmatamento aumenta. E é por isso que a Marina faz o plano dela para a Amazônia, que faz o desmatamento desabar. E, aliás, vale dizer, nesse novo governo também a Marina conseguiu de novo derrubar significativamente os níveis de desmatamento e a gente continua sendo beneficiado por esse trabalho da Marina amplamente. Assim, a Marina trabalhou não só pela saúde das pessoas, pelo crescimento econômico do mundo, como muito pouca gente. A Marina está aí para garantir que ainda exista PIB daqui a 50 anos ou daqui a 100 anos. Não é só jogar uma zero vírgulazinha de PIB ali porque você asfaltou uma estrada não sei da onde. Essas fazendas de soja, tudo que os caras estão dizendo, esses garimpos todos. E aí é bom lembrar o senador Plínio Valério, que é um dos caras que foi lá xingar a Marina. Segundo matéria da Agência Pública de 28 de novembro de 2023, ele já apresentou o pedido de pesquisa para exploração de ouro em áreas preservadas da Amazônia, em uma região marcada pela presença de povos indígenas. Então, todo esse pessoal que está lá chegando, está chegando por dinheiro. Eles representam os piores interesses possíveis e eles representam uma elite altamente predatória que a Amazônia teve esses anos todos, que finalmente teve a chance de alguma maneira se vingar do trabalho que a Marina fez ao longo de sua vida, de representar os interesses do povo da Amazônia, que não tem interesse nenhum em perder o seu patrimônio natural. Foi uma sessão de terapia para um bando de velho inútil que representa a elite da Amazônia, entendeu? Poder xingar a mulher negra que veio de baixo e se tornou uma liderança internacional, o que evidentemente causa neles um ressentimento imenso há décadas. Bom, o Marcos Rogério e o Plínio Valério são, enfim, esses caras dessa direita bolsonarista que não tem muito o que se fazer com relação a eles. Eles estão ali para defender a destruição da Amazônia. Esse é o emprego deles. Não adianta tentar explicar para ele que isso é errado, porque se eles entenderem isso, eles estão desempregados. Emprego deles é trabalhar por essa fraude, por esse estelionato. Agora causou espécie o caso do Omar Aziz, em tese governista. E o Omar Aziz teve um desempenho razoável na condução da CPI da Pandemia. Não sei se vocês se lembram disso. E agora ele resolveu ir para o Congresso para fazer uma autocrítica da única coisa boa que ele fez na vida, para não ter essa mancha no seu currículo de ter feito alguma coisa que presta, entendeu? Então, o Omar Aziz aproveitou essa ida ao do Congresso para culpar a Marina Silva, olha só, pelas mortes do pessoal em Manaus sem oxigênio durante a pandemia.
Fernando de Barros e Silva: Isso foi particularmente baixo, viu?
Celso Rocha de Barros: Cara, é inacreditável. Basicamente o que o Omar Aziz fez ali foi o seguinte pedir desculpa para as pessoas que mataram essas pessoas durante a pandemia. Ele pediu desculpa para os assassinos, jogando a culpa na Marina de um crime que ele sabe quem cometeu, porque durante a CPI da pandemia ele disse claramente “nós queríamos oxigênio e eles mandaram ivermectina”, aquele remédio para piolho que o Bolsonaro dizia que curava a Covid. Uma pausa para pensar nessa frase. Só um segundo. Vamos lá, vamos refletir do fato que isso existiu. O Presidente da República dizia que remédio para piolho curava Covid. Mesmo se você acreditar no papo furado do Omar Aziz de que não foi oxigênio para lá porque não tinha asfalto na estrada, o que é absolutamente bizarro. A estrada liga Manaus a Porto Velho. O oxigênio não vinha de Porto Velho, então isso não faz o menor sentido.
Fernando de Barros e Silva: E a Marina deixou de ser ministra em 2008.
Celso Rocha de Barros: Isso, a Marina deixou de ser ministra em 2008, mas também vamos esquecer isso por um minuto. Se tivesse estrada, se o problema fosse esse. O próprio Omar Aziz disse “nós queremos oxigênio, eles mandaram ivermectina”. Ou seja, a estrada ia ser usada para mandar remédio para piolho pelo governo Bolsonaro. E isso se eles acertassem para onde que é para mandar… Porque é sempre bom lembrar que o Pazuello confundiu as siglas de Amazonas e Amapá e mandou para o Amapá a vacina que era para ir para o Amazonas. Então o que o Omar Aziz quer da vida? Ele quer que a Marina Silva não só asfalta estrada, mas ainda por cima sai andando com a porra da estrada em cima da cabeça até eles acharem onde é que exatamente fica o Amazonas, onde é que fica o Amapá? É inacreditável a falta de vergonha desses caras assim, esse episódio, assim a política brasileira. Muito deprimente. Mas essa aí realmente se destacou pelo grau de vileza, baixeza que mesmo para o padrão atual, é demais.
Ana Clara Costa: Agora, o que é triste é que isso dá voto… O Plínio Valério teve mais de 800 mil votos como senador no Amazonas.
Celso Rocha de Barros: Pois é.
Ana Clara Costa: Dos principais candidatos ao Senado, ou pré-candidatos, os principais nomes são nomes da direita ali. O que é lamentável é que eles de fato representam uma parte muito grande da sociedade daquele estado, né?
Fernando de Barros e Silva: Eu concordo com isso. Acho que talvez eles não contassem com a altivez da Marina no enfrentamento deles e ela de certa forma emparedou eles perante a opinião pública. Mas no eleitorado deles, eles vão tirar proveito desse episódio ainda. Cortes de redes sociais e etc.
Celso Rocha de Barros: É bem possível.
Fernando de Barros e Silva: Falamos do Jaques Wagner, vamos falar do Rui Costa agora, dois ex-governadores da Bahia.
Ana Clara Costa: Exato. Por que eu quero falar do Rui Costa? Porque, bom, ele é o ministro da Casa Civil, para quem não sabe. Dentro do governo, ele é um dos maiores defensores dessa agenda de devastação. A gente falou aqui no Foro quando teve enchente no Rio Grande do Sul, que a Marina tinha elaborado um plano nacional de enfrentamento aos riscos climáticos extremos, isso tinha sido entregue para Casa Civil até mesmo antes de acontecer aquela tragédia. É o plano que contempla a criação da Autoridade Climática, o plano que contempla medidas de prevenção de desastres e de todo o tipo de desastres, seja por enchentes, seja por queimada. E a gente teve no ano passado essa enchente histórica e uma queimada histórica também. O Rio de Janeiro teve queimada, coisa que é muito incomum. Esse plano está na gaveta do Rui Costa desde o início do ano passado. Ninguém mexe com ele. Ele não foi avaliado, ele não foi colocado em prática. Não há orçamento para ele. Não há vontade política para que se crie de fato a Autoridade Climática. Está tudo do mesmo jeito, embora o cenário do clima tenha piorado muito.
Fernando de Barros e Silva: Perfeito. A gente vai encerrando então, o primeiro bloco do programa por aqui. Vamos fazer um rápido intervalo. Na volta, vamos falar de economia, de Haddad, de IOF. Já voltamos.
Fernando de Barros e Silva: Muito bem, Estamos de volta. Celso. Vou começar com você. O que deveria ser uma boa notícia para o governo, o anúncio de uma rodada de cortes no orçamento, acabou se transformando numa dor de cabeça em função do aumento do IOF e do recuo depois da reação negativa imediata do Mercado. Conta para nós.
Celso Rocha de Barros: Pois é. Mais uma vez o governo tinha um negócio que o mercado gostou para falar, um corte de gastos grande, para dizer, e o efeito acabou meio bagunçado por causa de alguma coisa que foi anunciado ao mesmo tempo. Sendo que aqui eu concordo com o que o Haddad disse na entrevista dele para o Globo aí, que todo mundo repercutiu. Ele disse o que aconteceu em dezembro com a questão do Imposto de Renda não era justificável porque o projeto está redondo do ponto de vista fiscal. Mas o que aconteceu agora é justificável. Eu concordo com isso. Aquilo que aconteceu ano passado foi errado. O mercado estava errado. O projeto de imposto de renda não aumentou rombo fiscal nenhum. Mas agora o mercado tem uma certa razão, como o próprio Haddad reconheceu. É por isso que eles voltaram atrás. A grande questão, naturalmente, é bom, meu amigo, porque não reconheceu antes de anunciar? Vamos tentar entender exatamente o que aconteceu. O IOF é o Imposto sobre Operações Financeiras. Se você já comprou dólar, por exemplo, se já comprou alguma coisa no exterior, você já pagou o IOF. Também incide sobre remessas de grana para fora do país e sobre algumas operações de crédito para empresas e coisas assim. Quais as vantagens de aumentar o IOF? A primeira vantagem é que não tem mais muito o que fazer. O governo já anunciou esse contingenciamento de 30 bilhões. Quer dizer, ele suspendeu 30 bilhões de gastos para esse ano. Vai ficar parado ali até ver se dá para fazer. O governo já mandou para o Congresso a reforma do Imposto de Renda e o governo, mais ou menos, já decidiu, provavelmente com uma certa razão, que não tem condições políticas para fazer reforma de benefício social que seria aquelas coisas de desvincular a benefício social do salário mínimo, desvincular o mínimo da Previdência, alguma coisa dessa. O governo não quer fazer isso. E assim como eu já disse aqui em outras oportunidades, ajuste fiscal grande ou é imposto sobre rico ou é benefício social. São as coisas que envolvem valores realmente substantivos. E o Congresso barrou várias coisas que o governo tentou fazer, como, por exemplo, cortar aqueles incentivos fiscais todos para as empresas, muitos dos quais, aliás, foram dados no governo Dilma, sempre bom lembrar. Mas o Haddad tentou acabar com tudo isso. Está tendo muita dificuldade e acabando aos poucos, de modo que assim, de fato, o arsenal do governo tem cada vez menos coisas para você usar para segurar o déficit público.
Ana Clara Costa: Hoje não tem nada.
Celso Rocha de Barros: Exato, tá bem complicado mesmo. Então, nesse contexto, por que você aumentou o IOF? Porque era uma das coisas que tinha sobrado para fazer. Inclusive, se vocês pegarem, por exemplo, a entrevista do economista Bernardo Guimarães no podcast O assunto da Natureza nele é interessante. O Bernardo é um cara bem liberal e tal, e um cara intelectualmente honesto e ele mesmo diz assim, cara, no mundo ideal dele não teria esse imposto de IOF, mas é uma das coisas que sobrou para fazer. Não tem mais muitas opções para você fazer alguma coisa e alguma coisa tem que ser feita. O segundo ponto a favor de aumentar o IOF é que não é uma coisa que tem tanto impacto direto para a maioria da população. A maioria das pessoas não compra dólar ou não toma esse tipo de crédito aí que vai ser majorado o imposto, mas tem impacto indireto porque influencia certas decisões de investimento das empresas, etc. Mas de qualquer maneira, eu imagino que o governo tivesse procurando alguma coisa que não batesse no bolso diretamente das pessoas. Imagino que tenha tido esse cálculo político. E terceiro, uma coisa que recebeu um pouco menos de atenção do que deveria. Em tese, o aumento do IOF poderia ajudar a derrubar o juros mais rápido. Porque vocês já devem ter visto gente dizendo “pô, mas essa medida do IOF vai dificultar o crédito”, por exemplo, pode desacelerar a concessão de crédito. Muita gente acha que isso seria bom. Vocês estão vendo aí as manchetes do jornal? A economia continua crescendo bem, o que, aliás, mais uma vez, foi o contrário do que o mercado tinha previsto. Toda rodada que vem de previsão do mercado está dando errado. O governo está performando melhor do que o mercado previa. Só que esse crescimento contínuo bota uma certa pressão sobre o Banco Central. O Banco Central gostaria que aquela taxa de juros, aquela alta grande que eles fizeram, já tivesse desacelerado um pouco isso para desacelerar a inflação. Então, em tese, você desacelerar a economia pelo aumento do IOF diminui um pouco o trabalho do Banco Central. O Banco Central fica mais livre para não ficar aumentando a taxa de juros. Então, se você faz um pouco do trabalho que normalmente quem faz é a taxa Selic, sendo que a taxa Selic aumenta para todo mundo. Eu imagino que essas tenham sido as razões que levaram o governo a propor o aumento do IOF. O problema é que o IOF não é um imposto que é feito só para você arrecadar dinheiro. Ele é um imposto regulatório também. Ele é mais ou menos um quebra mola que você bota na velocidade do mercado financeiro. Se você achar que está indo rápido demais. Por exemplo, se você acha que está tendo instabilidade na entrada e saída de dólar do Brasil, tá tendo um surto de especulação financeira, você vai aumenta IOF e bota um quebra molas para diminuir a velocidade disso tudo, entendeu? Então é um instrumento para você regular certos aspectos importantes da economia. No auge do liberalismo ali, nos anos 90 e tal, fazer uma coisa dessas, colocar algum limite a livre movimentação de capitais, era visto como uma heresia suprema. Se você falasse que ia fazer controle de capitais e falasse que ia estatizar o sistema bancário, os caras achavam que era a mesma coisa. Depois da crise de 2008, mais ou menos, começou a ter toda uma série de estudos e análises econômicas, mostrando que, em alguns contextos, o controle de capital pode fazer um certo sentido. Mas é um negócio que tem que ser usado com muito cuidado. Por que? Porque se você botar dificuldade para o cara tirar dinheiro do Brasil, diminui a vontade dele de entrar. Então, por exemplo, se é um investidor estrangeiro, você quer botar grana no Brasil. Se te disserem que para tirar você vai ter que pagar um imposto gigante, você vai ter que pensar duas vezes antes de botar. Você vai pensar “bom, então o lucro vai ter que ser uma coisa muito grande para valer a pena”, entendeu? Então é uma coisa para ser feita com muito cuidado. Analisando bem quando é que é para você fazer isso ou não. E claramente essa não era a intenção do governo. O governo não queria estabelecer controle de capitais. Agora, se você aumenta o imposto para o cara que manda dinheiro para fora, não interessa que você estava querendo fazer, o governo certamente só estava querendo arrecadar dinheiro. Mas acaba que você colocou alguma espécie de controle de capitais ou pelo menos sinalizou que está disposto a fazer isso. E isso o mercado interpretou muito mal. E antes que isso virasse uma crise como a do final do ano passado, o governo voltou atrás e fez bem de voltar atrás. Voltar atrás foi certo. Errado foi fazer. As vezes o governo parece não entender o quão ruim é a situação da economia internacional atual. O Lula governou dois mandatos anteriores com a economia muito favorável a ele e agora a situação é praticamente o contrário. Por exemplo, o Trump cada dia muda lá as tarifas, cada dia dá uma surtada maior. William Bremer, da consultoria Eurasia, está falando que o principal fator de instabilidade geopolítica do mundo atualmente é os Estados Unidos. Num quadro de instabilidade total, você de repente dá a impressão de que você pode botar controle de capital. É perigoso, entendeu? Não é um negócio para você fazer com leveza. O governo precisa se conscientizar um pouco mais que o mundo está muito hostil, o ambiente econômico internacional, como se não se via em muito tempo. E, como eu disse, voltar atrás faz um certo sentido. E o próprio Haddad diz que “não a reação dessa vez foi justificada”. Ele fez questão de dizer: “não, só para deixar claro, o problema que isso sinalizava. Há coisas que o governo não pensa em fazer, como é o caso de controle de capitais. Mas um certo estrago já está feito”, porque, naturalmente, a oposição vai fazer a festa com essas idas e vindas que os caras fizeram. E agora se tem um tema que eu acho que vai unificar esses blocos todos do programa de hoje é quem tem dinheiro, tem amigo no Congresso. Então, naturalmente, o pessoal do empresariado já baixou no Congresso para fazer novos amigos e conseguir que o pessoal tente derrubar o aumento do IOF como um todo, porque na verdade, o governo só voltou atrás de um negócio específico. E se isso acontecer é um problemão, porque, como eu disse, não tem muito lugar de onde tirar dinheiro atualmente. Inclusive, se o governo começar a ameaçar não cumprir as metas lá o arcabouço fiscal, trava inclusive as emendas dos parlamentares, que eu imagino que é algo que eles não queiram. Mas as emendas parlamentares, se não me engano, atualmente estão em 50 bilhões, meu amigo. É o tamanho desse negócio. Então tá todo mundo tentando fazer ajuste fiscal enquanto o Congresso ganha 50 bilhões para liberar de emendas. E aí esses caras que estão gastando 50 bilhões de emendas agora estão lançando documento falando “gente, o governo tem que fazer a sua parte, tem que acabar com o desperdício. Tem que ser como a dona de casa que cuida do orçamento da sua família”. E enquanto isso, o Congresso tá lá, roubando o dinheiro da latinha da dona de casa para comprar cocaína na rua, entendeu? A situação é bastante difícil desse ponto de vista, porque tem uma chance do Congresso amenizar muito esse projeto de aumento do IOF. Além das coisas que estava errado, o governo já consertou e, sinceramente, eu não sei da onde o governo vai tirar dinheiro daí em diante.
Fernando de Barros e Silva: O fato é que só o movimento de recuo já é um problema. A pessoa não entende o que está em jogo, mas ela entende que o governo fez uma coisa e recuou. Passa uma mensagem de falta de convicção, de falta de rumo, de bateção de cabeça etc.
Celso Rocha de Barros: Exato.
Fernando de Barros e Silva: Ana Clara, eu quero te ouvir depois dessa aula do Casca de Bala.
Ana Clara Costa: Primeiro, eu queria qualificar o quanto um contingenciamento ou bloqueio de despesas a gente teve o contingenciamento de 20 bilhões e o bloqueio de 10 bilhões. Enfim, são 31 bilhões ali que não vão chegar onde eles deveriam, por diferentes razões. E essa questão técnica da nomenclatura, cês procurem no Google. Mas a questão é a seguinte: contingenciamento nunca é uma boa notícia, mesmo para o mercado, que costuma gostar de cortes de gastos, porque o contingenciamento geralmente é um corte de despesas de custeio da máquina. Ou seja, esse corte meio emergencial sabe, de luz, água, economia, com telefone com diária, serviços de manutenção. Não é um corte estrutural em nenhuma despesa. É um corte meio que emergencial e é um corte que todos os governos fazem quando eles veem que eles não vão conseguir cumprir a meta fiscal. E foi o que aconteceu dessa vez. Mas eu quero colocar em perspectiva. Por exemplo, no primeiro governo Lula, ele fez um corte de gasto de 4 bilhões. Era um corte residual perto do que a gente está vendo agora. No governo Dilma 2015, primeiro ano do segundo mandato, ela fez um corte de 70 bilhões, que foi o maior corte de gastos da história e você só corta o custeio. Ou seja, você vai cortar a conta de luz do Ministério da Saúde quando realmente você não tem mais nada para fazer. E na verdade, a questão é que eles precisam. Existem relatórios de política fiscal que o Ministério da Fazenda e o Ministério do Planejamento precisam elaborar periodicamente e que precisam dar conta de como estão as contas públicas. E eles estavam elaborando um relatório em que eles iam mostrar que não tinha condição nenhuma de cumprir a meta. Então, por isso, o corte desse jeito. Eles precisariam cortar mais 20 bilhões. Só que se você corta 31 bilhões já é difícil, porque você vai cortar muita coisa, inviabilizar determinados órgãos, inclusive, mais 20 bilhões você tem um shutdown do governo, que é o fato de você não conseguir funcionar. Você tem prédios que não vão poder ser habitados porque não tem a menor condição. Você vai ter que romper contrato com empresa de segurança, com empresa de limpeza, etc. Não dá para funcionar. Então não dava para cortar 51 bilhões do custeio. E aí eles precisavam de algum tipo de receita para cumprir a meta e cumprir as outras regras do arcabouço. Porque o arcabouço fiscal, que é essa nova âncora fiscal que foi criada no governo Lula para substituir o teto de gasto. O arcabouço tem várias regras. Não é só o superávit, tem uma regra de crescimento da despesa e o mercado olha para isso. Então, para cumprir essas regras, você precisava cortar mais esses 20 e eles não tinham de onde cortar. Então, como você consegue aumentar a receita de uma forma rápida? IOF ou CPMF? Sei lá. Esses impostos que são regulatórios, que são impostos geralmente ferramentas de ajuste e não impostos permanentes. E o IOF acabou sendo escolhido. E aí, conforme o ano de 2025 foi avançando, a gente está quase em junho. Eles foram vendo que a arrecadação não estava crescendo no ritmo esperado. Boa parte da arrecadação no ano passado veio de receitas extraordinárias. Eles chamam de receita extraordinária aquele tipo de arrecadação que não vai se repetir ou que tende a não se repetir: processos judiciais, enfim, concessões e tal. De fato, não se repetiram esse ano, então as receitas vieram aquém do que eles esperavam. E aí, fazer como o Celso falou, um ajuste estrutural que mexa na vinculação do salário mínimo, que mexa na Previdência, no BPC, enfim, benefícios sociais. Isso não é uma opção para o Lula. Então, se o corte dessas despesas sociais está proibido, se a arrecadação está insuficiente, se o aumento da tributação sobre os mais ricos ainda está no plano da utopia. Se o Haddad não conseguiu remunerar a folha de pagamentos como ele queria, porque o lobby da desoneração no Congresso é super forte… O que você pode fazer num espaço tão curto de tempo? esse imposto sobre transações. E eu acho que a gente tem que trazer alguns aspectos políticos aqui para essa conversa. E o primeiro deles é uma certa percepção de que o Lula já mandou o Haddad para o sacrifício, já que no retrato de hoje ele não vai ser o candidato à presidência em 2026. O Lula não está demonstrando muita preocupação em poupar o Haddad do ônus de apresentar projetos impopulares. E tudo bem. O Celso tem razão. Não é um projeto que vai atingir o grosso da população brasileira. Mas, bem ou mal, para a opinião pública, só há críticas e aumento de imposto. E também está começando a se desenhar dentro do PT quem serão os principais nomes para concorrer nos estados no ano que vem. E o Haddad é cotado a dois cargos dificílimos de ganhar, que é o governo do Estado de São Paulo e o Senado em São Paulo. Se o Tarcísio for candidato ao governo de São Paulo, teria que acontecer uma hecatombe para ele perder. Porque, a despeito de tudo o que está acontecendo na segurança pública, enfim, a aprovação dele é super alta. O Haddad disputar esse cargo de novo, é considerado um sacrifício, dadas as altíssimas chances de derrota. E é uma derrota que pode se converter em humilhação, caso seja por uma diferença muito grande.
Fernando de Barros e Silva: Exato. O PT nunca ganhou o governo de São Paulo. Não vai ser no ano que vem que vai ganhar.
Ana Clara Costa: Exato.
Fernando de Barros e Silva: Ainda não entramos no bloco das bets, mas eu aposto. Isso aí é uma aposta fácil. O PT não vai ganhar o governo de São Paulo ano que vem.
Ana Clara Costa: Pois é. E o Senado também é um jogo complicado, porque a maior parte dos possíveis candidatos em São Paulo é de direita ou de extrema direita. E a gente não pode esquecer que o astronauta Marcos Pontes se elegeu senador em São Paulo em 2022, com quase 50% dos votos. Ainda nessa seara política, esses últimos anúncios expuseram algumas divergências entre A Fazenda e o Banco Central, que hoje é presidido pelo Gabriel Galípolo, que já foi inclusive secretário executivo do Haddad. O Galípolo era contra o IOF. Ele e o Haddad tinham falado sobre isso no final do ano passado, mas a coisa acabou não sendo feita no final do ano passado e acabou sendo feita agora. O Galípolo sabia por alto que eles queriam fazer isso, mas não sabia os detalhes. E quando esse aumento do IOF foi anunciado, na quinta feira da semana passada, o Dario Durigan, que é o atual secretário executivo do Haddad, sinalizou que o BC não só sabia como concordava com essas medidas. E aí foi um Deus nos acuda. O Galípoloficou super irritado e o Haddad teve que fazer uma nota desmentindo o Secretário. E foi o Galípoloque também conversou com o Lula na noite do anúncio, dizendo que especificamente o IOF sobre as remessas de fundos ao exterior ia causar um pandemônio no câmbio. E em parte, foi essa conversa que motivou o recuo do governo naquela noite. Justamente esse IOF sobre os fundos foi revogado. Então assim, foi revogada a partir de uma divergência do Galípolo com Haddad. Bom, como foi um decreto, a questão do IOF, o Congresso pode derrubar esse decreto. E a gente sabe que esse Congresso é extremamente receptivo às demandas do mercado financeiro, que obviamente é super crítico a esse IOF. A Fazenda primeiro mandou recados de que, se não for aprovado pelo Congresso, congelamento vai recair sobre as emendas parlamentares que até agora não foram muito atingidas, né? A gente falou. Depois ele teve uma conversa com o Davi Alcolumbre com o Motta explicando o tamanho do problema. Ou seja, não tem de onde tirar, entendeu? O fato é esse. E aí ele saiu da conversa num tom mais otimista. Só que isso não durou uma noite. Na manhã seguinte, Hugo Motta publicou uma nota chamando esse decreto de gambiarra e dizendo que tinha pouquíssima chance de passar. Então, os próximos dias vão ser de briga, com o agravante de que hoje não há dinheiro no orçamento para comprar a boa vontade da base sobre isso.
Fernando de Barros e Silva: Eu vou encerrar, então, o segundo bloco do programa por aqui. Nós vamos fazer um rápido intervalo e na volta nós vamos para o maravilhoso mundo das bets e do senador Ciro Nogueira, com a participação do João Batista. Já voltamos.
Fernando de Barros e Silva: Muito bem. Estamos de volta E agora com o João Batista. Você que tem feito matérias sobre esse maravilhoso mundo das bets, a mais recente delas sobre a participação do senador Ciro Nogueira, que como no filme, matou a família e foi ao cinema. Ele filiou o Derrite e foi a Mônaco. Só que foi a Mônaco no jatinho de um empresário que está sendo investigado pela CPI das Bets, da qual ele, Ciro Nogueira, é membro. Enfim, Brasil Explícito. Brasil em Ação. Passo a palavra a você. Parabéns pela matéria, em primeiro lugar.
João Batista Jr: Obrigado, Fernando. Na quarta feira da semana passada, eu fui almoçar com uma fonte em São Paulo e ele cravou o Ciro Nogueira, o tigrão do Senado vai no avião do tigrinho das bets para Mônaco. Eu falei Isso não é possível.
Ana Clara Costa: O Tigrão do Senado, ele é conhecido como isso?
João Batista Jr: Ele estava ali no dia seguinte. Vamos lá. O Ciro Nogueira é uma pessoa extremamente importante, relevante dentro da política do país.
Fernando de Barros e Silva: O ex-ministro da Casa Civil do Bolsonaro.
João Batista Jr: E ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro. Exatamente. E no dia seguinte ele seria o anfitrião de uma grande festa em São Paulo para o evento de filiação do Guilherme Derrite. Ou seja, o Secretário de Segurança Pública do Tarcísio sairia do PL para voltar para o Progressistas. Então, nesse evento, que foi muito bem estruturado, você chegava, tinha um monte de telão de LED, QR Code na parede. Quem quisesse fotografar o QR Code, automaticamente faria parte da linha de transmissão de notícias do Derrite. Esquema bem feito. Ali no palco estava a realeza da direita. Então estava o Ciro Nogueira, anfitrião, ele é o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, do PL, Antônio Rueda, do União Brasil, Renato Abreu, do Podemos. Tinham outros prefeitos e senadores, deputados, como, por exemplo, Esperidião Amin, d,e Santa Catarina eu até pensei é um holograma? Ele está vivo? Muito menos pela idade, mas pelo que ele representa de ideia.
Ana Clara Costa: O Kassab também.
João Batista Jr: E Gilberto Kassab, secretário de Tarcísio.
Fernando de Barros e Silva: Quem não estava era a família Bolsonaro…
João Batista Jr: Sequer foi citada. Eles foram bastante desprestigiados, desaplaudidos ali. O Tarcísio de Freitas, o governador de São Paulo, foi o último a chegar. Aí o Tarcísio, enquanto discursava, o Ciro mexendo no celular, olhando o relógio. Aquela não era a pauta principal dele, embora ele fosse o anfitrião daquele evento. Pois bem, terminaram as tratativas ali e assinou foto. Ele pega um carro e vai para um heliponto perto ali daquela região da Vila Olímpia. Se desloca até o Catarina. Catarina vem a ser um aeroporto de jatos privados que fica na cidade de São Roque. Lá, já estava o empresário Fernando Oliveira Lima, Fernando Oliveira Lima. Ele é conhecido no mercado como Fernandin, não Fernandinho, Fernandin OIG. OIG, porque essas são as iniciais da empresa dele, One Internet Group. Vamos lá. Quem é Fernandinho? Fernandinho é um cara de 34 anos de idade que começou a vida pública dele como agenciador do Whindersson Nunes, que por sua vez também é do Piauí. Então Ciro, do Piauí, Fernandinho do Piauí e Whindersson, do Piauí. Ele começa como empresário de um youtuber influenciador, mas a vida dele deu uma guinada logo depois.
Ana Clara Costa: Ô João e ele começou quando o Whindersson não era muito famoso, né não? Ou seja, ele era o assessor na época das vacas magras.
João Batista Jr: Isso.
Fernando de Barros e Silva: Eu fico vendo a biografia dessa gente e vendo que eu estou desperdiçando o meu nome. Fernandinho aqui não consegue fazer dinheiro. Virou jornalista.
João Batista Jr: E, olha, dinheiro ele sabe fazer. Esse cara ele é apontado por ter sido o operador do jogo Fortune Tiger, que a gente chama popularmente de Tigrinho. O tigrinho ele é um dos mais populares. Então assim existe a bet A, B, C, D. Todas elas, ou quase todas elas, tem diversos games no cardápio, tem games de balão, tem games de vários estímulos visuais e dentre eles tem o Tigrinho. Na época em que tudo era ilegal, o Tigrinho, o Fortune Tiger é um game que está sediado em Malta, Malta que tem várias empresas de bets que também têm CNPJ, digamos assim, cadastrados lá. Ele precisava quando tava tudo legal no Brasil, ter uma versão em português, ter um cadastro para ser operado por essas bets que estavam operando aqui. Então ele é investigado na CPI das bets por ser o operador do tigrinho no Brasil. Ele nega, mas o que é fato? Ele abriu uma bet. Uma vez que o governo federal iniciou a outorga pela qual tinha que pagar 30 milhões de reais, mais uma série de tratativas ali, ele abriu a bet dele, então hoje ele é dono de uma bet. Mas o fato é ele tem um avião Golf Stream avaliado em 70 milhões de dólares. Então esse homem de 34 anos, que começou como empresário de um youtuber, tem esse avião de 70 milhões de dólares. Com esse avião, Ciro Nogueira foi até Mônaco. Chegando em Mônaco, eles ficaram num iate alugado pelo Fernandin, de 80 metros, que tinha piscina, aquela coisa bastante ostentação, atracados na Marina de Mônaco para assistirem ao GP de Mônaco. Então a agenda com o Derrite era supérflua comparado ao que ele faria depois. No sábado de manhã, a gente publicou no site da Piauí uma matéria chamada “Nas asas do Tigrinho” contando dessa excursão do Círio para Mônaco. Talvez a champanhe tenha azedado porque ficou bastante constrangedor um senador que compõe a CPI das Bets viajar com Fernandin. Agora tem uma coisa que é interessante o Fernandin, ele esteve na CPI das Bets em novembro do ano passado. Na ocasião, a senadora Soraya Thronicke, até fez uma piada, foi mais difícil de intimá-lo do que encontrar o Papa Francisco, à época ainda neste plano terreno. O Ciro que estava ali presente, saiu em defesa. “Não, senadora, é um grande amigo meu. Ele mora no meu estado. É muito fácil intimá-lo, encontrá-lo”, mas naquela condição ele estava como testemunha. Ocorre que ele falou algumas coisas que foi entendida pelos senadores como inconsistentes, e eles tentaram novamente intimá-lo, e ele mais uma vez não foi encontrado. Então ele passou, ele mudou de status de testemunha para investigado. O Ciro viajou com um investigado quando Ciro volta de Mônaco. Esse assunto cresce bastante pelo escárnio que é, né? Eu acho que não tem outra palavra que a gente possa definir. E aí se soma a uma outra presença ilustre na CPI, que é da Virgínia, da influenciadora Virgínia. Ela foi chamada recentemente na CPI das Bets. Aquilo foi uma coisa bastante deplorável. Pegou muito mal para os senadores num primeiro momento. Cleitinho, senador por Minas pedindo selfie com ela. Soraya, que é relatora da CPI, falando “eu te sigo e você me segue de voltaE. Você sabe que eu conversei com um advogado ontem, criminal, e ele falou uma coisa que as CPIs são criadas não para dar em alguma coisa. A gente, enquanto sociedade civil, fala ah, vai dar em pizza. Na verdade, elas dão muito certo. Essas CPIs são criadas para criar um problema, digamos assim, e então os congressistas oferecerem e venderem a resolução. Impedir que a pessoa ou dificultar seja escalada para participar ali, para que ela tenha acesso a documentos e informações privilegiadas. Então elas dão em pizza para gente, sociedade civil, mas para os políticos elas dão muito certo, essa é a verdade. Mas voltando a Virgínia, num primeiro momento, a presença dela na CPI foi vista como uma catástrofe, porque ela engoliu, digamos assim, os senadores que estavam ali querendo um naco da fama dela, querendo segui-la, seguir de volta, postar foto com ela. Queriam um pouco da projeção digital que ela tem. No entanto, nos dias que se seguiram, com os cortes amplamente disseminados nas redes, ela foi perdendo muitos seguidores e ficou nítido o escárnio e o deboche com o qual ela tratou um assunto tão sério. Uma mulher que tem 53 milhões de seguidores falar que não sabe do problema de saúde pública e de endividamento da população. A gente tem que considerar que essa mulher liga o lé com cré e, portanto, ela sabe do que se trata. Então não dá para ela ser tão cínica assim. Aquilo foi resultando em coisas muito negativas para ela. Então o Ciro viajando nas asas do tigrinho mais a presença da Virgínia na CPI, fez com que o assunto ganhasse um vulto ainda maior. Então, nesta semana, foi votado no Senado um projeto para impedir com que influenciadores, atletas, artistas possam fazer propaganda de bets. Tem algumas regras de horário, quer dizer, eles não podem fazer propaganda como um todo.
Fernando de Barros e Silva: Eu vou por uma emenda. Impediu o Galvão Bueno também, que eu não suporto ver o Galvão Bueno fazendo aquelas coisas. O cara já é milionário, ganha dinheiro de tudo quanto é jeito. É ou não é?
João Batista Jr: Pois é. Total. Tem uma coisa engraçada, Fernando, que o texto abre uma pequena exceção para ex-atletas, atletas que há cinco anos não estão jogando podem fazer propaganda. Os outros não. Eu nem sei se Neymar não qualifica nessa, porque faz tanto tempo que não joga né?
Celso Rocha de Barros: É uma área cinzenta.
João Batista Jr: Eu fiquei nessa dúvida. E também estão proibidas propagandas para um público infanto juvenil. É um começo de uma longa história. O lobby em Brasília está muito pesado. Isso foi aprovado no Senado. Tem que ir para a Câmara. Demora muito tempo e tem muitos interesses envolvidos. No entanto, é um começo de uma discussão bem interessante, porque é inegável o papel que os influencers e artistas têm tido na epidemia de bets no Brasil.
Fernando de Barros e Silva: Muito bom! Uma aula sobre o que aconteceu no mundo das bets nas últimas semanas.
Ana Clara Costa: Agora eu queria só conectar esse assunto com o bloco anterior, em que a gente falou da questão do corte de gasto. O Mercadante, presidente do BNDES, que lançou essa semana essa ideia de tributar mais as bets justamente para conseguir elevar a arrecadação. E João, eu acho que a gente não falou isso ainda, mas o quanto esse Fernandinho ganha? Bom, para o cara ter um Golf stream de 70 milhões de dólares, eu imagino que ele deve arrecadar com bets, deva ser na casa disso, por mês.
João Batista Jr: Tem uma coisa que foi perguntado para ele durante a audiência dele na CPI, que era qual era o faturamento dele. Daí ele pediu desculpas de que ele poderia gaguejar, porque ele tem só até o primeiro ano do ensino médio e daí ele não foi preciso. Mas ele falou algo em torno de 200 milhões por ano. Quem trabalha com bets fala que esse valor pode ser maior e ele pode ter se enganado um pouquinho mais ali.
Ana Clara Costa: Entendi, porque assim, se a gente pegar esse contribuinte, Fernandinho, a tributação das bets hoje ela é realmente compatível com o quanto ele está ganhando perto dos outros empresários do Brasil que empregam etc. Porque se você for ver essas empresas de bets, como se trata de um negócio fundamentalmente tecnológico, você manter um aplicativo funcionando, o que você deve gastar para isso? Você gasta muito com publicidade, com os influenciadores e tudo mais para trazer gente para o seu jogo. Mas você realmente emprega gente, você tem um business?
João Batista Jr: Originalmente, a empresa dele, a OIG, é especializada em questões de internet, entendeu? Só que ele também é dono de uma bet. E assim, qual que é a previsibilidade de tudo? Esses algoritmos, eles entendem o nosso comportamento, a nossa empolgação, a nossa frustração e a nossa compulsão. E joga isso a favor do jogo. Ele metrifica exatamente como a gente se comporta no jogo. Então, quando os influenciadores eles dão créditos, por exemplo, de 1500 1.000 reais para alguém jogar, nesse tempo, joga, ganha, perde, joga, joga, joga. A pessoa já ficou fascinada. As pessoas, como a Virgínia falou, “eu não sei, eu só eu digo ali para o meu público que quem é viciado não deve jogar” e quem sabe quem é viciado? As pessoas não vêm com chip escrito na testa “eu vou me viciar em bet”. Isso é imprevisível e isso é irracional. Então o algoritmo dessas bets, ele é feito para as pessoas ganharem no primeiro momento, porque senão ninguém ficaria ali, mas depois perderem. E eles sabem exatamente como a gente se comporta pelo tempo de horas que a gente fica ali rolando o scroll, etc e tal. Um jogo como Tigrinho ele é muito bem executado justamente para ele ser fascinante. Ele é colorido, é aquela dopamina liberada em questão de segundos, sabe? Ele solta a carta ali em segundos, então você quer mais uma vez e mais uma vez e mais uma vez. Se o artista influencer ou influencer te deu um crédito de 1.500 reais, você se sente ganha em alguma coisa e ainda tem uma propaganda que parte dessas pessoas fazem, que é o seguinte: é um complemento de renda. Então você pega um país tão desigual quanto o Brasil, alguém que ganhe 5.000 reais e você consegue ganhar, segundo, essas pessoas falam 500, 600, 700 reais por mês a mais. Isso muda a vida da pessoa. Então proibir que essas pessoas façam propaganda pode ser bastante efetivo. Agora sim, muita gente fala nas redes ai o governo tem que proibir as bets. O governo tem nenhum interesse em debate porque o governo quer o dinheiro desse imposto. Ponto final.
Ana Clara Costa: Ele só poderia ganhar mais com isso. A alíquota hoje é de 15%.
João Batista Jr: Exatamente.
Ana Clara Costa: A alíquota poderia ser muito maior.
João Batista Jr: Muito maior. Porque é uma questão que, inclusive, não volta para o governo, porque está gastando com saúde pública e endividamento da população.
Fernando de Barros e Silva: Celso, quero te ouvir sobre isso.
Celso Rocha de Barros: E voltando um pouco ao que a Ana falou sobre o quanto esse cara ganha… Assim, o que eu garanto para vocês é que a alíquota efetiva de imposto de renda dele esse ano foi menor do que de uma professora de segundo grau. Isso eu aposto com vocês. Pelas estatísticas, a gente já mostrou aqui em programa sobre reforma tributária, a faixa de renda que ele está já é bem lá na frente, naquele ponto em que a progressividade do sistema desaba, né? O que você pode ter certeza, cara se você está ouvindo esse programa, você pagou uma alíquota de imposto de renda maior do que a desse cara aí que botou o Ciro Nogueira no jatinho e levou ele pro barco dele lá.
Ana Clara Costa: Eu quero só… Já que você tá falando de eu quero só falar isso, tem uma reportagem do Valor Econômico que eu li faz um tempo que eu queria falar no Foro, já faz tempo e ainda não consegui, que é um estudo que diz o seguinte que eu acho que o Fernandinho se enquadra no grupo com renda anual de 750 milhões, paga 1,49% de IR. Matéria do valor econômico de 25/04/2025.
João Batista Jr: Dá para levar amigo para Mônaco, para todos os lugares…
Ana Clara Costa: 1,49%.
Fernando de Barros e Silva: Acertei no nome e errei na profissão.
Celso Rocha de Barros: Então, déficit fiscal é isso, gente. Vocês acham que esse déficit fiscal aí é o que? O bonitão botando o Ciro Nogueira para andar de barco.
Fernando de Barros e Silva: Agora eu pergunto só por que o Ciro Nogueira não está sendo enquadrado já por quebra de decoro parlamentar? Isso sim é caso de quebra de decoro. Se isso não é quebra de decoro, eu não sei o que é.
João Batista Jr: Depois da revelação da matéria, a senadora Soraya entrou com uma representação para que o Ciro deixe de integrar essa CPI. Veremos o que vai acontecer. Mas voltando para o evento do Derrite em que o Ciro era o anfitrião que zarpou para Mônaco depois, ali estavam no palco o Valdemar Costa Neto e o Ciro Nogueira, ou seja, ex-chefe e atual chefe do Derrite. O Valdemar falou da seguinte forma a decisão do Derrite pro Progressistas. “Quando Ciro me ligou pedindo para vir para minha sala, eu sabia que ia perder alguém, mas na verdade a gente vai ganhar”. Vão ser duas vagas para o Senado e eles querem que sejam duas vagas ocupadas por conservadores. Como no PL, provavelmente será o nome do Eduardo Bolsonaro que não foi citado, diga-se lá naquele evento. A outra ficaria para o Derrite. Então a conta é essa, em prol do Brasil e dessa união enorme entre a direita, foi isso que eles falaram ali, “nós fizemos esse sacrifício, é pelo bem da população e pelo bem do Brasil”. Ali no palco, o Tarcísio quis justificar o Derrite. Ele quis falar que ele era um quadro técnico na segurança pública de São Paulo e que nunca na história de São Paulo os dados de segurança pública estiveram tão bons. Bom, quem mora em São Paulo sabe que isso não procede. A onda de latrocínios em razão de celular, questões muito sérias. Nunca se teve tanto assalto a aliança. É uma coisa horrível, grotesca. Enquanto eu saí da casa de eventos para ir jantar com amigos e o Ciro sírio saía para ir para Mônaco. Eu cheguei no restaurante onde eu fui nos Jardins, e eu presenciei o que todo mundo tem presenciado muitas vezes um assalto passou, um cara de moto, arrancou o que parecia ser um iPhone de uma pessoa na frente de todo mundo. Eu estava falando ao telefone porque eu estava trabalhando em razão dessa matéria que eu estava fazendo. Uma mulher que trabalha no estabelecimento veio falar assim para mim “Você não quer falar aqui dentro do restaurante? Porque eu tenho medo de você ser assaltado.” Então é isso. Meia hora antes, o Tarcísio estava falando que São Paulo nunca esteve tão segura. E daí? A realidade se impõe assim, da forma mais cruel que existe.
Fernando de Barros e Silva: Muito bem. A gente encerra então o terceiro bloco do programa. Fazemos um rápido intervalo e na volta, com a presença do João Batista, vamos para o Kinder Ovo. O momento do massacre. Já voltamos.
Fernando de Barros e Silva: Muito bem, estamos de volta. Sem delongas. Então, Mari Faria, vamos ver o que você aprontou. Kinder Ovo! Solta aí.
Sonora: Eu estou aqui com a minha neta, a boneca esbórnia, sei lá como é o nome.
Celso Rocha de Barros: Pastor Isidório.
Ana Clara Costa: Aaaahh…
Fernando de Barros e Silva: Pastor Sargento?
Sonora: Cria um bebê esbórnia, compra roupinha.
Ana Clara Costa: Gente.
Sonora: De fralda, faz gastos com esses bonecos de silicones ou bonecas, sem querer importunar o SUS, que tenham, que brinque com seus bonecos, com suas bonecas não é pecado. Não devemos esquecer de nossas crianças feitas de carne e osso.
Fernando de Barros e Silva: O Celso matou.
João Batista Jr: Hoje o casting tá bom, né? Virgínia, Neymar, tigrinho, Tigrão, bebê esbórnia.
Ana Clara Costa: Bebê esbórnia, de bebe esbórnia…
Fernando de Barros e Silva: Isso nem eu sei. O Congresso então começou com um show de horrores contra a Marina. Depois termina com o Ciro Nogueira e o pastor Sargento, é isso? Então, para registro nos anais, vitória do Celso, Pastor Sargento Isidoro do Avante da Bahia. É isso? Avante mesmo, produção? No discurso na Câmara dos Deputados, o Celso vai confirmando a sua lei. Ele fala “quanto pior o personagem, mais a minha chance de acertar”. Exatamente.
Celso Rocha de Barros: Exatamente.
Ana Clara Costa: E olha que eu já entrevistei. Eu já fui visitar o projeto evangélico dele na Bahia, fiquei dois dias lá ouvindo ele. Não acertei, cara, para você ver como é. Eu realmente.
Celso Rocha de Barros: Para quem não se lembra, vocês devem lembrar da imagem que é ele fazendo um discurso com a Sâmia Bomfim atrás assim. E ele fala que sei lá, acho que ele queria falar com o Bolsonaro. Uma coisa que para falar com o maluco, só outro maluco pior. E aí a Sâmia começa a rir. Vocês lembram disso?
Fernando de Barros e Silva: Exato. Bom, a gente Encerra o Kinder por aqui. Vamos para o correio. Elegante momento de vocês. O melhor momento do programa. Começa então, com o comentário que a @simoneapmachado postou no Spotify: “Mari Faria, acho muito justo que meu comentário seja lido porque eu gritei “Alcolumbre, Alcolumbre” no Kinder dessa semana” da semana passada, no caso. “Por favor, me deixe ter uma alegria nessa quadra tenebrosa da história recebendo um beijo desse trio que é um chuá. Fernando Cabeção, Casca de Bala e Ana Queen. Saúdo vocês das terras cobiçadas por Trump”. Ela está no Canadá? “Jamais seremos o quinto a primeiro estado. Um beijo e um queijo. Simone”.
Ana Clara Costa: Simone! Que legal!
Fernando de Barros e Silva: Muito bom, Muito bom. Bom, antes de passar para a próxima carta, eu quero mandar um beijo para a Maria Vitória Medeiros Vieira, A Vic, que é estudante da Fundação Getúlio Vargas e está fazendo 20 anos neste sábado, 31 de maio. Ouvinte assídua do Foro, então Vic, parabéns! Continue ouvindo a gente. Faça mais colegas seus da GV ouvirem o foro. Um beijo!
Ana Clara Costa: A Mari me passou o recado do Kim Dória. “Acompanho o programa desde o princípio. E um de meus hábitos preferidos era ouvir o podcast, caminhando pelo Minhocão, pois mal sabia eu que essa caminhada estava agravando uma dorzinha que eu tinha no pé e que se desenvolveu para uma tendinite do calcâneo e a inflamação no tendão de Aquiles, agravada pelas caminhadas, me levou a fazer um tratamento com meu tio Tim Tim, fisioterapeuta, e nas sessões descobri que meu tio, além de ler a Piauí, também ouve o foro. Pois tio Tim…
Celso Rocha de Barros: Grande tio Tim tim!
Ana Clara Costa: “Pois tio Tim Tim fez aniversário esse mês. Então queria pedir a vocês que mandassem um feliz aniversário para ele. Um beijo para vocês e para o meu tio que amo tanto. Assinado que em Dória, que não é, nunca foi e jamais será parente do João.
Fernando de Barros e Silva: Isso conta ponto.
Ana Clara Costa: “Um salve especial para o Celso, com quem gravei um episódio sobre a China para o podcast da Editora Boitempo, muito antes dele estrear como integrante fixo do Foro.” Kim, que não é parente do João, que legal a sua mensagem. Tio Tintim, Feliz aniversário! Que nome maravilhoso!
Celso Rocha de Barros: Nome maravilhoso, Tintim, né? Valeu, Kim.
João Batista Jr: E obrigado por nos ler.
Celso Rocha de Barros: Exato.
Fernando de Barros e Silva: Eu falei que podcast é esse que ele ouve “Caminhando pelo Minhocão”? Eu pensei que fosse o título do podcast. Falei “esso eu não conheço”. É um bom nome, né? Caminhando pelo Minhocão. Vamos fazer um podcast. Fala lá, Celso.
Celso Rocha de Barros: O Thiago Bittencourt mandou um e-mail que a Mari pediu para dizer que tá na dúvida se é fã ou hater. “Acompanho o podcast desde o ano passado pelo Spotify, logo só conhecia vocês pelas vozes envolventes. Recentemente fiz um threads e esse me propôs seguir a página da revista Piauí. Pensei por que não? E para minha surpresa, não corte do podcast. Vejo pela primeira vez o sagaz Casca de banana e a glamurosa Ana Clara Costa. Mas, para minha total surpresa, eu vi Fernando de Barros e Silva eum véu foi retirado dos meus olhos pela voz. Achava que ele era um sinhozinho lá para os seus 60, 70 anos e até pensava às vezes logo vai se aposentar, vai deixar saudade. Pois vocês não sabem o quanto é gratificante saber que vocês passaram juntos bons anos e eu terei minha companhia aos sábados pela manhã. Abraço. Continuem sempre com esse podcast de qualidade e que os bons ventos tragam felicidades sempre a todos vocês!” Para você também, Tiago, vai ter que nos aguentar por muito tempo.
João Batista Jr: Fernando Gatinho, hein? Esse gato, esse correio elegante tá mais eficiente do que aplicativos como o Bumble e Tinder, né?
Fernando de Barros e Silva: Eu sou um senhorzinho de quase 60 anos. Você quase acertou.
Celso Rocha de Barros: Cai nessa, não, Tiago.
Ana Clara Costa: O importante é parecer, não ser.
Celso Rocha de Barros: Exato.
Ana Clara Costa: Você parece muito mais jovem, segundo o nosso fã ou hater.
Celso Rocha de Barros: Exatamente.
Fernando de Barros e Silva: Muito bom. Vamos encerrando o programa de hoje por aqui. Se você gostou do Foro, não deixe de seguir e dar five stars para a gente no Spotify. E hoje, com a presença no estúdio aí no Rio, o Rodrigo Vizeu, que é o responsável pela área de podcasts do Spotify. Um abraço pro Rodrigo e obrigado pela presença. Muito bem vindo, coma o pão de queijo Rodrigo, que vale a pena. Você pode seguir também a gente no Apple Podcast, na Amazon Music, favoritar na Deezer, se inscrever no YouTube. Você também encontra a transcrição do episódio no site da Piauí. Foro de Teresina, é uma produção da Rádio Novelo para a revista Piauí, a coordenação geral e da Bárbara Rubira. A direção é da querida Mari Faria, com produção e distribuição da Maria Júlia Vieira. A checagem é do Gilberto Porcidônio. A edição é da Bárbara Rubira e do Tiago Picado. A identidade visual é da Amanda Lopes. Finalização e mixagem são do João Jabce e do Luiz Rodrigues, da Pipoca Sound. Jabace e Rodrigues, que também são os intérpretes da nossa melodia tema. A coordenação digital é da Bia Ribeiro, da Emily Almeida e do Fábio Brisola. O programa de hoje foi gravado na minha casa, em São Paulo, e no Estúdio Rastro, do Danny Dee, no Rio de Janeiro. Eu me despeço assim dos meus amigos. Vou começar com o João Batista. Tchau, João. Obrigado pela participação.
João Batista Jr: Tchau, Fernando. Obrigado pelo convite.
Fernando de Barros e Silva: Tchau, Ana. Até a semana que vem.
Ana Clara Costa: Tchau, Fernando. Tchau pessoal.
Fernando de Barros e Silva: Tchau Celso. Até semana que vem.
Celso Rocha de Barros: Valeu, Fernando. Até semana que vem.
Fernando de Barros e Silva: É isso gente! Uma ótima semana a todos e até a semana que vem!
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