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citações do foro

A condenação de Bolsonaro e o vexame de Fux

12set2025_10h17

Semanalmente, os apresentadores mencionam as principais leituras que fundamentaram suas análises. Confira:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Conteúdos citados neste episódio:

 

 

 

 

“Fux mentiu“, coluna de Celso Rocha de Barros para a Folha. 

 

 

 

 

 

 

 

TRANSCRIÇÃO DE ÁUDIO:

 

 

 

 

 

 

Sonora: Rádio piauí.

 

Fernando de Barros e Silva: Olá, sejam muito bem-vindos ao Foro de Teresina, o podcast de política da Revista piauí.

 

 

 

Sonora: Fixo a pena final para o réu Jair Messias Bolsonaro em 27 anos e três meses, sendo 24 anos e nove meses de reclusão e dois anos e seis meses de detenção.

 

Fernando de Barros e Silva: Eu, Fernando de Barros e Silva, da minha casa em São Paulo, tenho a alegria de conversar com a minha amiga Ana Clara Costa, que está em Brasília, onde tudo acontece, aconteceu essa semana. Olá! Bem vinda, Ana.

 

Ana Clara Costa: Oi, Fernando! Oi, pessoal! Tô aqui em Brasília, mas presente.

 

 

 

Fernando de Barros e Silva: Presente!

 

Sonora: Será que as pessoas acreditam que um tweet de uma autoridade de um governo estrangeiro vai mudar um julgamento no Supremo?

 

Fernando de Barros e Silva: E com meu amigo Celso Rocha de Barros, no Estúdio Rastro, no Rio de Janeiro. Diga lá, Casca de bala.

 

 

Celso Rocha de Barros: Fala aí, Fernando! Estamos aí mais uma sexta feira.

 

Celso Rocha de Barros: Eu acolho a preliminar de violação à garantia constitucional do contraditório e da ampla defesa e reconheço a ocorrência de cerceamento.

 

Fernando de Barros e Silva: Mais uma sexta feira e sem mais delongas, vamos então ao assuntão da semana. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal condenou o Jair Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão por cinco crimes, entre eles a tentativa de golpe de Estado, formação de organização criminosa armada e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Placar foi de quatro votos a um. Votaram pela condenação o relator Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia, Flávio Dino e Cristiano Zanin. O ministro Luiz Fux absolveu o Bolsonaro de todos os crimes, discrepando de maneira bizarra de seus pares. A gente vai falar disso. Além de Bolsonaro, foram condenados o general Braga Neto, 26 anos de prisão, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o ex-comandante da Marinha Almir Granier, ambos a 24 anos de prisão. O general Augusto Heleno, 21 anos de prisão, o general Paulo Sérgio Nogueira, 19 anos de prisão, o ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem, 16 anos, um mês e 15 dias de prisão e o ex ajudante de ordens, Mauro Cid, o réu delator, condenado a dois anos em regime aberto. É a primeira vez na história do Brasil que um ex-presidente da República é condenado por tentativa de golpe de Estado. O mesmo vale para militares da mais alta patente envolvidos na trama golpista. A gente vai falar do resultado desse julgamento histórico no primeiro bloco e no segundo vamos tratar mais especificamente do voto de Luiz Fux, que protagonizou provavelmente o momento mais infame do STF desde a redemocratização. Esperava-se que ele fosse divergir de Moraes e tudo bem. Não se esperava que ele fosse votar para que o processo fosse anulado e absolvesse Bolsonaro de todos os crimes. Fux fez um voto político, interminável, em muitos momentos incompreensível, fracionando fatos e episódios da escalada golpista, de modo a torná-los irreconhecíveis ou anódinos. Foi um voto para desmoralizar o Supremo e lançar uma bóia de salvação aos golpistas. A gente vai falar das motivações desse voto e da obra medonha perpetrada por Fux. Por fim, no terceiro bloco, nosso assunto vai ser o projeto de anistia no Congresso e sua relação com o julgamento no Supremo. Numa semana histórica, é bom não esquecer que o governador de São Paulo foi ao ato pela impunidade de Bolsonaro no dia 7 de setembro e falou ao microfone que ninguém aguenta mais a tirania de Alexandre de Moraes. Se ele fosse um vendedor de popcorn não seria tão grave. Mas ele é o governador de São Paulo, além de virtual candidato à Presidência da República. Ontem, Tarcísio criticou o que chamou de sentença injusta e disse a Bolsonaro: “Força, presidente! Seguiremos ao seu lado”. Nós por aqui aguardamos para ver se o governador vai ser solidário e quanto no dia da visita. É isso vem com a gente.

 

 

Fernando de Barros e Silva: Muito bem, Celso. Vamos conversar com você que, por enquanto, está tomando coca cola. A gente está gravando esse primeiro bloco do programa à noite, com o resultado do julgamento, com a decretação da prisão, como eu disse agora na abertura, da prisão do Bolsonaro. Vamos fazer uma análise desse julgamento e tentar projetar um pouco nós que não vamos para trás das grades. O que que vai acontecer nos próximos dias. Diga lá.

 

Celso Rocha de Barros: Então, Fernando, antes de fazer qualquer análise. Eu queria só falar a frase em voz alta: Jair Bolsonaro vai em cana! Bolsonaro vai ser preso, vai passar 27 sei lá quantos anos na cadeia!

 

Ana Clara Costa: 24

 

 

Celso Rocha de Barros: 24. Tá bom.

 

Fernando de Barros e Silva: É 24. Porque dos 27 em três meses…

 

Celso Rocha de Barros: Tá bom, já vou deixar passar esses três anos. Mas é isso. Quer dizer, a gente já esperava o resultado. Naturalmente. Os votos dos ministros foram muito próximos. No geral, teve alguma divergência de dosimetria que no final, inclusive, foi bem menor do que a gente esperava, pelo que o Flávio Dino tinha dito no começo e tal. E a gente fica inclusive na dúvida se o voto bizarro do Fux não acabou influenciando os outros ministros a atentar meio que unificar sua posição ali de um dia para o outro.

 

 

Ana Clara Costa: Sim, sim. A título de informação, sim.

 

Celso Rocha de Barros: A pessoa que de fato tem informação aqui, está dizendo que sim.

 

Fernando de Barros e Silva: E isso ficou visível, né?

 

 

Celso Rocha de Barros: Isso ficou visível. Os votos dessa quinta feira tinham 200 recados para o Fux. A Cármen Lúcia, que, aliás, deu um tremendo voto. Desmontou vários pontos do que o Fux falou ontem, inclusive e em geral, levou, sei lá, cinco minutos para montar cada coisa que o Fux levou duas horas para fazer. O Zanin, que muita gente achava que poderia talvez ser uma esperança para o Bolsonaro se livrar de alguma coisa, pegar uma pena menor por causa da possibilidade dele absorver um crime no outro, etc. Não fez isso. Foi um dia bem ruim para o Jair, logo, um dia bom para a República. O julgamento é realmente um momento histórico para a democracia brasileira. E também assim, além de falar da democracia brasileira, dessas grandes coisas de que a gente nunca julgou um golpista, de que finalmente vai ser preso alguém que tentou golpe de Estado Brasil. Quem sabe agora os caras param, né? Mas também eu acho que tem uma outra dimensão, que é você pensar assim para aquele pessoal do Nordeste que que teve que votar a pé porque o Bolsonaro queria roubar o voto dos caras, entendeu? Então o cara que queria roubar o voto de vocês vai em cana. A polícia prendeu o cara que fez aquela sacanagem com vocês. Isso é muito bom. Assim, para todos os eleitores do Lula, cujos votos o Bolsonaro pretendia roubar naquela eleição. Isso é muito bom para os brasileiros que prezam a democracia, que poderiam inclusive ser presos, ser mortos em caso de instauração de um regime de exceção, para a imprensa livre, para as instituições, enfim, para as minorias, obviamente. Vocês passaram esse tempo todo com medo do que o Bolsonaro poderia fazer e ele fracassou e ele se ferrou, entendeu? Ele vai em cana.

 

Fernando de Barros e Silva: Só fazendo um pequeno aparte aqui, tem dois significados muito especiais. Primeiro, eu lembro do dia em que ele votou o impeachment da Dilma e dedicou o voto à Brilhante Ustra, o terror de Dilma Rousseff. Dedicou o voto a um torturador. Perderam em 64 e estão perdendo agora de novo. Eu acho que o dia de hoje é muito significativo, porque, repara esse primeiro crime dele, essa primeira atrocidade que ele fez, não a primeira, mas a primeira de uma sequência, né?

 

Ana Clara Costa: E teve aquela do governo Fernando Henrique que ele disse que tinha que matar, né?

 

 

Sonora: Ele queria que fuzilasse o Fernando Henrique.

 

Fernando de Barros e Silva: Em 99, ele disse que tinha que morrer mais, pelo menos 30 mil. Em 99, quando Fernando Henrique era presidente, incluindo o presidente Fernando Henrique. E segundo ponto sem fazer demagogia. Mas as vítimas da Covid, né.

 

Celso Rocha de Barros: Sem dúvida nenhuma.

 

 

Fernando de Barros e Silva: Presidência dele foi responsável pela morte de milhares e milhares e milhares de brasileiros. Então, essas duas coisas me tocam de maneira… Não estão relacionadas aos crimes de tentativa de golpe de Estado, mas por essas duas razões eu fico mais do que feliz. Eu me sinto, sei lá, vingado? A gente se sente?

 

Celso Rocha de Barros: Uma sensação de que a justiça foi feita em uma certa medida, que não é uma coisa que a gente sente todo dia no Brasil, né? Sejamos honestos.

 

Fernando de Barros e Silva: Exato.

 

 

Celso Rocha de Barros: Se você perdeu um ente querido na pandemia por falta de vacina, o Brasil não foi capaz de julgar o Bolsonaro por isso. O Brasil vai ficar te devendo essa, mas você tem o direito de comemorar que o cara vai para a cadeia de qualquer jeito. E é sempre bom lembrar que boa parte dessa investigação do golpe começou porque ele mandou o Mauro Cid falsificar o cartão de vacina.

 

Fernando de Barros e Silva: É, bem lembrado.

 

Ana Clara Costa: Boa parte não. Essa… Só existe por causa disso.

 

 

Celso Rocha de Barros: Exatamente.

 

Ana Clara Costa: Com a questão da adulteração do cartão de vacina. A CGU deflagrou uma operação, a CGU e aí, nessa operação, pegaram o celular do Cid, que foi quando tudo começou. Então você vê como o ciclo se fecha.

 

Celso Rocha de Barros: Exato. Eu achei isso uma certa justiça poética. Eu acho que se você perdeu um ente querido na pandemia, não tem como trazer de volta. Mas alguma justiça, eu acho que você pode achar que foi feita, entendeu? O cara vai passar na cadeia o tempo que ele passaria se ele tivesse sido julgado por isso. E é bom que se diga que não foi julgado por isso, porque o Congresso é ladrão e porque o Augusto Ares, o PGR, não fazia o trabalho dele. Tinha que ter o processo do Aras, eu sempre achei. Isso é uma coisa muito urgente pra República Brasileira.

 

 

Fernando de Barros e Silva: Prevaricador geral da República.

 

Celso Rocha de Barros: Mas enfim, a gente não pode querer tudo no mesmo dia e hoje já teve bastante coisa, certo? Bom, já começaram naturalmente as especulações sobre o futuro político do bolsonarismo. Bolsonaro, enfim, se Deus quiser, a gente só vai ouvir a voz do Bolsonaro agora quando ele passar trote do sequestro falso para gente de dentro do presídio. Sabe aqueles cara que ligam para você? Mas enfim, esse movimento aí porcaria que ele inventou deve continuar existindo, porque hoje o mundo é assim. Alguns pontos desse julgamento eu gostaria que se refletissem na história desse movimento do Bolsonaro, por exemplo, o Fux, que perdeu tudo, né? Ele tinha falado isso no voto dele e enquanto os ministros que de fato prestaram atenção no processo estavam lá decidindo a dosimetria e tal, ele resolveu voltar a falar que o mensalão foi um atentado à democracia. Eu queria saber a opinião do Valdemar sobre isso. O Valdemar, pela lógica do Fux, tá nos dois golpes de estado, né cara? Porque ele tava no mensalão e tava hoje. Então eu queria saber qual a opinião do fluxo sobre o PL.

 

Fernando de Barros e Silva: Exato.

 

 

Celso Rocha de Barros: O PL, que é liderado pelo Valdemar que estava no mensalão, é uma organização terrorista, alguma coisa? Eu gostaria de que ele desenvolvesse esse raciocínio.

 

Fernando de Barros e Silva: Valdemar, foi você que disse agora, pouco antes da gente gravar. Valdemar já disse agora que o Fux é um bom candidato ao Senado.

 

Celso Rocha de Barros: Ao Senado, pelo amor de Deus!

 

 

Fernando de Barros e Silva: Ele não perde uma oportunidade para fazer negócio o Valdemar.

 

Celso Rocha de Barros: Cara, você imagina: Darcy Ribeiro já foi senador pelo Rio de Janeiro. Enfim, fazer o quê? Mas enfim, sem me alongar demais, o que eu acho que a gente tem que prestar atenção agora? Bom, ainda faltam alguns passos para a prisão. Eu tenho certeza que o Bolsonaro vai tentar avacalhar esses dias do jeito que ele puder. Ele vai inventar problemas. Ele tem uma questão de saúde que ele vai resolver domingo, sabe se lá se ele vai tentar meter um atestado… Sabe se lá se ele vai fugir, sabe o que que ele vai fazer, mas eu tenho certeza que ele vai causar alguma bagunça antes do dia da prisão. Vamos torcer para que tudo corra bem, mas eu acho que a gente não deve esperar nenhuma, nenhum bom comportamento do Jair a essa altura do campeonato. E naturalmente, a gente sabe que o governo Trump vai reagir, né? Eles já fizeram uns tweets mal, mal educados aí…

 

Fernando de Barros e Silva: Já tá reagindo.

 

 

Celso Rocha de Barros: Mas, pelo menos por enquanto, não reagiram sob a forma de mais sanções nem nada desse tipo. Cara, pode um monte de coisa dar errado. A gente não sabe como é que vai ser essa coisa do Trump, mas é impossível não ver essa prisão como uma vitória da democracia brasileira.

 

Fernando de Barros e Silva: Imensa vitória.

 

Celso Rocha de Barros: A democracia brasileira mostrou que tem dentes, entendeu? Que assim, se você vier de sacanagem pra cima dela, você tá ferrado. Que é a característica de uma república que… Uma república que não consegue se defender necessariamente vai cair. Então eu achei um momento muito importante da história brasileira e não vou mentir para ninguém que não fiquei muito feliz com isso, né?

 

 

Fernando de Barros e Silva: Muito bom. Ana, quero te ouvir agora. Você que tava assistindo até há pouco o julgamento lá no plenário do STF, observar duas coisas. Primeiro, a presença do Luís Roberto Barroso, do presidente do STF, no final da sessão. A presença do Gilmar Mendes, que é o decano da turma e as homenagens que o Flávio Dino fez a todos, inclusive ao decano Celso de Mello. Todos esses fatos convergindo para a ideia de reforçar a institucionalidade do Supremo e já reagir, por exemplo, aos ataques que virão não só dos bolsonaristas, como do Donald Trump, dos bolsonaristas da América do Norte. Esse acho um ponto importante. Não sei se você concorda comigo.

 

Ana Clara Costa: Quando você menciona Fernando, a presença do Gilmar e do Barroso houve de fato uma intenção dos ministros de mostrar unidade depois do voto divergente do Luiz Fux, que aconteceu na quarta-feira. Então, a presença do Gilmar, que não é considerado muito próximo do Fux, né? E do Barroso, que é o presidente do Supremo, é uma forma de mostrar que setores ali, digamos, majoritários da Corte, estão chancelando a decisão da Primeira Turma. É uma forma indireta de mostrar, uma forma simbólica de mostrar o apoio do Supremo a essa decisão da Primeira Turma. O que deixa o Fux, cujo voto a gente vai falar sobre no próximo bloco, bastante isolado dentro dessa minoria indicada pelo Bolsonaro. E quando o Barroso chega no plenário… Porque quando o Gilmar chegou, o Gilmar chegou muito antes, o Gilmar sentou no auditório, né? Ele não sentou junto com os ministros nas suas respectivas mesas ali, ele sentou no auditório. Quando o Barroso chegou mais para o final do julgamento, só realmente para ouvir a dosimetria, ele se sentou no auditório e foi chamado para se sentar ao lado do presidente da Primeira Turma, que é o Cristiano Zanin. Então o Barroso estava sentado na tribuna junto com os outros ministros, então tinha uma imagem ali. A presença dele compunha uma fotografia, que é o que o Supremo deseja mostrar depois de um voto, no dia anterior, em que o próprio Supremo foi atacado. O Fux mencionou que o Supremo se excedeu. O Fux disse que o Alexandre era um juiz inquisidor. Então, essa movimentação foi totalmente proposital. Uma coisa que foi proposital também, eles fazerem o possível para terminar hoje.

 

Fernando de Barros e Silva: Terminar hoje, quinta -feira.

 

 

Ana Clara Costa: Hoje, quinta feira, porque a previsão era que se terminasse os votos hoje, na quinta, dia em que gravamos, e a dosimetria fosse divulgada na sexta-feira. Só que eles consideraram um desrespeito tão grande o longuíssimo voto do ministro Fux na quarta feira, que foi das 09h até quase meia noite, com pessoas ali, né? Ministros ali, alguns dos quais com mais de 60 anos.

 

Fernando de Barros e Silva: E um voto dificílimo de se compreender, né? Nem ele sabia direito o que ele estava lendo.

 

Celso Rocha de Barros: Ele trocou o crime que absorvia o outro. Ele escreveu errado no coiso e hoje tava botando culpa no estagiário. Tava dizendo que era erro de digitação.

 

 

Fernando de Barros e Silva: Exato. E discrepando completamente da clareza dos outros votos… A começar pelo voto do Alexandre de Moraes e dos outros todos, né? O Flávio Dino, que é a melhor retórica talvez.

 

Ana Clara Costa: A questão foi assim: eles consideraram que você poderia divergir e ter o seu voto sem passar 15 horas votando. Eles consideraram realmente um desrespeito esse tempo que ele passou. Então, a ideia era ser muito objetivo hoje para tentar finalizar hoje, inclusive com a dosimetria, entendeu? Então, tinha também essa intenção.

 

Fernando de Barros e Silva: Outra coisa que me chamou a atenção, Ana, é a diferença da pena do Mauro Cid para os demais. A Primeira Turma reforçou o instituto da delação, né? O Mauro Cid pegou dois anos em regime aberto. Isso está evidentemente ligado à delação. Discrepa muito das demais penas. Isso me chamou a atenção também.

 

 

Ana Clara Costa: E se você vê que o próprio Alexandre de Moraes, quando começa a falar sobre isso, ele reforça que o Mauro Cid era um delator irrascível. Quase era um delator difícil, né? Eles reconhecem, inclusive, né?

 

Fernando de Barros e Silva: Foi delatando a contragosto e.

 

Ana Clara Costa: A conta-gotas.

 

 

Fernando de Barros e Silva: Conta-gotas.

 

Ana Clara Costa: Exato.

 

Fernando de Barros e Silva: Mas ele ele omitiu muita coisa, mas ele não mentiu, eles disseram. Enfim, há controvérsia aqui e ali, mas no geral, não mentiu.

 

 

Ana Clara Costa: E, mesmo que a contragosto, o que foi apreendido com ele, mesmo que ele não tenha revelado, mas conseguiram resgatar, foi extremamente importante para a investigação. Como o caso do vídeo que foi gravado em 2022, da reunião ministerial, em que o Bolsonaro diz que eles precisam fazer alguma coisa antes da eleição, que é um vídeo fundamental, com a participação dos comandantes das forças e tal. Então, assim, houve ali uma vontade do relator no caso de passar um sinal para, enfim, casos futuros de que a delação vale a pena. Ela vale a pena se você tem o que apresentar.

 

Fernando de Barros e Silva: Se dependesse do Fux, ele seria o culpado. O mordomo, como disseram algumas pessoas, seria o responsável pelo crime, né?

 

Ana Clara Costa: E até em certo ponto o Alexandre faz uma piada disso, né? Ele mostra imagens, isso já no na na intervenção que ele faz na quinta feira, né? Depois do voto do Fux, ele mostra imagens do 8 de janeiro, cartazes pedindo intervenção militar, Bolsonaro presidente. E aí ele fala: “e não, não tá escrito Mauro Cid presidente”, né? Ele tá fazendo claramente uma alusão ao Fux, que na verdade penaliza o Mauro Cid no voto dele por ele ter feito a delação.

 

 

Celso Rocha de Barros: Exatamente.

 

Fernando de Barros e Silva: Isso foi no momento em que ele fez uma parte ao voto da Cármen Lúcia e mostrou imagens não só do 8 de Janeiro, mas dos acampamentos.

 

Ana Clara Costa: Exato. E é importante dizer também sobre esse aparte que foi uma jogada ensaiada, porque, como no dia anterior, o voto do Fux tinha de certa forma, colocado em xeque a imparcialidade do Supremo e do Alexandre de Moraes em julgar esse caso, eles fizeram uma jogada combinada para que tanto o Alexandre quanto os outros ministros falassem durante o voto da Carmem e depois durante o voto do Cristiano Zanin. E aí até era uma coisa que quebrava o protocolo, de certa forma: o Alexandre de Moraes chegou a exibir durante essa aparte que ele fez, o vídeo da fala do Jair Bolsonaro no 7 de setembro de 2021, em que ele citava indiretamente Fux porque ele atacava o Supremo e o presidente do STF, que era naquela época, justamente o Luiz Fux. E foi muito curioso nesse início do julgamento na quinta-feira, porque tinha acabado — e a gente vai falar sobre isso também no segundo bloco — tinha acabado muito tenso com o voto do Fux. Eles tentaram, de certa forma, desanuviar o ambiente com muita piadinha ali entre eles, mas piadinhas nas quais o Fux não estava incluído, né? Então ficava uma coisa meio sala de aula assim, eles fazendo essas piadinhas e o Fux com a cara amarrada ali.

 

 

Fernando de Barros e Silva: Ele tava visivelmente constrangido. Ainda bem.

 

Ana Clara Costa: E o Alexandre de Moraes também fala uma frase que alude, de certa forma ao Fux, que o 8 de Janeiro não foi um passeio na Disney, foi uma tentativa de golpe de Estado.

 

Celso Rocha de Barros: Eu gostei muito disso.

 

 

Ana Clara Costa: Porque existe esse falatório, né? Que aliás, vale dizer que o Fux jamais confirmou, mas de que ele queria ir para os Estados Unidos e para Disney em breve, etc. E não queria que tivesse problemas, né?

 

Fernando de Barros e Silva: E lembrando, os nossos ouvintes já sabem, mas lembrando que o Fux, além dos dois ministros nomeados pelo Bolsonaro, o André Mendonça e o Kássio Nunes. O Fux é o único que não teve seu visto revogado, né?

 

Ana Clara Costa: Exato.

 

 

Fernando de Barros e Silva: Alexandre de Moraes está sofrendo as sanções da Lei Magnitsky e os demais ministros, com exceção desses três, não podem entrar em território americano.

 

Ana Clara Costa: Exato. Mas isso é porque desde março, Fux vem apresentando uma visão divergente. Ele estava convergindo com a turma durante centenas de votos, mas a partir de março algo mudou. Inclusive em uma das manifestações na Paulista ele foi enaltecido, né? Enfim, a partir daí tem alguma coisa que se transformou ali e culminou nesse voto de quarta-feira. Mas o que eu queria destacar também sobre o julgamento como um todo, eu sei que parece século passado, mas se a gente olhar para a semana passada, quando o Alexandre leu o relatório dele e depois quando ele apresentou o voto dele na terça-feira dessa semana, toda a sequência de atos executores dessa tentativa de golpe — essa sequência, por si, já deveria suscitar a condenação de todos eles. Não precisaria ter havido o 8 de Janeiro para que tudo que eles fizeram anteriormente fosse grave o suficiente. Então, o 8 de janeiro, no fim, a gente fala: “ah, ojulgamento do 8 de janeiro, o julgamento do 8 de janeiro”. Na verdade, o 8 de janeiro foi o ponto, na verdade, público, o que tornou pública e visível para toda a população brasileira daquilo, mas tudo…

 

Celso Rocha de Barros: Foi o tudo ou nada que eles deram ali.

 

 

Fernando de Barros e Silva: Oito janeiro para usar a imagem, usar de maneira diferente uma imagem que o Tarcísio usou. Foram quatro anos em 4 horas, né? O mandato do Jair Bolsonaro condensado em 4 horas de…

 

Ana Clara Costa: Exatamente.

 

Celso Rocha de Barros: Exatamente. Muito boa.

 

 

Ana Clara Costa: Só que o que veio antes disso já seria o suficiente, pelo que os ministros apresentaram, sobretudo o ministro relator, né? Quando você vê a cronologia dos fatos, o 8 de janeiro fica quase como um detalhe e que ele é um detalhe muito, digamos, flagrante, né? As imagens são fortes.

 

Fernando de Barros e Silva: A cereja do bolo. E que cereja, hein, Ana?

 

Ana Clara Costa: Exato. Mas tudo que aconteceu antes é grave o suficiente, é tão grave quanto aquilo. Então, eu acho que isso ficou muito claro. O que a gente não sabe e nunca saberá, na verdade, é que se não tivesse havido o 8 de Janeiro, se esse processo teria tido o desfecho que ele teve hoje, né? Porque o 8 de Janeiro, apesar de ter sido a culminância de tudo o que foi planejado, se não tivesse havido, será que…

 

 

Celso Rocha de Barros: A gente não saberia, é.

 

Ana Clara Costa: A pressão seria suficiente para que esse processo transcorresse da forma que transcorreu? Assim, será que o 8 de Janeiro também não teria sido necessário? Porque se a gente pegar a Covid, tudo bem que o procurador geral era o Aras e era um outro momento, né? A CPI não deu em nada, etc. Mas assim a Covid aconteceu o que aconteceu e nada aconteceu com quem foi culpado, né? Não teve uma uma força ali política e nem do Judiciário para fazer isso prosperar. Ao ver esse julgamento e esses votos, fica claro que tudo que aconteceu é muito maior do que o 8 de janeiro.

 

Celso Rocha de Barros: Sem dúvida.

 

 

Fernando de Barros e Silva: E no caso da CPI da Covid, isso é um parêntese do parêntese. Mas eu acho que ela teve… Ela não deu em nada, mas ela ajudou muito a organizar o que aconteceu.

 

Celso Rocha de Barros: Ela trouxe para gente os contratos recusados de vacina que permitiram aos epidemiologistas rodarem modelos estatísticos para calcular quanto o Jair matou por falta de vacina.

 

Ana Clara Costa: Agora, eu acho que tem alguns recados que eles passaram também. Já na quinta-feira, depois que tudo aconteceu, que eu acho que a gente tem que destacar: o primeiro foi que o Alexandre de Moraes falou em várias ocasiões sobre a inconstitucionalidade da anistia e do indulto. Ele fala isso sobretudo quando ele fala do Cid, porque ele fala que no caso do Cid, não caberia perdão judicial e por isso eles estavam dando a pena de dois anos em regime aberto para o Cid. Porque não cabe perdão, porque para esse tipo de crime não cabe anistia, nem cabe indulto. Nem indulto dado pelo presidente, nem a anistia concedida pelo Congresso. Foram essas as palavras do Alexandre, que é uma clara mensagem para os nossos deputados, que também a gente vai falar sobre isso no terceiro bloco, que querem aproveitar esse momento para tentar empurrar a anistia no Congresso. Um outro recado que ele deu, ele falou sobre a questão da soberania do Brasil, que muita gente entendeu isso como indireta para o Fux. Ele disse que nessa corte não há interferência de nenhum país estrangeiro na Corte nacional, porque os ministros, na verdade, não devem se sentir intimidados por nenhum outro país numa clara referência indireta ao Fux. E ele também deu um recado para as Forças Armadas, né? Porque essa raiva do Supremo foi cevada ali ao longo do governo Bolsonaro penetrou muito nas Forças Armadas, né? E o Alexandre de Moraes faz uma menção falando sobre a admiração que ele tem pelas Forças Armadas.

 

 

Fernando de Barros e Silva: O Flávio Dino também. O Flávio Dino fez um discurso no final…

 

Celso Rocha de Barros: Muito bonito.

 

Fernando de Barros e Silva: O discurso foi especialmente feliz. Ele falou das instituições, fez essa separação entre as pessoas e as instituições e falou que a judicialização excessiva ou a judicialização da política não é uma boa coisa e que aquele era um momento grave, triste para o Supremo. Que os conflitos da política devem ser resolvidos no âmbito da política. Fez uma uma homenagem ao Congresso, homenagem que a Cármen Lúcia reiterou. Eu achei bonito também porque ela falou: “eu fui formada, eu fiz prova de admissão no Judiciário em 77, o Congresso estava fechado e eu tenho uma memória quase física do que isso significava”. Foi quando o Geisel decretou o pacote de abril. Em 77, fechou o Congresso. Então, houve vários recados no sentido de reforçar a institucionalidade e a democracia, essas coisas um pouco que a gente acha que são um pouco retóricas. Às vezes a gente não dá, não dá muita importância. Mas eu acho que esse não é uma encenação. Essa preocupação deles em contemplar isso é importante nesse momento. A gente sabe como é que os bolsonaristas vão, vão reagir. Quer dizer, a gente não sabe exatamente, mas a gente não espera pelo melhor, né?

 

 

Ana Clara Costa: Sem dúvida. E uma outra fala do Flávio Dino foi sobre — já que você trouxe o assunto da ditadura, Fernando — sobre o ineditismo de haver um plano de assassinato de um ministro do Supremo. Coisa que nem na ditadura houve. Então ele trouxe isso, que eu acho que ficou também um pouco feio para o Fux nesse ponto. Agora só voltando um pouco nessa menção que o Alexandre de Moraes faz às Forças Armadas, ele faz uma menção nominal ao Brigadeiro Damasceno, da Força Aérea Brasileira, ao Almirante Olsen da Marinha, e ao general Tomás do Exército, dizendo que eles colaboraram muito com as investigações e que, enfim, eles foram muito importantes para o desfecho que a gente teve hoje, que é a condenação de, inclusive, alguns generais. E a gente tem que lembrar, né? A gente já falou isso no Foro algumas vezes, né? Que houve um momento em que eles precisaram dos depoimentos do Freire Gomes e do Batista Júnior para compor a investigação e a gente se questionava, né, por que que o Freire Gomes não é réu, né? Depois de tudo que ele fez. E aí entra um pouco essa costura das Forças Armadas para poupar o Freire Gomes ali dentro da enfim, de todo o processo, que é uma coisa difícil de engolir, né, que depois de tudo ele tenha sido poupado, mas que de fato, ele foi útil para investigação, para chancelar muitas das coisas ditas pelo Mauro Cid.

 

Celso Rocha de Barros: Só para lembrar uma coisa o General Tomás é um dos que foi “denunciado” pelo Paulo Figueiredo por não ter participado do golpe.

 

Fernando de Barros e Silva: Ah, então.

 

 

Ana Clara Costa: Agora só para conectar também com o terceiro bloco que a gente vai falar sobre anistia, principalmente no voto do Alexandre, ele fala muito, ele fala ostensivamente sobre a descredibilização das urnas. Como isso foi importante para eles conseguirem envenenar a população, envenenar, enfim, toda a militância bolsonarista. Ele se detém muito no ponto das urnas, né? E eles, no caso, a PGR, né? Sobretudo, que não denunciou o Valdemar Costa Neto, eles não estão condenando, óbvio, porque o cara não é réu. O Valdemar Costa Neto, que foi o cara que assinou um documento junto ao TSE pedindo ao TSE a anulação de 48% das urnas do segundo turno. Se tem alguém que tem o nome, tem a prova ali do que fez é o Valdemar Costa Neto. E ele não se tornou nem sequer réu. E eu acho que isso é uma coisa que a gente vai lembrar, porque ele tá articulando a anistia junto com todo o PL, né? É um cara que, no próprio voto do Alexandre… O Alexandre, não faz uma menção específica ao Valdemar Costa Neto, mas ele menciona em vários momentos tudo o que ele fez, não dando nome a ele. Talvez o Judiciário que o poupou, porque foi poupado mesmo, se arrependa a partir das próximas semanas.

 

Celso Rocha de Barros: Concordo com você.

 

Ana Clara Costa: Quando eu falo que eles vão se arrepender, o que eu estou querendo dizer é: o Valdemar vai dar trabalho para o Supremo com essa questão da anistia, com o que o PL pretende fazer com a anistia a partir da condenação do Bolsonaro.

 

 

Fernando de Barros e Silva: Valdemar tá no lucro total. Aquele que o Roberto Jefferson, lá no escândalo do mensalão, chamava de galo mutuca. Mutuca é o galo que foge da briga. Isso estou falando de uma coisa de 2006. Os ouvintes me perdoem, que eu estou recuando no tempo quase duas décadas.

 

Celso Rocha de Barros: Eu acho que assim, a única coisa que eu lamento dessa história toda é o núcleo político do golpe ter sido poupado. Aquele pessoal todo da reunião lá de 30 de novembro de 2022, o Valdemar, esses caras todos. Porque esses caras justamente… “Ah, não vão punir eles para pacificar”. São eles que estão mantendo o conflito ativo

 

Fernando de Barros e Silva: Sim, exatamente. Eu mencionei esse arco político que vai do voto do Bolsonaro pelo impeachment da Dilma até o dia de ontem — hoje, para a gente que está gravando. Existe outro arco que diz respeito aos militares, que é a intervenção militar no Rio, decretada pelo Temer em 2018, logo depois do Carnaval. O interventor era o general Braga Neto até o dia de ontem também. Então, em relação ao poder militar, também conduta dos militares. A gente tem uma historinha boa para se contar. Ascensão e queda de Braga Netto, né? E realmente é um capítulo importante para o Brasil e a gente lembrar que os militares, até hoje ou até ontem, comemoram 31 de março como a grande data para o país. Isso continuou sendo feito ao longo dos governos do Lula, da Dilma, etc, etc. Então é bem relevante que os generais tenham sido condenados. E o Garnier, que que é almirante, certo, Celso?

 

 

Celso Rocha de Barros: É isso mesmo. Esse é o principal, a principal dimensão histórica da coisa. Assim, se essa condenação persistisse, o idiota do centrão foi lá para fazer uma maracutaia de curto prazo ou uma ladroagenzinha, cujas consequências maiores ele não entende. Não melar o resultado do julgamento. O efeito pedagógico é muito grande, porque o próximo cara que pensar em dar um golpe de Estado vai lembrar dos caras que estão na cadeia. O salto civilizacional que isso pode ser para o Brasil é muito grande.

 

Ana Clara Costa: Sobre essa questão do Braga Netto, acho que só um detalhe que não passou despercebido. Braga Netto foi um dos únicos, né? Foi Braga Netto é o Cid, né? Foi a segunda condenação do Fux, né? Pela abolição do Estado e na hora da dosimetria da pena, todos os ministros da Primeira Turma acordaram em colocar uma pena de seis anos para o Braga Netto por esse crime. E como era o único crime que o Fux tinha dado uma condenação além do Mauro Cid.

 

Fernando de Barros e Silva: Abolição violenta do Estado.

 

 

Ana Clara Costa: Abolição… Exato. O Fux colocou sete anos. O que acontece quando cada ministro fala a dosimetria do seu voto ali, naquele momento, no final do julgamento, eles estavam buscando — “bom, se o nosso voto tem um pouquinho de diferença em relação a voto do relator, vamos votar junto com o relator”. Então, se o voto do Alexandre era por seis anos e o do Flávio Dino era sete, o Flávio Dino foi lá e falou: “não, vou baixar para seis para votar todo mundo junto com o relator”. O Fux, que foi o único voto dele com uma condenação minimamente expressiva, disse que não ia votar junto com o relator, que ia manter os sete anos. Então, até nisso, até nesse detalhezinho da condenação do Braga Neto, que ele poderia ter arredondado para seis anos para seguir a turma, ele disse que não ia fazer isso, que ia manter os sete anos. Então, assim, eu acho que por aí você já vê a dimensão histórica do que vai ficar.

 

Celso Rocha de Barros: Sujeito mesquinho, né? Um sujeito pequeno.

 

Fernando de Barros e Silva: Um sujeito patético ou pateta até o fim.

 

 

Celso Rocha de Barros: Exato.

 

Fernando de Barros e Silva: Ana, então para a gente arrematar esse primeiro bloco rapidinho, os próximos passos. Quais recursos cabem aos condenados? E quando é que o Jair vai trocar a tornozeleira pela cana, como diz o Celso?

 

Ana Clara Costa: O único recurso cabível nesse caso é o embargo de declaração, porque o embargo infringente, quando você tem um placar de 4 a 1 em prol de uma condenação, o embargo infringente acaba não sendo possível, né? O que é possível é o embargo de declaração, que é uma discussão, na verdade, que não é o mérito da condenação, é só uma discussão sobre dúvidas em relação à condenação.

 

 

Fernando de Barros e Silva: Então o infringente seria?

 

Ana Clara Costa: O infringente você consegue fazer alguma mudança. O embargos de declaração muito difícil. Acho que a gente já falou disso no foro.

 

Fernando de Barros e Silva: Pro infringente teria que ter dois votos divergentes, né? Dois votos contra.

 

 

Ana Clara Costa: Pelo menos.

 

Fernando de Barros e Silva: Né? No mínimo dois, no caso.

 

Ana Clara Costa: E bem divergentes, né? Bem divergentes. Então, a expectativa é de que eles entrem com pedido de embargos de declaração, mas que isso não tem o potencial de mudar o destino de ninguém ali. E a partir disso, existe até a possibilidade de —como existe esse consenso de antecipar o trânsito em julgado e daí a expectativa de que a prisão ocorra num período curto. Mas tudo isso vai acontecer a partir do momento que os ministros publicarem o acórdão da decisão que ainda não foi publicado. Então é isso. A coisa deve acontecer de uma forma meio rápida.

 

 

Fernando de Barros e Silva: Muito bem. A gente encerra então o primeiro bloco do programa. Fazemos um rápido intervalo. Em seguida, nós vamos falar deste quase inacreditável voto de Luiz Fux nessa semana.

 

Fernando de Barros e Silva: Muito bem, Celso. Vamos começar com você. E eu acho que temos que começar pelo voto, à sua maneira, histórico de Luiz Fux, né?

 

Celso Rocha de Barros: Cara, assim, os argumentos do Fux se despediram dos fatos logo no começo do seu voto e nunca mais sequer mandaram lembranças, entendeu? Não há resquício — se mandar uma perícia policial lá para eles acharem rastros de vínculo com a realidade ou de conexão lógica — nos argumentos do Fux. Você não vai achar. É amplamente bizarro, é absolutamente sub profissional, um negócio completamente constrangedor. Ele ia citando um monte de autores que não tinham nada a ver com que ele estava falando, cara. Inclusive autores que claramente acham o contrário do que ele estava dizendo. E a citação do Fux era sempre um negócio genérico, seguido de uma besteira em particular. Então ele dizia assim Hans Kelsen dizia: “para condenar só com prova”. E aí ele dizia: “logo, o almirante Garnier não fez nada”. Pelo amor de Deus, cara, entendeu?

 

 

Fernando de Barros e Silva: Sim.

 

Celso Rocha de Barros: Então assim foi um negócio realmente, do ponto de vista intelectual, do ponto de vista, de olhar para uma pessoa de quem se espera uma performance de alto nível colapsando, entendeu? Desmoronando na frente de todo mundo. Foi constrangedor e até dava uma certa pena, mas a pena passava quando você prestava atenção e você notava que não era só isso que estava acontecendo ali. Você via que o Fux sabia exatamente o que ele estava fazendo. O voto dele foi claramente uma entrevista de emprego para alguma coisa que a gente não sabe o que é. A gente não sabe se foi uma entrevista para pedir visto na embaixada americana. A gente não sabe se foi um pedido de demissão no STF da Constituição de 88, uma entrevista de emprego para um novo STF castrado que a extrema-direita quer implementar. A gente não sabe se foi uma entrevista de emprego para ser ministro da Justiça do Tarcísio, mas ele claramente não estava falando para os seus pares no Supremo Tribunal. Ele estava falando para a Câmara, para alguém. No começo do voto do Fux, você ainda tinha alguma esperança de que ele ia se ater aos princípios mínimos da dedução lógica. Porque ele começa com uma discussão sobre o Foro, sobre a questão de votar no plenário ou na turma. O foro é questão pacificada, o que ele está falando é bizarro. Mas a questão da Primeira Turma, tem gente que acha que devia ser no plenário, entendeu? Esse é o entendimento já estabelecido. Ele está inventando coisa agora. Não é para ele fazer isso. Mas enfim, é uma discussão legítima. Enfim.

 

Fernando de Barros e Silva: Muita gente acha que no plenário seria mais adequado. Eu estou entre essas pessoas, mas isso não era naquele momento que isso seria… Isso já tinha sido decidido.

 

 

Celso Rocha de Barros: Isso já tinha sido pacificado.

 

Fernando de Barros e Silva: Exatamente.

 

Celso Rocha de Barros: Bom, eu imagino que quando o Fux ganha uma discussão, ele espera que os caras que perderam sigam a decisão da maioria, certo? E ele não fez isso. Agora, daí em diante, cara, realmente não tem nada o que fazer com o voto dele. Cara, nem parece um documento jurídico. Eu sugiro que o ouvinte contraste o voto do fluxo com a defesa do Bolsonaro feita pelo Celso Vilardi. A defesa do Bolsonaro — agente já discutiu aqui — o que o cara tá falando é mentira, mas como é que não vai ser mentira, né, cara? Você tem que dizer que o Jair é inocente. Como é que você vai fazer isso? Mas é um negócio construído de maneira profissional por um cara formado em Direito, que sabe mais ou menos onde é que ele pode tentar alguma coisa na delação do Cid, é na questão do Foro ou alguma outra coisa assim, é tentando procurar pequenas lacunas na cadeia de evidências. Enfim, coisa de advogado profissional. O que o Fux fez é completamente diferente. Eu até escrevi um artigo para a Folha chamado “Fux mentiu”, daí você já deduz que eu não gostei muito do voto. Mas é assim, eu escrevi isso em cima da hora e teve um negócio muito importante que eu perdi: eu acho que a chave para entender a argumentação vagabunda do Fux nesse voto, é o que ele diz sobre a acusação de organização criminosa.

 

 

Fernando de Barros e Silva: Perfeito.

 

Celso Rocha de Barros: Porque quando ele recusa a história da organização criminosa, aí ele sai quebrando cada episódio como se fosse só um episódio isolado.

 

Fernando de Barros e Silva: Vai atomatizando tudo como se nada fizesse sentido.

 

 

Celso Rocha de Barros: Exatamente. E aí vai parecendo que isso aqui é só uma maluquice. Isso aqui foi só Mauro Cid que fez, aquilo ali foi só a Débora do batom que fez, enfim. Agora, o argumento dele para se livrar da acusação de organização criminosa é uma vergonha, cara. Então, ele basicamente tem duas linhas de argumentação: a primeira é a questão de ausência de crimes indeterminados. O que quer dizer isso para você dizer que está tendo uma organização criminosa? Você tem que dizer assim: “olha, não é só que esses cinco caras aqui para cometer um crime específico foram lá e cometeram. Então, isso aí é os dois cometendo o mesmo crime. Para ser uma organização criminosa tem que ter uma certa estabilidade da organização para cometer crimes no futuro, para cometer crimes que o cara ainda não sabe. Então o Comando Vermelho, o Comando vermelho, trafica cocaína, cobra proteção em favelas, essas coisas. Mas assim, ele é uma organização que se presta a ganhar dinheiro de várias coisas. A gente vê que o PCC tá mexendo com fintech, enfim. Então, assim, a organização existe e sai procurando crimes, crimes futuros. E ele diz que isso não tem. Ele diz que, na pior das hipóteses, os caras estavam se juntando só para cometer aquele golpe de Estado. Então não pode ser considerado organização criminosa. Bom, além desse negócio de crimes indeterminados, porque a organização do Bolsonaro evidentemente foi formada para dar um golpe de Estado e assumir o governo, essa organização criminosa do Bolsonaro, se tivesse dado certo o golpe, seria o partido governante do Brasil. Seriam os caras que controlariam as Forças Armadas, o Congresso, a imprensa, etc. Então eles tinham, evidentemente, a intenção de cometer crimes futuros, entendeu? Não só a abolição do Estado de Direito, mas eles iam censurar a imprensa, eles iam fechar o Congresso, eles iam matar opositores, eles iam cometer todos esses crimes que a gente sabe que ditadura comete. Então é bizarro o Fux dizer que não tinha intenção de cometer crimes indeterminados. É grotesco, não tem, não tem nenhuma possibilidade de você tratar a lei sobre isso como um documento escrito em português e interpretar do jeito que o Fux interpretou. E o outro argumento dele sobre essa história de organização criminosa que ele diz assim: “não, tem uma majoração para quando tem arma de fogo”. Ele diz: “olha só, ninguém usou arma de fogo”, aí a primeira mutreta dele é como ele já quebrou tudo em episódios individuais, ele vai dizer: “olha só, o cara propôs o golpe para meninos do exército, não tem arma de fogo”… Enfim, ele vai fazendo essa sacanagem do começo ao fim, que é tudo mutreta. Agora, evidentemente tem arma de fogo. Os kids pretos iam matar o Alexandre de Moraes, o Lula e o Alckmin com o que, entendeu? Fazendo cafuné com muita raiva em cima dos caras, entendeu? Pelo amor de Deus. Assim, como disse alguém ai, porque punhal não é arma de fogo, né? Punhal verde amarelo.

 

Fernando de Barros e Silva: Exato. E as pessoas que durante meses ficaram acampadas em frente aos quartéis do Exército, que são locais de segurança máxima, que não pode acampar e que isso foi permitido pelas Forças Armadas e foi permitido pelo presidente. Nesses lugares as pessoas não estão lá para rezar. Como disse o Flávio Dino, até podem rezar, mas ali é um lugar que você tem arma.

 

Celso Rocha de Barros: Exatamente.

 

 

Ana Clara Costa: Tanto que foram encontradas essas armas, inclusive nesses acampamentos. Houve um atentado à bomba.

 

Celso Rocha de Barros: Exatamente.

 

Ana Clara Costa: Parido por pessoas desses acampamentos.

 

 

Fernando de Barros e Silva: Atentado a bomba e um dos envolvidos era funcionário do gabinete da Damares.

 

Celso Rocha de Barros: Exatamente.

 

Ana Clara Costa: Não, eles estavam no acampamento. Sem querer interromper demais o Celso. E o Fux, faz questão de no voto dele trazer os acampamentos e falar que eles eram perfeitamente legítimos, que não tinham mesmo que tirar os caras de lá. Ele não chega a fazer essa argumentação desnecessária.

 

 

Sonora: Nesse ponto, ele realmente manda às favas os escrúpulos da consciência, como dizia Jarbas Passarinho. Porque ele diz assim: “não, autoritário seria o Bolsonaro tirar os acampamentos dali”. Cara, ninguém pediu pra ele tirar ele na porrada. Todo mundo tá pedindo para o Bolsonaro ir lá e dizer para os caras: “eu perdi a eleição, a eleição foi limpa” e os caras mesmos ir embora. Mas o Fux dá a entender que quando você diz que devia acabar com os acampamentos, seria sentar a porrada nos acampamentos. Obviamente não é isso. E, evidentemente, para quem que o Bolsonaro propôs o golpe? Não foi para o cara do Itamaraty, para o ministro da Pesca, entendeu? Foi para as Forças Armadas, entendeu? Então, basicamente, ele pegou os caras que tem arma e falou: “vamos cometer um crime”. O que nos traz a outro ponto do Fux, que é absolutamente enlouquecido, que é quando ele diz assim: “não, mas ficou tudo no momento preparatório, os caras não chegaram a tentar”. O critério para você saber se ficou no preparatório ou não, é: qual é a distância entre o que os criminosos fizeram e o que eles queriam conseguir? A distância é um monossílabo: “não”, que foi dito pelos comandantes do Exército e da Aeronáutica. Se o Fux acha que essa distância é grande demais, cara, o que que ele acha que seria suficiente? Ele basicamente está propondo a abolição do crime de tentativa de golpe de Estado. Ele basicamente está querendo dizer que o Estado só é crime se der certo. E aí aquela velha história, e aí, como é que você processa? Enfim, é tudo muito ruim, não é só que tá errado. Um cara pode estar errado argumentando bem, ele pode ter cometido um equívoco. Mas isso aqui, evidentemente, foi feito sem nenhum cuidado. Só para dar mais um exemplo — podia, claro, podia ficar horas aqui falando sobre isso. Ele vai e fala que “não, não tinha crimes indeterminados”. Certo. Ninguém estava pensando em crimes futuros. Mas aí, cara, é difícil de acreditar que alguém teve a cara de pau de fazer isso. Ele absorve o Garnier, o almirante da Marinha que, segundo os seus colegas do Exército da Aeronáutica, aceitou dar o golpe. E olha só que maravilha que o nosso amigo Luiz Fux vai dizer. Ele diz que o que aconteceu é que ele tava em duas reuniões e ele disse: “essa conduta, ainda que se admitisse ter efetivamente ocorrido não preenche as elementares, os tipos penais, os artigos — ai vai lá — golpe de Estado”, etc. “Correspondendo a pena, em tese, à sua disposição em participar de um evento criminoso futuro e incerto.” Número um: evento criminoso, futuro e incerto é ato de crime indeterminado. Então pronto, Fux, leia o final do seu voto e muda o começo. Mas, segundo lugar, o crime não é tão futuro assim não, meu amigo. Se os outros dois tivessem dito sim, o crime era amanhã. Então, cara, é muito inacreditável quão ruim é isso. Se você ouviu alguém falando que o voto do Fux for ruim, você deve estar pensando “pode ser um exagero”. Eu te garanto que é pior do que você imagina, entendeu? Nunca teve um negócio desse no Supremo. E Marco Aurélio de Mello já foi ministro do Supremo. Agora, um troço que eu acho que a gente tem que comentar: em um determinado momento, o Fux começa uma digressão sobre a democracia. Ele começa a falar “a democracia é muito importante, tal, tal, tal”. E ele vai encaminhando a discussão para dizer que o Brasil não é uma democracia tão boa assim e que, no fundo, isso tudo é perseguição política. E cara, o nível de distorção e de desonestidade na utilização dos autores porque esses, ao contrário do juristas, eu conheço, é gritante, entendeu? Se você mostrar isso para qualquer um desses autores que ele tá citando, o cara vai chorar e vai querer bater no Fux. Porque, por exemplo, na matéria da The Economist, ele diz assim até quando publicou uma matéria feita por um freelancer.

 

Fernando de Barros e Silva: Porque tem isso que você falou que é importante que nenhuma reportagem, nenhuma matéria da Economist tem assinatura.

 

Celso Rocha de Barros: E aí é o seguinte, ele diz que tem uma contradição entre dizerem que o Brasil é um modelo para as democracias do mundo para julgar o Bolsonaro e, ao mesmo tempo, reclamar da democracia brasileira no índice da Economist Intelligence Unit, que é um instituto de pesquisa ligado a The Economist, que faz um ranking de democracia. Em primeiro lugar, não tem contradição nenhuma nisso. Se você pega os motivos do caiu a nota um pouquinho do Brasil, a The Economist discorda da postura brasileira contra redes sociais. Eles são uns caras meio libertário. Eles acham que não tem que ter regulação nenhuma. Mas, sobretudo, o que caiu a democracia brasileira, que teve uma tentativa de golpe de Estado, que é isso que o Fux está julgando, cara. Então, a The Economist está dizendo assim: “Fux o cara é culpado”. E o Fux finge que não vê. Então você tá dizendo assim: “eu achei ruim para a qualidade da democracia brasileira o Jair tentar um golpe. E eu acho bom para a qualidade brasileira o Jair ser julgado”. Não tem contradição nenhuma nessas coisas, evidentemente. Agora, a outra picaretagem é o Fux. “Ah, mas eles falam que a gente é “flaw democracy”, que a gente é uma democracia falha. É a mesma categoria dos Estados Unidos, cara, é a mesma categoria de Israel. As democracias full no ranking da Intelligence Unit são Canadá, a Suécia. Assim, os países excepcionalmente estáveis, quase tudo país muito rico, com algumas honrosas exceções, como Costa Rica e Uruguai. Mas quase tudo é Europa do Norte, Austrália, Nova Zelândia, Japão, essas coisas. Então, assim, a maioria das democracias do mundo é , do ponto de vista do instituto, flawed, o que, aliás, faz sentido. Alguém aqui acha que a democracia brasileira é da mesma qualidade que é da Suécia? Tá certo. Então o Fux está tentando dizer que a democracia brasileira é muito ruim comparada às outras. Mas não, a gente só tá abaixo numa categoria que tem Suécia, Canadá, aqueles caras lá e tamo junto com os Estados Unidos e Israel. Ele também faz uma outra picaretagem, que é pegar a discussão da Freedom House, que é um outro instituto que estuda democracia. E aí ele só bota uma citação nada a ver lá, que não é sobre o Brasil, porque ele usa um relatório chamado Nations in Transit, que é só sobre o país, se não me engano, só sobre países ex-comunistas, a Europa Oriental e países asiáticos. Agora, o que ele poderia ter feito é pegar o índice geral da Freedom House, onde o Brasil é claramente classificado como uma sociedade livre. A Freedom House diz: “Não, O Brasil é um país livre, tem problemas — e aí os problemas não é nada que interessa ao Fux. É problema de polarização política, é problema de direitos LGBT, é problema de repórter que sofre violência, as coisas que é tudo verdade. Então, assim, ele está usando esses caras para dizer que olha só, todo mundo que estuda isso diz que o Brasil não é democracia. É exatamente o contrário. Esses caras que ele cita dizendo que o Brasil é uma democracia. Todos esses caras dizem que Jair Bolsonaro tentou um golpe. Então é muita sem vergonhice o cara fazer isso. E por que ele fez? Bom, vocês viram esse voto não foi só um voto. Esse voto foi um manifesto trumpista, certo? Assim, esse voto é o que o Paulo Figueiredo queria que o Villardi tivesse feito. Mas é sério. Vocês pegaram o Paulo Figueiredo antes do julgamento e tá reclamando que a defesa do Bolsonaro não denunciava que aquilo era um julgamento político, que aquilo era um tribunal de exceção, que havia perseguição. Quando o Otávio Guedes falou na GloboNews: “olha só, enhum dos advogados disse que é tribunal de exceção”. O Paulo Figueiredo falou: “o Otávio Guedes tem razão”. “É uma pena. Ninguém está denunciando.” Claro, porque esses advogados são advogados, são profissionais do Direito. Então sobrou para o Fux falar aquilo que o Paulo Figueiredo queria que fosse dito. Se você levantar a peruca do Fux enquanto ele está lendo o voto, está o Paulo Figueiredo em cima da cabeça dele, embaixo da peruca, ditando para ele o que ele tem que dizer, entendeu?

 

 

Ana Clara Costa: Aí eu imaginei aqui.

 

Fernando de Barros e Silva: Inclusive a gente tava conversando aí desde o dia do voto, que havia vários trechos que claramente destoavam dos próprios votos dele, não só no entendimento, mas frases que destoavam.

 

Celso Rocha de Barros: Não, posicionamento ideológico. O voto do Fux de ontem é um voto de direita muito radical. É um voto que, para livrar o Bolsonaro, vai puxar mensalão. Você vai puxar isso contra o Alexandre de Moraes quem botou o Alexandre de Moraes foi o Temer, cara. Aí é um voto que fica puxando um monte de assunto, que é meio meme de direita. Então, basicamente assim, o voto do Fux foi uma vergonha. E eu acho triste que quando a gente disser como a gente provavelmente vai poder dizer que o Supremo Tribunal Federal resistiu à pressão do Trump, resistiu à pressão do centrão e conseguiu, pela primeira vez na história, julgar um golpista. A gente vai ter que botar uma nota de rodapé, disseram: o STF, menos Luiz Fux.

 

 

Fernando de Barros e Silva: Sim. Ana, você está em Brasília. Você está aí. Você acompanhou de perto esse momento constrangedor do Fux, o comportamento dos outros juízes. Enfim, queria que você falasse um pouco que você viu o que você apurou.

 

Ana Clara Costa: Bom, queria começar um pouco pela imagem do julgamento, né? O Fux desde o primeiro dia do julgamento essa semana, que foi na terça-feira, desempenhou um papel, digamos, de tensionamento dentro da corte. Então, quando o Flávio Dino, no primeiro dia de julgamento essa semana, que foi na terça-feira, dia nove, faz uma colocação em cima do voto do Alexandre de Moraes, uma colocação que o Alexandre de Moraes permitiu que ele fizesse, né? Ele pediu essa autorização para fazer e fez. O Fux entrou nessa manifestação do Dino com um tom bem acima ali do que estava sendo colocado, porque eles estavam conversando ali, numa dinâmica até bem amigável. E o Fux, ele inseriu o primeiro ponto de tensionamento naquele momento, dizendo que quando ele fosse votar, ele não ia admitir interrupção. Era absolutamente desnecessário ele fazer essa colocação naquele momento. Primeiro, não era o voto dele, era o voto de outra pessoa. Então, a partir do momento que ele faz essa colocação lá no Supremo, ele já tensionou entender uma situação que estava aparentemente amigável ali, pelo menos nas câmeras e dentro do ambiente em que eu estava, mudou. Você teve uma mudança de energia. Quando começa o voto dele na quarta-feira, já era assim, outro Supremo. Os ministros praticamente não olhavam para a cara do Fux, exceto o Cristiano Zanin, que tentava pelo menos acompanhar o que ele estava dizendo com os olhos em alguns momentos mais do que os outros. O Alexandre de Moraes nem olhava. Ficava o dia inteiro no computador ou no celular. Cármen Lúcia, Flávio Dino.

 

Fernando de Barros e Silva: E o Fux, tampouco com o pretexto, não é pretexto. Ele tinha que ler. Mas ele também evitou olhar para os outros ministros. É aquele sujeito que tá fazendo coisa errada e sabe que está fazendo coisa errada. Então dá uma olhadinha assim, rápida e continua.

 

 

Ana Clara Costa: Pois é, mas você sentia pelas expressões dos ministros um ambiente de conflito. E isso porque o Fux nem tinha começado a parte do voto em que ele faz uma crítica ao próprio Supremo. É aí que eu queria entrar: o Fux, ele poderia e seria legítimo e até bem-vindo para as instituições fazer um voto contrário a esse inquérito. Ele tem pontos que são questionáveis no aspecto jurídico. Há divergências que geram debates no mundo jurídico e muitas delas foram trazidas pela própria defesa. E são divergências que estão acontecendo já tem um tempo e, apesar delas, o Fux aceitou a denúncia, né? Toda crítica que ele fez, técnica, à denúncia da PGR no voto, ele tinha pensado diferente no momento em que ele aceitou a denúncia e disse que ela estava bem formulada. Bom, tudo bem, ele pode ter mudado de ideia, né? As pessoas mudam de ideia ali do dia para noite. Ele pode ter mudado de ideia. Ele trouxe um outro ponto também que as defesas colocaram, que foi a questão do tsunami de dados que o próprio Fux deu esse nome, né? Nem as defesas tinham dado esse nome. Elas apenas disseram que havia 70 terabytes comprimidos de arquivos que eram dificílimos de ver e que eles não tiveram tempo de ver. E o Fux trouxe esse argumento para o voto dele e eu fiquei me questionando na hora. Falei: “pô, se ele achou que não deu tempo, por que ele não pediu vista”, né?

 

Fernando de Barros e Silva: Como diz o nosso amigo Renato Terra, o pessoal achou que ele fosse pedir vista e ele pediu visto.

 

Ana Clara Costa: Pois é. O fato é que ele poderia ter ficado no aspecto jurídico plenamente válido. A questão é que ele partiu muito cedo para um manifesto, como o Celso falou. É um voto ideológico que congrega todos os pontos, não só das defesas dos réus, mas do bolsonarismo nas redes. Você conversa com o deputado do PL, etle aponta as mesmas coisas para justificar 8 de janeiro para justificar os acampamentos no Exército, para justificar argumentos que o Fux anexou ao voto dele, incorporou o voto dele. Então, a decisão dele de fazer esse voto é uma decisão que envolve um pensamento político e um pensamento ideológico, sobretudo ali. Um ponto que me chamou muita atenção é que ele, ao questionar o foro, né? De que o Supremo não seria o foro adequado para esse julgamento, ele traz um fato que nem as defesas do Bolsonaro e do Braga Netto pensaram. Ele cita que o primeiro condenado pelo golpe foi condenado na Justiça Comum. Isso é uma das bases para a tese de que o foro não é adequado. Então, assim, ele conseguiu pescar um argumento que nem o Celso Vilardi e nem o Juca, que é advogado do Braga Netto, que são criminalistas competentíssimos, conseguiram resgatar.

 

 

Fernando de Barros e Silva: O Juca e o José José Luiz de Oliveira Lima.

 

Ana Clara Costa: Isso, segundo o levantamento feito pelo Globo, a Primeira Turma do Supremo votou junto com Moraes em 95% dos processos criminais. O Fux, curiosamente, votava junto com eles também, mas começou a divergir em março, logo depois que a denúncia foi recebida. Então, a atitude dele dá a impressão que alguma coisa aconteceu nos últimos meses que fez com que ele mudasse de visão e pelo voto dele, a impressão que se tem é que é algo político que aconteceu e não é técnico. E quando eu falo que ele usou argumentos do WhatsApp bolsonarista para justificar politicamente esse voto, eu estou falando até do que o Celso mencionou. Você comparar com o que aconteceu no 8 de janeiro com 2013, sendo que 2013 não teve Forças Armadas quando os protestos começaram, ele comparou até com ocupações no MST, no voto dele. E são coisas que você ouve conversando com deputados do PL. Eu achei curioso também quando ele menciona o conceito de golpe, ele se detém muito nisso para dizer o que, que é um golpe. E ao dizer o que é um golpe, ele quer dizer que o que aconteceu no 8 de janeiro não foi um golpe, ou o que aconteceu antes do 8 de janeiro não foram atos executórios de um golpe. E aí, poxa, ele é um jurista, né? Um juiz, foi um juiz antes de se tornar.

 

Fernando de Barros e Silva: Há controvérsias de que ele é um jurista.

 

 

Ana Clara Costa: Bom de formação, ele é um jurista. Ele tem seus 70 anos ali, ou quase. É o guardião dos guardiões da Constituição. Ou seja, ele entende a formação daquela Constituição e é sobre ela que ele toma as decisões dele. E na hora que ele fala sobre o conceito de golpe, eu achei muito curioso que ele recorre a teóricos americanos para dizer o que é golpe. Um cara que tem essa idade, essa formação. E quando eu falo em idade, vocês vão falar que eu estou sem etarista, não é por isso. É porque tendo essa idade, significa que ele não viveu, não trabalhava, óbvio, durante o golpe militar, mas nasceu no contexto de um ambiente não democrático e se tornou advogado dentro de um ambiente não democrático. Do mesmo jeito que ele recorre à Primeira Emenda da Constituição americana para falar sobre liberdade de expressão, que não é o mesmo conceito de liberdade de expressão que está na nossa Constituição. Então eu fico me perguntando onde que ele bebeu assim, na fonte teórica dele, para conceber que teóricos outros entendem mais o conceito de golpe do que ele próprio que nasceu no Brasil. E um outro ponto que eu queria trazer aqui, que na verdade é mais um bastidor. É normal que os ministros do Supremo recebam as defesas ao longo do processo, ainda mais num processo como esse. O Fux só começou a receber as defesas do Bolsonaro e do Braga Neto, no caso o Juca e o Celso Villardi, depois que ele foi acionado ou procurado, houve uma certa insistência do núcleo duro do Bolsonaro para isso.

 

Fernando de Barros e Silva: Não consta da sua apuração que o Fux tenha recebido durante essas visitas de presente, um fixador de cabelo. Então, fica essa dúvida para a opinião pública a respeito deste ponto central. Bom, juridicamente patético, politicamente suspeito, constrangedor em todos os sentidos. Este foi o voto de Luiz Fux. E com isso eu encerro então este bloco brilhantemente conduzido por vocês dois. E vamos para o rápido intervalo. Na volta vamos falar mais do julgamento. Vamos falar de Tarcísio de Freitas, do Projeto de Anistia. Já voltamos.

 

Fernando de Barros e Silva: Muito bem, Estamos de volta. Ana Clara, vamos começar com você. E para dar continuidade… A semana foi tão, tão intensa e a coisa do Fux foi tão desconcertante que a gente quase esqueceu, mas não esqueceu que o Tarcísio falou que no domingo, no evento lá dos Patriotas, com 203 aspas de cada lado, que a Tirania do Alexandre de Moraes tinha que acabar, né? Você tem apuração juntando esse movimento pela Anistia, movimento no Congresso e a participação do Tarcísio com o voto do ilustríssimo, Vamos lá.

 

 

Ana Clara Costa: Bom, vamos lá. Pegando o gancho do Tarcísio, Fernando, conversando com algumas pessoas do PL e ligadas ao Bolsonaro nesses últimos dias. Esse movimento do Tarcísio de radicalização do discurso foi calculado pelo seguinte — quando eu falo que foi calculado, não quer dizer que ele não pense tudo aquilo, tá? Vamos deixar bem claro. Obviamente, ele deve pensar tudo aquilo, mas o timing desse discurso no 7 de setembro é o seguinte: como o objetivo dele é ter o apoio do Bolsonaro, né, para ser o candidato do bolsonarismo, etc. E ele precisa mostrar que ele defende essas bandeiras que ele considera hoje importante. Ele, digo, o Bolsonaro. Ele fazer essa sinalização antes da condenação era importante, porque se ele esperasse o Bolsonaro ser condenado para depois atacar o Alexandre de Moraes, para depois fazer essa defesa tão vocal da anistia, poderia soar como oportunista para o bolsonarismo. Então, agora que o Bolsonaro está preso e você não fez nada contra isso, não fez nada. Agora você está dizendo que o Alexandre de Moraes está errado, que ele é um tirano, etc? Então, assim, ele já é visto como um traidor pelo bolsonarismo. Se ele esperasse a condenação para mostrar essa cara, ficaria mais difícil de convencer essa franja mais radical do próprio radicalismo dele, entendeu? Então, a decisão do timing do 7 de Setembro foi essa. Precisava ser antes da condenação.

 

Fernando de Barros e Silva: Essa coisa do Tarcísio não é trivial, né? Teve gente falando que ele rasgou a fantasia do Democrata tal. Ele não rasgou nenhuma fantasia porque ele não tinha essa fantasia.

 

Ana Clara Costa: É, ele vem numa crescente. Ele já participava de todas as manifestações, embora ele não falasse contra o Alexandre de Moraes. Ele conseguiu as assinaturas para a urgência da Anistia lá em abril. Ele fez o que ele fez no tarifaço. Então ele vem construindo esse novo Tarcísio ou esse Tarcísio, digamos, sem a roupa de moderado…

 

 

Celso Rocha de Barros: Fora do armário.

 

Ana Clara Costa: Já tem, já tem um tempo. Agora culminou em tirar a fantasia total. Mas aí ele já vinha tirando já faz tempo, entendeu?

 

Fernando de Barros e Silva: Sim.

 

 

Ana Clara Costa: Agora, falando em anistia, eu queria conectar um pouco esse assunto com o voto do Fux. Curiosamente, enquanto Fux votava nesse voto, você pode, sei lá, ir para Londres enquanto o Fux votava, né? Porque o cara votou por 15 horas. Mas enfim, enquanto ele votava eu tava tomando alguns cafés em Brasília e um desses foi com um parlamentar do PL bem relevante ali na bancada do PL, e ele tava enfim encantado com o voto do Fux, dizendo que foi muito melhor do que eles esperavam, que eles já esperavam que fosse vir um voto favorável para o Bolsonaro, mas não tanto. Então assim foi surpreendente. E você pegar a pessoa no calor do momento é muito interessante, né? Porque ela não consegue fingir assim a alegria e você vê ele recebendo as ligações de outros bolsonaristas na hora também, super empolgados com o voto. E eles tavam assim no céu. Por que eles estavam no céu? Porque o voto Fux não absolve o Bolsonaro no sentido da turma. Tudo indica que vai condenar. Não livra o Bolsonaro de nada. Mas eles consideram que o voto do Fux é um manifesto pela anistia. Pegando a palavra de novo que o Celso usou.

 

Fernando de Barros e Silva: O voto do Fux é uma plataforma de voo para novos golpes. O Fux stabeleceu as bases. O Fux é o novo Ives Gandra. Essa é a verdade, viu?

 

Ana Clara Costa: Bom, então eles avaliam que o voto do Fux cria uma dissidência importante dentro do Supremo e isso pode ter um impacto na conduta do Hugo Motta na pauta da anistia. Eles acham que Hugo Motta não pauta a anistia e não pautou até agora por receio do Alexandre de Moraes e que, com o voto do Fux, essa reticência do Hugo Motta, digamos, vai se dissolver. Por outro lado, o governo, porque eu também encontrei com pessoas do governo ontem, há uma preocupação muito grande com o voto do Fux. Não necessariamente pela questão da anistia, por fortalecer a ideia da anistia, mas porque eles consideram esse voto um instrumento jurídico para os Estados Unidos usarem contra o Brasil. Então, a partir do momento que os Estados Unidos consideram que o Brasil virou Venezuela, por exemplo, para eles, diante dos olhos dessa tresloucada Casa Branca, você ter um voto como esse, com essa duração, com esse conteúdo, dá um embasamento jurídico para eles dizerem que existe resistência no Brasil, que eles estão certos. Inclusive para o que seria, talvez o cenário mais extremo, que é de chegar em 2026, na hipótese de Lula se reeleger, os Estados Unidos não reconhecerem a eleição do Lula e reconhecerem, sei lá, a do outro candidato por 1000 razões. Então assim, o voto do Fux é visto pelo governo como um adendo importantíssimo para a estratégia dos Estados Unidos de influenciar na mudança de regime no nosso país.

 

 

Fernando de Barros e Silva: É, é uma base mesmo para futuros golpes. Celso.

 

Celso Rocha de Barros: Então, Fernando, tem uma outra coisa que eu queria dizer sobre o voto do Fux é o seguinte: você vê o quanto o voto é ruim quando você analisa a história que o voto está contando sobre a tentativa de golpe. Então, se você pegar o voto do Alexandre de Moraes, você tem lá uma história perfeitamente plausível. O Bolsonaro perdeu a eleição, a recrutou o vice-presidente dele, o principal assessor dele e outros generais de perfil ideológico semelhante, que já vinham se manifestando nessa linha há muito tempo e tentam um golpe de estado. E uma série de iniciativas feitas por essa organização criminosa que culminou no 8 de Janeiro. Enfim, mas você tem uma história que faz um certo sentido. Os caras de baixo obedecendo aos caras de cima.

 

Fernando de Barros e Silva: Inclusive a escolha do Braga Netto só se justifica com esse propósito porque ele não agregava um voto.

 

 

Celso Rocha de Barros: Como candidato a vice.

 

Fernando de Barros e Silva: Quando a gente vai conhecendo quem é o Braga Netto conforme o tempo vai passando.

 

Celso Rocha de Barros: Não. Exato. Tanto que o pessoal do Centrão sempre quis a Tereza Cristina para ministra da Agricultura, mas ela não ia ajudar Bolsonaro a fazer o golpe, a levantar quartel.

 

 

Fernando de Barros e Silva: Exato.

 

Celso Rocha de Barros: Então, assim, a história do golpe pelo voto do Alexandre de Moraes faz total sentido. A história do golpe pelo voto do Flávio Dino também faz sentido. O que ele faz mais questão de enfatizar que houve papéis mais ou menos importantes e a gente pode concordar ou não com o que ele acha que o Heleno é menos importante, que o Paulo Sérgio menos importante, enfim, é digno de debate. Mas essa história também não é absurda. A história que o Luiz Fux está contando foi roubada de mim. A tese do Luiz Fux sobre o golpe e a minha tese sobre a Marylin Gandra, a minha tese do golpe surpresa em que todo o Braga Netto e o Cid organizariam um golpe por Bolsonaro sem ele saber e um dia chegariam lá. Uma festa surpresa sairia do bolo o Ives Gandra vestido de Marilyn Monroe e cantando Happy Golpe e Mr. President. O Fux roubou a minha tese, entendeu? Porque é exatamente isso que se depreende da história do Fux, que absolveu todo mundo do topo e deixou o Maurico Cid, as Débora do Batom e o Braga Netto com o pincel na mão, entendeu? Então a tese que o Fux está tentando te convencer é isso, é a tese da Marilyn Gandra. Só que, aparentemente, o Fux tem o propósito de, no futuro, substituir o Ives Gandra dentro do bolo vestido de Marilyn, entendeu? Mas a tese é exatamente a que eu tinha mostrado aqui no programa.

 

Ana Clara Costa: Demorei uns segundos para entender Marilyn Gandra.

 

 

Fernando de Barros e Silva: Na nossa audiência temos cartunistas. Façam esse desenho, ouvintes, por favor, mandem para gente. Faça esse desenho. Dá de presente para o Celso. Isso que ele merece. No fundo, toda essa indignação do Celso se justifica por isso. O Fux roubou.

 

Celso Rocha de Barros: Roubou minha tese.

 

Fernando de Barros e Silva: Roubou a tese do Celso.

 

 

Celso Rocha de Barros: Exatamente.

 

Fernando de Barros e Silva: Vamos lá. Vamos falar de Tarcísio para arrematar o bloco, Celso. Por favor.

 

Celso Rocha de Barros: O Discurso do Tarcísio nesse ato da Paulista, eu acho que muita gente tá discutindo em termos assim: vamos ver o que isso diz sobre a personalidade dele. Vamos ver se isso diz, se ele é moderado ou radical, enfim. Mas tem um peso muito maior do que isso, porque, por exemplo, o Malafaia ir lá falar esse negócio é um absurdo. Mas enfim, o Malafaia não tem poder para tirar o Alexandre de Moraes de lá. Não tem poder para iniciar um movimento congressual, ele por si só, para tirar o Alexandre de Moraes. O Malafaia não tem gente no Exército, enfim. Agora o Tarcísio, candidato a presidente, se ele for presidente da República, achando que Alexandre de Moraes é um tirano e que o que o STF está fazendo agora é um julgamento de exceção, temos problemas porque, enfim, assim que o Tarcísio ganhar tem uma crise institucional. Então se o Tarcísio se acha mesmo isso, ele vai chegar lá e vai querer impeachment dos ministros do STF. Então, assim, não é só uma questão de o que que a gente está fazendo aqui, um teste de personalidade do Tarcísio. Se ele ganhar tendo dito o que ele prometeu na Paulista e que ele vai cumprir aquilo que o Flávio Bolsonaro queria que a anistia de qualquer jeito, se o Supremo declarar inconstitucional, lhe dá um jeito que for. Se ele pretende cumprir isso, é outra história. Mas que ele prometeu isso para os caras, que foi isso que eles entenderam. Para mim, é óbvio.

 

 

Fernando de Barros e Silva: Você tem razão de falar dele, mas isso se estende aos outros governadores de direita, o Zema quando se lançou — o Zema não tem chance de se eleger. Não vou queimar minha língua — mas ele quando se lançou candidato à presidência disse a mesma coisa: “Temos que acabar com a tirania do Alexandre de Moraes, etc”. O Caiado promete anistia também. O mais ambíguo nessa história toda, mas que também não se desvincula do bolsonarismo, é o Ratinho Júnior.

 

Celso Rocha de Barros: Que eu tenho a impressão que é mais inteligente que esses outros caras, mas não sei.

 

Fernando de Barros e Silva: Mas parece mais.

 

 

Ana Clara Costa: Ele já tá se movimentando porque, como o Tarcísio, ele foi para franja, a centro-direita neste momento ficou vaga, que é o lugar que o Kassab deseja, né? Então o Ratinho Júnior, que tinha aceitado que se o Tarcísio fosse o candidato, ele ia recolher a bola ali e esperar 2030, já voltou a falar de 2026.

 

Fernando de Barros e Silva: Claro, o Kassab está em todos os lugares, né? Esse movimento na centro-direita faz concessão ao bolsonarismo também, se precisar.

 

Ana Clara Costa: Sim.

 

 

Fernando de Barros e Silva: É isso, gente. Bom, encerramos então o terceiro bloco do programa. Vamos para um rápido intervalo. E na volta. Sim, Kinder Ovo. Já voltamos.

 

Fernando de Barros e Silva: Muito bem, estamos de volta. Mari Faria, seu momento de me humilhar. Vamos lá. Solta aí o Kinder Ovo.

 

Sonora: “Eu sempre falo que a vontade do Senhor Pai, ela é boa. Ela é perfeita e agradável. Pai, visita Pai, Jair Bolsonaro. Aquele soluço Pai, visita Pai a vida dele. Pai, toca na carne, no osso um espírito de renovo ali Pai. Para que ele possa ter um sono reparador e levar paz. Paz naquele coração, Pai.”

 

 

Ana Clara Costa: É uma voz que eu conheço.

 

Fernando de Barros e Silva: Não era o Senador… Esqueci. O senador do Espírito Santo não é.

 

Ana Clara Costa: O Magno Malta, Fernando, que você quis dizer?

 

 

Fernando de Barros e Silva: É Magno Malta que eu falei então.

 

Ana Clara Costa: A gente não sabe quem é.

 

Fernando de Barros e Silva: Você tá brincando? Vocês estão brincando que vocês não sabem? É difícil, mas quem fala é o deputado Hélio Lopes, também conhecido como Hélio Negão.

 

 

Ana Clara Costa: Putz.

 

Fernando de Barros e Silva: Rezando numa calçada em frente ao condomínio de Jair Bolsonaro, em Brasília.

 

Ana Clara Costa: Ah Mari, você tá de brincadeira, né.

 

 

Celso Rocha de Barros: Não, cara. Essa dava para saber.

 

Ana Clara Costa: Putzgrila! Nossa, não dava de jeito nenhum! Ele não abre a boca, cara! Como é que a gente vai saber o nome dele?

 

Fernando de Barros e Silva: Ele não abre a boca.

 

 

Celso Rocha de Barros: Vocês só ouvem gente inteligente falando. Como é que vocês querem ganhar Kinder ovo? Pô, ficam assistindo, sei lá, Roda Viva. Tem que ver essas tranqueira.

 

Fernando de Barros e Silva: O Adnet que falava, né? “E eu não sou racista, tá aqui o Élio Negão que está do meu lado”. Derrota coletiva. Encerramos o Kinder Ovo. Vamos então para o melhor momento do programa o correio Elegante, O momento das cartinhas. Momento de vocês. Eu começo então, com a mensagem do Artur Moraes, de Olinda, Pernambuco: “Celso, rindo demais, imaginando Ives Gandra saindo do bolo fantasiado do policial do Village People dançando YMCA. E fazendo uma surpresa para Bolsonaro. Fiquem com essa imagem cômica!”

 

Ana Clara Costa: Caramba, muito boa isso aí.

 

 

Celso Rocha de Barros: Valeu, Arthur!

 

Fernando de Barros e Silva: A gente fez uma homenagem a você no programa sem saber. A gente não sabia dessa carta. A Mari reserva várias surpresas para gente. Ela é um bolo atrás do outro aqui.

 

Ana Clara Costa: A Fernanda Raquel Tomaz postou: “Ouvir o Foro ao final de cada semana é uma experiência sempre impagável e que já compõe o meu mínimo existencial. Vocês são o meu vonau de toda sexta-feira. Chegam como alívio para a náusea que acompanha as notícias da semana inteira”. Beleza, o Foro é o vonau, Fernanda.

 

 

Fernando de Barros e Silva: Vonau, quero saber se vou nao de quatro miligramas ou de oito.

 

Celso Rocha de Barros: Gostei dessa.

 

Ana Clara Costa: Muito legal, Fernanda. Obrigada.

 

 

Celso Rocha de Barros: Valeu, Fernanda. O Alê Bastos mandou o seguinte: “Somos um casal e moramos em Ilhabela, São Paulo. Escutamos o Foro semanalmente, mas temos nossos desencontros de compromisso versus tempo livre. Na última semana não me contive e escutei o episódio sozinho” Pô aí não, né Alê? “Em uma conversa, ela disse que quase fez isso, mas ficou me esperando. Então, diante disso, estou precisando encher o meu cantil e peço que leiam meu depoimento ao vivo, demonstrando meu amor por Juliane, Ben e Yara. Yara, que é a nossa caçula que está sendo gerada na barriga da mãe. Amo vocês, família.” Pô Alê, beijão para vocês. Beijão para Juliane. Beijão para Ben e para a Yara.

 

Ana Clara Costa: Perdoa ele, Juliane.

 

Celso Rocha de Barros: Perdoa ele.

 

 

Ana Clara Costa: Juliana, Esses deslizes acontecem.

 

Celso Rocha de Barros: Exato.

 

Fernando de Barros e Silva: É isso. Beijo pra vocês.

 

 

Fernando de Barros e Silva: Bom, a gente vai encerrando assim o programa de hoje. Se você gostou, não deixe de seguir e dar five stars para a gente no Spotify. Segue no Apple Podcast, na Amazon Music. Favorita na Deezer e se inscreva no YouTube. Você também encontra a transcrição do episódio no site da piauí. Foro de Teresina é uma produção do Estúdio Novelo para a revista piauí. A coordenação geral é da Bárbara Rubira. A direção é da Mari Faria, com produção e distribuição da Maria Júlia Vieira. A checagem é do Gilberto Porcidônio. A edição é da Bárbara Rubira, da Carolina Moraes e da Mari Leão. A identidade visual é da Amanda Lopes. A finalização e mixagem são do João Jabace e do Luís Rodrigues, da Pipoca Sound, Jabace e Rodrigues, que também são os intérpretes da nossa melodia tema. A coordenação digital é da Bia Ribeiro, da Emily Almeida e do Fábio Brisola. O programa de hoje foi gravado aqui na minha Choupana, em São Paulo, no Estúdio Rastro do Danny Dee, no Rio de Janeiro e em Brasília, no hotel da Ana Clara. É isso Ana Clara, você comprou um hotel?

 

Ana Clara Costa: Isso.

 

Fernando de Barros e Silva: Eu me despeço então dos meus amigos Celso Rocha de Barros. Tchau, Celso.

 

 

Celso Rocha de Barros: Tchau, Fernando. Até semana que vem. E enfim, Jair aproveita o fim de semana.

 

Fernando de Barros e Silva: Tchau, Ana.

 

Ana Clara Costa: Tchau, Fernando. Tchau, pessoal! Até semana que vem.

 

 

Fernando de Barros e Silva: Como é que é aquela musiquinha? Tá na hora, tá na hora é do Jair já ir embora. Tô cantando errado. É isso, gente! Com ou sem musiquinha, uma ótima semana a todos! Bebam com mode… Não bebam com moderação. Bebam. E até semana que vem.

 

 

 

 

 

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