Já passou da hora da Fifa tomar providências quanto à questão das chuteiras. Está ridículo. Na seleção uruguaia, três jogadores usam um pé de chuteira de cada cor – pink e azul. O ótimo meio-campista marfinense, Yaya Touré, também. E ainda inventaram o diabo de uma chuteira inspirada na Fórmula 1. Como há vários jogadores desfilando com a dita cuja, trata-se obviamente de um lançamento de uma das grandes marcas – Adidas, Nike, Puma –, aproveitando a visibilidade da maior competição esportiva do planeta para apresentar o novo modelo. Nada contra. Só que frequentadores de estádios e telespectadores não são obrigados a suportar aquele bando de marca-textos desfilando pelos campos de futebol. Se no ano passado todos nós reclamamos de uma terrível bola cor de abóbora que a CBF nos impingiu, o que dizer de 22 pares de chuteiras, cada um numa cor diferente, correndo no gramado?
Não faz muito tempo, os times podiam entrar em campo com calções da mesma cor. Era bonito ver, por exemplo, um jogo entre Internacional e Cruzeiro. As camisas vermelhas de um, as azuis do outro e os calções brancos de ambos davam um belo efeito sobre o verde do gramado. Até que a Fifa entendeu que calções da mesma cor poderiam atrapalhar um jogo que ficava cada vez mais veloz, e passou a exigir que eles tivessem cores diferentes. Se houve preocupação com os calções, por que não com as chuteiras?
Entendo que, nessa altura do campeonato, não seria fácil contrariar os interesses da indústria de material esportivo, mas, que se pense num jeito. É bastante possível que nunca ninguém tenha se preocupado com as chuteiras pelo singelo motivo de que elas só existiam na cor preta, e não havia o que fazer. Agora, é preciso pôr ordem na casa.
Não proponho que se tire essa fonte de renda dos jogadores – os pobres-coitados que já ganham tão pouco –, mas chuteira deveria fazer parte do uniforme. Querem jogar com uma bandeira de Fórmula 1 nos pés, que joguem, mas que sejam os onze. E se a questão é grana, locupletem-se todos. Da mesma forma que existe o direito de imagem, pelo qual cada um recebe de acordo com seu valor de mercado, que se crie então um direito de chuteira com o mesmo critério.
A balbúrdia policromática é terrível sob o ponto de vista estético e – estou convencido – também sob o ponto de vista psicológico: o cara calça uma chuteira roxa com detalhes em abóbora e sai cheio de marra, achando que já é craque. Uma coisa é o refinado Yaya Touré com um pé de chuteira de cada cor, outra é o botinudo González, do Uruguai.
Não foi à toa que, há três ou quatro anos, quando esteve à frente do futebol do América, Romário proibiu o uso de chuteiras coloridas no time. O Baixinho conhece.