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A direita e o PCC no país da impunidade

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A direita e o PCC no país da impunidade

| 19 set 2025_09h43
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Semanalmente, os apresentadores mencionam as principais leituras que fundamentaram suas análises. Confira:

Conteúdos citados neste episódio:

“Pai (e eu) acima de tudo, reportagem de João Batista Jr”., para a piauí.

 

“Ninguém tem que mexer con nosotros”, reportagem de Allan de Abreu, para a piauí.

 

“O homem e seu passado”, reportagem de João Batista Jr”., para a piauí.

 

O rearranjo político pós-condenação de Bolsonaro“, episódio do podcast O Assunto.

 

 

 

 

TRANSCRIÇÃO DE ÁUDIO:

 

Sonora: Rádio piauí.

Fernando de Barros e Silva: Olá, sejam muito bem vindos ao Foro de Teresina, o podcast de política da Revista piauí.

Sonora: Aprovada a urgência para a apreciação do Projeto de Lei número 2162 de 2023.

Fernando de Barros e Silva: Eu, Fernando de Barros e Silva, da minha casa em São Paulo, tenho alegria de conversar com os meus amigos Celso Rocha de Barros e Ana Clara Costa, no Estúdio Rastro, no Rio de Janeiro. Olá Ana, bem-vinda!

Fernando de Barros e Silva: Oi, Fernando! Oi, pessoal!

Sonora: Vocês podem ter certeza que o presidente Trump não ficará satisfeito ou conformado em ver um regime no Brasil se consolidando tal qual ocorreu com a Venezuela.

Fernando de Barros e Silva: Diga lá, Celso Casca de Bala.

Celso Rocha de Barros: Fala aí, Fernando! Estamos aí mais uma sexta-feira.

Sonora: Além de ser um delegado de polícia aposentado, é um profissional que todos nós conhecemos, que durante toda a sua trajetória na Polícia Civil, tem a marca registrada como um combate dura ao crime organizado.

Fernando de Barros e Silva: Mais uma sexta-feira e hoje temos a participação especialíssima do repórter João Batista Júnior, da piauí, que está no estúdio Agência de Podcasts, em São Paulo. João, você já é da casa. Bem-vindo!

Sonora: Obrigado, Fernando. Um abraço, Ana, Celso e ouvintes.

Fernando de Barros e Silva: Bom, vamos então, sem mais delongas aos assuntos da semana. É até difícil saber por onde exatamente começamos tamanho descalabro ou a sucessão de descalabros patrocinados pela Câmara nessa semana. A crise, como se diz, já não é mais moral ou política, é de metáforas. Os alemães têm uma palavra para designar o que eles chamam de obra de arte total “gesamtkunstwerk”, palavra popularizada pelo compositor Richard Wagner. A gente pode, por analogia, dizer que os nossos deputados ou esses deputados estão parindo algo como a obra da impunidade total. É disso que se trata. Depois de criar o orçamento secreto e se lambuzar de emendas, coisa que se consolidou no desgoverno de Jair Bolsonaro. Os deputados aprovaram nessa semana uma emenda à Constituição para se blindar das investigações. Pela proposta que ainda vai ao Senado, nenhum dos marmanjos pode ser alvo de processos ou investigações criminais sem autorização prévia de seus pares. E esses mesmos marmanjos decidiram que a votação para autorizar ou não que alguém na casa seja processado será secreta. Ou seja, é a institucionalização da impunidade e a consagração da bandalha, tudo muito explícito e muito secreto ao mesmo tempo. Na véspera desse gesto acintoso do Legislativo contra a República e o que ela representa, o ministro Flávio Dino, do Supremo, havia determinado a suspensão de repasses de emendas Pix em nove dos dez municípios que mais recebem esse tipo de recursos. É apenas um entre muitos, mas muitos exemplos da rotinização da roubança em escala industrial dentro do Parlamento. Orçamento secreto, impunidade escancarada. Não satisfeitos, os deputados aprovaram na noite de quarta feira, por 311 votos, contra 163, o regime de urgência para votar o projeto de lei que defende a anistia aos golpistas. Foi o segundo ato, por assim dizer, da obra da impunidade total encenada pelos deputados. A proposta, que agora é urgente, foi apresentada pelo deputado Marcelo Crivella, do Republicanos do Rio, em 2023, e prevê perdão amplo a todos que participaram de manifestações políticas e/ou eleitorais desde 30 de outubro de 2022 até hoje. O texto, porém, deve servir apenas como carcaça para uma versão supostamente mais branda, que deve se dedicar exclusivamente à redução das penas e não ao perdão irrestrito, como aspira o bando Bolsonarista. E para completar a Gesamtkunstwerk da putaria institucional, o PL indicou o Eduardo Bolsonaro, aquele que conspira no estrangeiro contra seu país para liderar a oposição na Câmara. Foi uma manobra para evitar que ele perca o mandato por faltas. Manobra ancorada no ato de 2015, na era de Eduardo Cunha, que dispensa o registro da presença de líderes. Hugo Motta classificou o caso como atípico, mas se omitiu. Disse que não cabe a ele, presidente da Casa, aprovar ou não a escolha de líderes e que o caso será analisado pela Mesa Diretora. É mais um capítulo da obra da impunidade total. A gente vai dedicar os dois primeiros blocos do programa para falar dela e contaremos com a presença do João Batista, que publica neste mês na piauí, uma reportagem valiosa sobre as andanças de Bananinha para sabotar o Brasil em nome de papai. Por fim, no terceiro bloco, a gente vai falar do assassinato do ex-delegado geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, a quem seus pares costumavam chamar de cardeal da polícia paulista. O delegado se projetou dentro da corporação como titular da Delegacia de Roubo a Bancos na década de 90, época em que derrubou esse tipo de crime e ganhou muita consideração das entidades ligadas ao sistema financeiro. O vídeo que mostra a execução de Ferraz por bandidos encapuzados, numa emboscada na noite de segunda-feira em Praia Grande, é chocante pela brutalidade e pela ousadia dos criminosos. De acordo com as investigações, um dos suspeitos pelo crime integra o PCC e já esteve preso por seis anos. Ferraz, que conhecia a facção como poucos, foi acusado em 2006, no depoimento de Marcos Camacho, o Marcola à CPI do Tráfico de Armas de ter recebido propina do crime. A informação não teve muito crédito na época porque o líder do PCC tinha motivos para acusar a pessoa que o tinha prendido. Não se deve descartar, porém, a hipótese de que haja envolvimento de policiais no assassinato de Ferraz, até porque a execução mostra uma ação altamente profissional. É isso. Vem com a gente.

Fernando de Barros e Silva: Muito bem. Ana Clara, vamos começar com você. Como eu disse, eu nem sei bem por onde começar. Pode ser pela PEC da Blindagem ou da bandidagem, como está sendo chamada, pelo projeto da Anistia… Por onde vamos começar?

Ana Clara Costa: Bom, Fernando, são assuntos irmãos, né? São assuntos que estão completamente interligados e que tem como cerne esse caráter oportunista e autoritário de grande parte da direita brasileira que está na política hoje e que, portanto, está no Congresso e que, portanto, compõe o centrão, né? Um pequeno preâmbulo aqui, mas eu acho que vale a pena. Eu queria trazer uma reflexão que a Natuza Nery fez no assunto que ela gravou com o Marcos Nobre, do Cebrap, de que a gente só chegou nesse ponto da tentativa de golpe ter chegado tão longe e a condenação do Bolsonaro, dos militares e tudo isso porque o sistema de freios e contrapesos não funcionou no Brasil. Ele não funcionou porque o procurador geral Augusto Aras, na época, não fez o trabalho dele quando o Bolsonaro atentou contra as instituições enquanto presidente. E o Arthur Lira, como presidente da Câmara, não fez nada a respeito do que estava acontecendo, porque ele achou mais conveniente ali mergulhar no orçamento secreto, já que o Bolsonaro pensava muito mais em golpe do que no que fazer um orçamento, né? E o fato do Bolsonaro ter passado o governo dele inteiro sem sofrer qualquer tipo de enquadramento fez com que ele e sua turma realmente acreditassem que eles poderiam tudo, né? E é isso que é a bancada do PL hoje. São pessoas que até ontem eram cidadãos sem a menor noção do que é política, do que é política pública, do que se faz quando se é eleito e que são altamente autoritários porque eles não aceitam não só a derrota do Bolsonaro, como também não tem o menor problema em usar os salários deles, pagos com o nosso dinheiro, para passar meses a fio sem votar nada de interesse do país — só trabalhando pela anistia do Bolsonaro. Então essas pessoas são pagas para atuarem contra os interesses dos brasileiros, porque as pesquisas mostram que as pessoas, em sua maioria, não são favoráveis a anistia, em especial dos brasileiros mais vulneráveis, que são os que mais precisam dessas políticas públicas que eles não fazem. Então, esses parlamentares, eles ficaram vagando pelo Congresso assim, ao longo desses últimos meses, como se eles fossem, sei lá, tipo ectoplasmas, entendeu? Repetindo que o Bolsonaro precisa ser candidato de novo porque ele precisa da anistia, porque precisa dar anistia para os condenados do 8 de janeiro. Porque, na verdade, sem o Bolsonaro, esses caras têm tem dificuldade de se eleger, né? O Bolsonaro é a sobrevivência deles, né? A gente já falou sobre isso aqui, nessa condição que eles têm hoje de ectoplasmas, vamos dizer aí…

Celso Rocha de Barros: Gostei dessa.

Ana Clara Costa: Eles não só conseguiram fazer andar a anistia, como eles também servem de massa de manobra para todas as intenções imorais do centrão, que é o que aconteceu com a PEC da Blindagem. Então, como essa história começou? No dia em que o Bolsonaro tomou a tornozeleira eletrônica, em 18 de julho, o Congresso estava em recesso. Mas como o Bolsonaro teve essa operação em cima dele, o PL foi todo para Brasília para ficar meio de babá do Bolsonaro, porque apesar da tornozeleira, ele podia sair durante o dia e tudo mais. Então eles ficam ali, ciceroneando do Bolsonaro. Diante dessa situação, como eles estavam em Brasília e tinha, enfim, várias lideranças ali do centrão também em Brasília naquele momento, surgiu a conversa sobre a PEC da Blindagem. O que foi proposto para o PL pelo Centrão naquela ocasião? Que para aprovar a anistia do 8 de Janeiro e do Bolsonaro, há muitos deputados que podem se sentir, digamos, constrangidos pelo Supremo em votar a anistia porque tem medo de ser alvo. Porque, obviamente tem telhado de vidro, né? Então, se a gente aprovar a PEC da Blindagem antes, os congressistas podem se sentir mais livres para votar de forma favorável à anistia, porque terão um pouco mais de autonomia, porque sabem que seus crimes talvez não possam ser investigados e muito menos punidos. Então, foi aí que começou essa discussão. O PL abraçou a ideia e quando acabou o recesso, eles iniciaram, na véspera de acabar o recesso, eles decidiram que eles iam fazer aquele motim que eles fizeram. E se o Hugo Motta não capitulasse, pautasse a anistia imediatamente, conforme eles queriam, eles iriam recorrer à PEC da Blindagem, que na verdade, naquela época também envolvia a PEC do foro privilegiado para tirar o foro dessa turma. Como o Hugo Motta não quis pautar a anistia daquela forma, etc, eles passaram para a estratégia dois, que é vamos, junto com o centrão, apoiar a PEC da Blindagem. E saíram daquela noite horrorosa para nossa história política, com esse acordo feito com o Arthur Lira, que talvez seja a voz mais articulada do centrão hoje. Então a coisa foi fechada naquele dia do motim.

Fernando de Barros e Silva: É um consórcio dos piores interesses, com os interesses mais medonhos, mais ou menos.

Ana Clara Costa: Exato.

Fernando de Barros e Silva: Centrão com o bolsonarismo.

Ana Clara Costa: Éna turma que quer gabaritar o Código Penal, com a turma que quer livrar o Bolsonaro a todo custo, porque essa é a sua única chance de sobrevivência. Bom, o Hugo Motta ensaiou colocar essa PEC da blindagem para votar antes da condenação do Bolsonaro. Mas a gente comentou isso aqui na época que não teve acordo. E por que não teve acordo? Porque o PL pensou o seguinte: a gente topa votar isso agora e são 100 deputados, né? Enfim, um contingente relevante, se o Senado topar votar e aprovar no Senado a toque de caixa também, aí a gente topa. Se não a gente vai ficar sangrando na opinião pública por duas semanas, durante o julgamento do Bolsonaro, em que não vai acontecer nada na Câmara e vai ser ruim para gente. Então a gente só aceita fazer o acordo se o Senado topar. O Senado não topou naquela ocasião. Então eles saíram fora. Não teve acordo, não votaram. Só que o que que um deputado com uma certa liderança ali me contou: que o Hugo Motta sinalizou para eles que não podia pautar a anistia antes da condenação do Bolsonaro, porque o Alexandre de Moraes, segundo ele, precisaria ter o gostinho de condenar o Bolsonaro. Mas que depois da condenação ele pautaria. Foi essa a sinalização que Hugo Motta deu para o PL. E fora que o Hugo Motta prometeu pautar a anistia quando ele negociou o apoio do PL lá na eleição dele lá atrás, né? Então ele tava com essa dívida desde então e o PL tava cobrando. E nas conversas que eu tive sobre esse assunto com esses deputados da direita, um deles me disse, sem qualquer constrangimento, que aprovar a PEC da Blindagem facilitava a chantagem para aumentar os votos da anistia. E ele usou a palavra chantagem quando ele falou comigo.

Fernando de Barros e Silva: Tudo é feito com desassombro mesmo, né? Agora, não basta ser desonesto, tem que mostrar. É o anti-César, anti-mulher de César, aquele coisa não basta ser honesto, tem que parecer honesto. Agora é o contrário. Eu usava isso para o Sérgio Cabral, agora estou usando para o Congresso que o Sérgio Cabral era enorme, né? Não basta ser desonesto, tem que parecer desonesto.

Ana Clara Costa: Agora algumas coisas que a gente tem que lembrar que enquanto eles fizeram toda essa mobilização para votar esses dois projetos, um de impunidade sendo mais precisa, no caso da Anistia, o projeto não foi aprovado. Foi aprovada a urgência para que esse projeto seja votado no plenário da Câmara, sem passar pelas comissões. Só no caso da PEC da Blindagem que houve a aprovação total. E é muito sintomático que isso tenha sido votado dessa forma truculenta que foi essa semana, justamente na semana em que você tem projetos de interesse do país que não estão sendo votados, como a PEC da Segurança Pública. Na semana em que um ex-delegado da Polícia Civil é assassinado da forma como foi e a gente vai falar no terceiro bloco, a isenção do IR para quem ganha até 5 mil reais não foi colocada em votação, porque o centrão avalia isso como uma medida eleitoreira do Lula mirando 2026. E pode ser eleitoreira mesmo, mas tem como beneficiário direto o eleitor, diferente da anistia e da blindagem que tem como beneficiários tão somente os parlamentares e o Jair Bolsonaro. E com essas duas votações, é de novo um ciclo que se fecha. Porque o mesmo Arthur Lira que falhou como freio e contrapeso quando ele era presidente da Câmara por ter, na verdade, atuado em conluio com um Bolsonaro no governo dele, embora ele diga sempre que ele freou o Bolsonaro. Esse mesmo Arthur Lira é quem idealizou esse acordo que resultou nesse show de horrores que a gente viu essa semana. Então, essa corrosão democrática hoje tem o PL como instrumento e o centrão na figura do Arthur Lira, do Ciro Nogueira e do Marcos Pereira, do Hugo Motta, sobretudo como artífices.

Celso Rocha de Barros: Só gente boa.

Fernando de Barros e Silva: Muito bem, Celso. Não dá para ser feliz no Brasil por muito tempo, né?

Celso Rocha de Barros: Até que dessa vez teve uma semaninha, né?

Fernando de Barros e Silva: Teve uma semana. Exato

Celso Rocha de Barros: Seis dias, que teve o dia do Fux…

Fernando de Barros e Silva: Exato. Vamos lá, Celso. Seis dias. Depois da trégua de seis dias, o Brasil mostrou de novo a sua cara.

Celso Rocha de Barros: É, essa PEC da Blindagem, basicamente, joga o Brasil de volta à situação que existia aqui antes de 2001, né? A Constituição, de fato, previa uma blindagem para os parlamentares, que, é sempre bom lembrar, a Constituição foi feita na saída da ditadura. Então os deputados, especialmente os que se opuseram à ditadura, tinham muito medo de que, enfim, as cortes continuavam sendo a casa da ditadura, enfim, a burocracia brasileira. O sistema político brasileiro era basicamente da ditadura. Então eles acharam que era melhor a gente deixar uma blindagem aqui para dificultar um outro poder qualquer, um outro presidente ou enfim, se livrar de deputado, como a ditadura fazia sempre que queria. Um deputado começava a encher a paciência, eles inventavam um negócio, para se livrar do cara. Mas eventualmente isso foi ficando muito escandaloso, né? Porque a blindagem é basicamente o Congresso ter que autorizar a abertura de processos contra contra parlamentares.

Ana Clara Costa: Ações penais.

Celso Rocha de Barros: Ações penais contra os deputados e o Congresso não autorizava nunca. E aí teve um caso famoso do deputado Idel Brando Pascoal.

Fernando de Barros e Silva: Famoso.

Celso Rocha de Barros: Que tinha o hábito desagradável de esquartejar os seus adversários. E aí, finalmente, o Congresso achou que bom, tudo bem, esquartejar o cara realmente forçou a amizade aqui. Então houve uma reforma dessa lei.

Fernando de Barros e Silva: Mas ele foi blindado. Esquartejar com motosserra, era o deputado da motosserra. O cara era era líder ou membro articulador de um grupo de extermínio no Acre, não é isso?

Celso Rocha de Barros: Isso. Exatamente.

Ana Clara Costa: Ele chegou a exterminar uma criança de 13 anos.

Celso Rocha de Barros: Uma criança de 13 anos. Aí realmente ficou demais. A opinião pública ficou muito indignada e enfim, a legislação mudou e tinha que mudar mesmo. Bom, como a Ana disse aqui, a blindagem e anistia estão intimamente ligados. A blindagem é basicamente uma lei que proíbe prender político para todos os propósitos práticos, entendeu? O Nikolas Ferreira foi lá falar: “Não, não está proibido prender político. Não. Basta que o Congresso autorize a abertura do…” Ah, pelo amor de Deus, né Nikolas?

Fernando de Barros e Silva: Em voto secreto, ainda por cima.

Celso Rocha de Barros: Exatamente. E os bolsonaristas, por sua vez, estão entregando isso para o centrão para diminuir a poder de pressão do STF sobre o centrão, para ver se depois eles conseguem convencer o centrão a votar anistia. Agora tem uma coisa que eu fiquei meio irritado com a cobertura desse fato, que é o seguinte: não foi exatamente o Congresso que passou a blindagem, não foram os políticos ou a classe política que passou a blindagem. Foi a direita. Sim, teve 12 caras do PT que votaram a favor. Esses caras, aliás, estão tendo que se explicar. O pessoal do PT tá muito puto com eles.

Ana Clara Costa: PDT e PSB também.

Celso Rocha de Barros: Entregaram gente aí, entregaram votos.

Ana Clara Costa: PDT Sobretudo. Impressionante.

Fernando de Barros e Silva: Os tucanos também deram.

Celso Rocha de Barros: Tá, mas isso aí…

Ana Clara Costa: Ah, mas deles a gente não espera nada, né Fernando?

Fernando de Barros e Silva: Tudo bem, não vamos falar de partidos nanicos no programa. Tudo bem. Vamos lá.

Ana Clara Costa: Pô, você quer falar do novo também, Fernando?

Celso Rocha de Barros: Eu vou falar do Novo. Então, teve esses 12 caras que depois sinalizaram que não, isso era um acordo com o Hugo Motta. Mas tem gente grande do PT que tá reclamando deles e se tivesse tido um acordo, seria com esse pessoal grande, né? Então a história tá meio mal contada. Quem gabaritou aqui foram PSOL, PC do B e Rede Sustentabilidade, que não entregaram nenhum voto pela blindagem. Agora vamos olhar os dados, vamos olhar as estatísticas. Esses 12 caras do PT representam 19% da bancada do PT, ou seja, 81% do PT votou contra a blindagem. Somando os partidos de esquerda, cai para 73% contra a blindagem. Ainda é bastante gente. São 3/4, basicamente. Se você sair da esquerda e se mover para o centro. E aí eu classifiquei como centro ali, o Kassab, o PSDB, o MDB e mais umas coisas dessa.

Fernando de Barros e Silva: Um título de cortesia quase.

Celso Rocha de Barros: Eles votaram… Mais ou menos 30 por cento dos caras foram contra.

Ana Clara Costa: O MDB, sobretudo.

Celso Rocha de Barros: Entregou muito, muito voto.

Ana Clara Costa: Assim, a grande avassaladora maioria, o PSD do Kassab até foi mais comedido.

Celso Rocha de Barros: Foi o PSD, fez orientação para reprovar, mas ninguém obedeceu. Então, enfim, mas entregou votos contra a blindagem.

Ana Clara Costa: O MDB foi chocante.

Celso Rocha de Barros: Quem tá salvando essa média do centro aqui é o Kassab. Agora, esses 30% aqui contrários à blindagem do centro já é menos da metade da média da esquerda. E se você for pegar os partidos de direita, foi 6,37% só contra. Ou seja, mais de 90% dos deputados de direita votaram a favor da blindagem. Foi a direita que fez a lei que proíbe prender político. É você dizer isso não é ter viés ideológico de esquerda. Ocultar essa informação é que é ter viés ideológico de direita, porque dá a impressão de que é basicamente só um negócio corporativo dos parlamentares, tudo safado. Não. Aqui é uma aliança entre os parlamentares, tudo safado, que até eu concordo com você: tem em vários lugares do espectro político. Mas são uns parlamentares tudo safado, específicos, que se juntaram os parlamentares, tudo vagabundo, golpistas, específicos, para passar esse projeto vagabundo e ladrão.

Fernando de Barros e Silva: É um consórcio do centrão com o bolsonarismo.

Celso Rocha de Barros: Exatamente. Então vamos tomar cuidado um pouco com essa coisa de Congresso. Tem um pessoal desesperado para enfiar o PT nessas nessas manchetes aí, né, cara? Vamos ter cuidado com isso para culpar articulação política do governo, entendeu? Eu conheço gente que é super crítica a articulação política do governo que disse: “não, nesse caso, não tinha nada a fazer”. Assim, o que que o governo vai oferecer para os caras que se compare a blindagem?

Ana Clara Costa: Mas no caso da anistia, eles ofereceram e mesmo assim não adiantou.

Celso Rocha de Barros: Exato, não adiantou. Então, enfim, a esquerda tem suas culpas, o PT tem suas culpas, mas isso aí não é culpa do PT, nem da esquerda. Isso aí foi a direita que fez. Inclusive, isso tem um efeito que eu já venho acompanhando há algum tempo. Eu tenho certo interesse de saber até quando vai durar a ideia que se forjou lá na Lava Jato, de que votar na direita é combater a corrupção com toda a blindagem de mídia que a direita sempre teve. Assim, é difícil imaginar que isso vai durar para sempre, entendeu? Se os caras estão realmente contando que isso vai durar para sempre. Eu acho arriscado da parte deles isso. Eles estão contando que a bolha deles nunca vai ter acesso à informação que eles fizeram isso e que eles podem fazer o que eles quiserem mesmo. Eu tenho minhas dúvidas. Eu acho que esse leitor de direita também não é tão submisso e é acrítico quanto esses deputados de direita estão supondo não. Essa aliança entre ladrões e golpistas é a força mais poderosa do Brasil atualmente. Domina amplamente a nossa política e tem chance de dominar absolutamente se ganhar a presidência do ano que vem. Quer dizer, imagina se um presidente dessa turma ganha a eleição. Se o cara bota um monte de caras dessa turma do centrão e do golpe no STF, acabou. Eles fazem o que eles quiserem. Também queria acrescentar o seguinte: a blindagem não é só uma questão de ser uma proteção para os políticos. É um instrumento poderoso para fazer a aplicação seletiva da lei. Porque você pode tirar a blindagem pela maioria da Câmara. Então, basicamente, você está dando para a maioria da câmara um poder bizarro de salvar os seus e entregar os adversários. Então, a minha primeira previsão, se esse troço aí emplacar mesmo, é que alguns deputados que tem a tradição de combater a corrupção, se eles forem processados por qualquer coisa, a Câmara vai aprovar esse processo. Esse poder de discricionaridade de dizer quem vai ou quem não vai ser, de ter autorização para começar o processo. Isso é um poder imenso que você está dando para a maioria da Câmara. Isso dá margem a uma quantidade de distorções e potenciais crimes inacreditável. E eu queria comentar também uma coisa o Novo foi o único partido de direita que votou inteiro contra a blindagem.

Ana Clara Costa: Menos o Ricardo Salles, que estava ausente. Porque será? Não sei.

Sonora: Pois é, Ricardo Salles deve ter tido um desses problemas aí que os caras de direita têm nessas horas. Enfim, é muito comum isso. Agora, isso é um fenômeno interessante: se o Novo persistir nesse lapso de consciência moral que eles tiveram ontem, eles podem assumir pela direita um papel que a Rede Sustentabilidade e o PSOL sempre fizeram pela esquerda de ser aquele partido pequeno que como não tem grande chance de ganhar o Executivo, pode fazer um pouco esse papel de consciência moral do seu campo político.

Fernando de Barros e Silva: Grilo Falante, né?

Celso Rocha de Barros: É, de Grilo Falante. Por exemplo, quase todo o processo ação no STF para impedir maracutaia, é de um dos dois partidos, da Rede Sustentabilidade ou do PSOL. E novamente a direita continua com a reputação de seus caras que que combatem a corrupção. Mas se você for ver, quem é que faz coisa contra isso, é a Rede e o PSOL. Vai ser uma coisa interessante saber se o Novo, se caso o golpismo seja derrotado mesmo, vocês vão tentar achar esse nicho para sobreviver, né? A gente tem a divisão tradicional funcional entre os partidos: o partido que disputa eleição para presidente e o partido que vende apoio para quem ganha a eleição e talvez tenha uma terceira divisão, que é o partidinho que fica ali enchendo o saco, que acaba tendo uma importância bem maior do que o número de deputados que eles têm. Vamos ver se o Novo, que talvez seja de se voltar a ouvir o Amoêdo, assume esse papel, porque até agora o papel do Novo foi basicamente auxiliar do golpe. Bom, e como recompensa pela proibição de prender político, a turma do Bolsonaro conseguiu aprovar urgência do projeto de anistia aos golpistas, que é um projeto diferente. Se você está confuso sobre isso, eu entendo você perfeitamente. A gente ainda não sabe o que vai ser o projeto de anistia, porque, embora seja meio bizarro, foi aprovado a urgência por um projeto do Crivella, mas já todo mundo sabendo que não vai ser aquilo.

Fernando de Barros e Silva: Exato. Eles aprovaram a urgência sem saber exatamente…

Sonora: O que eles estavam achando urgente. Exatamente. Mas enfim, agora esse projeto, a urgência foi aprovada. Uma imensa vergonha para o Brasil. Mas a gente não sabe o que vai acontecer com a anistia porque foi aprovado um texto que dane-se, entendeu? Ninguém se preocupa com aquilo ali. O relator deve ser o Paulinho da Força, que é um cara próximo do STF. Isso poderia garantir, enfim, que não vai ser uma anistia completa, não sei o quê. Mas assim mesmo se for uma anistia só para o pessoal soldado raso lá do 8 de Janeiro, mesmo se for só para os Popcorn, Ice Cream, Débora do Batom, aquelas coisas, tem que prestar muita atenção na formulação, porque dependendo como isso for escrito, pode aliviar para o Bolsonaro também. Entendeu? Eu ainda não vi nenhum projeto para livrar a cara desses caras que de alguma maneira não ajude também o Bolsonaro. E aí, o que seria um escândalo é se eles conseguissem uma redução de pena, que livrasse o Bolsonaro de cumprir qualquer tempo que seja no regime fechado. Isso seria um absoluto escárnio e seria, enfim, cuspir na cara da população brasileira, da democracia.

Ana Clara Costa: Segundo a Folha de São Paulo, é isso que está sendo negociado.

Celso Rocha de Barros: Sim, se isso passar, enfim, não sei nem mais o que dizer em defesa das instituições brasileiras.

Fernando de Barros e Silva: É, teve gente que ontem falou em desinstitucionalização no Congresso, né?

Celso Rocha de Barros: Foi a Beatriz Reis, a cientista política que é muito boa.

Fernando de Barros e Silva: Na GloboNews, né? Eu gostei dessa caracterização que ela faz, porque acho que isso ilumina bem o momento histórico que a gente está vivendo. E importante qualificar isso que ela disse com a sua muito oportuna, muito bem feita divisão entre os partidos e as forças políticas que estão à frente. E quem foi sócio-menor desse negócio ou sócio quase irrelevante, no caso de alguns partidos. De qualquer forma, os 12 votos do PT são muito incômodos, né? A favor desse negócio. Num ambiente num ambiente menos hostil, esses sujeitos deveriam ser expulsos do partido, eu acho. Não serão.

Celso Rocha de Barros: Não, deve ter uma, talvez tenha uma suspensão, alguma coisa. Mas não vai.

Fernando de Barros e Silva: O ambiente menos hostil, eu digo se as forças progressistas e a esquerda não estivesse tão acuada, o PT não pode se dar ao luxo de expulsar…

Celso Rocha de Barros: Não tá dando para expulsar ninguém. É exato. Quem tem voto para se eleger deputado.

Fernando de Barros e Silva: Não tá sobrando, né?

Celso Rocha de Barros: Exato.

Ana Clara Costa: Só retomando essa última reflexão do Celso sobre a questão do cumprimento da pena pelo Bolsonaro. A Folha de São Paulo publicou essa reportagem do Raphael di Cunto e da Victória Azevedo, dizendo que o texto que está sendo costurado a partir de agora é que eles estão tentando fazer um pacto ali com o bolsonarismo e com o Supremo, é de que o texto preveja penas mais leves para os condenados. E que, no caso do Bolsonaro seja só domiciliar, ele saia do regime fechado. E isso teria sido conversado com alguns ministros que a Folha de São Paulo não diz quais são. Então a gente não sabe se esse ministro são os três ligados ao Bolsonaro hoje o André Mendonça, o Cassio Nunes Marques e o Fux. Não sabemos quem são eles, mas que eles estão tentando essa alternativa e que seria uma alternativa, inclusive mais palatável ao Senado e uma alternativa que não eliminaria a pena de ninguém e que por isso o Supremo poderia ver isso de uma forma menos refratária. Queria dizer para vocês que eu me torturei esses dias lendo os discursos dos parlamentares no plenário, enquanto esses absurdos eram votados na terça-feira e na quarta-feira. Eles estão disponíveis no site da Câmara, lá, como as notas taquigráficas, todo mundo pode ler e eu recomendo. Enquanto isso era votado, você tinha deputado defendendo garimpeiro no Amazonas. Vários deputados, na verdade, criticando operações contra o garimpo no Amazonas. Você tinha o Zé Trovão do PL de Santa Catarina, reconhecendo que só estava votando a PEC da Blindagem porque foi feito acordo para depois disso votar anistia. Assim, aqueles discursos eles demonstravam, sem nenhum tipo de filtro, o que estava acontecendo ali. Esse deputado Zé Trovão, ele chegou a dizer vou colocar entre aspas: “enquanto os senhores ficam do outro lado falando que esse projeto, o projeto da blindagem, a PEC da blindagem, é um risco para a sociedade, eu vou lhes dizer que o maior risco para o Brasil está sentado na cadeira presidencial por uma manobra da Suprema Corte, na qual nós estamos colocando limite nessa casa hoje. Aprendi isso bem cedo. No que a esquerda vota contra, eu voto favorável, no que eles votam favorável, eu voto contra”. Então, assim, há um reconhecimento e eu estou citando um voto. Mas isso se aplica a todos. A Bia Kisses defendeu que a PEC da Blindagem era até mais branda do que ela gostaria e tá tudo público lá. Para concluir, eu queria citar uma ponderação do deputado Rogério Correia, que é do PT de Minas, que questionou no plenário Hugo Motta se essa forma da direita não seria a nova forma de se estar no Parlamento hoje. Porque eles invadiram a mesa no outro dia e aí eu vou abrir aspas para o deputado Rogério Corrêa: “sentaram na cadeira de Vossa Excelência, conseguiram a pauta que queriam e infelizmente, projetos que nós estamos pedindo em prol do povo, Vossa Excelência não coloca em votação. Será que o povo vai ter que invadir a mesa e sentar na cadeira do presidente para poder fazer uma pauta?”. E eu acho que é uma pergunta que que merece ser respondida pelo pelo presidente da Câmara. Talvez.

Fernando de Barros e Silva: Foi uma premiação para esses chantagistas, para esses delinquentes mesmo que fizeram aquilo.

Celso Rocha de Barros: Valeu a pena.

Fernando de Barros e Silva: Supostamente uma investigação para avaliar o comportamento deles que a gente esqueceu. A investigação foi para as calendas, como a gente falou no programa na semana que isso aconteceu, que as pessoas iam esquecer. Está esquecido já. Então a gente vai encerrando o primeiro bloco do programa. No segundo, nós vamos continuar falando de Congresso, vamos falar do PL de Eduardo Bolsonaro. Já voltamos.

Fernando de Barros e Silva: Muito bem. Estamos de volta. João Batista, mais uma vez bem-vindo ao programa. Vamos começar com o seu personagem que você acompanhou nos Estados Unidos, que agora foi premiado com a liderança da minoria, é um escárnio do escárnio. O sujeito, para não ser cassado por falta, vira líder da oposição, não é isso?

João Batista Jr: Exatamente. Eu tive com Eduardo no Estados Unidos, para fazer a matéria para edição de setembro da piauí, eu acompanhei por cinco dias e o contexto de dois meses atrás é diferente do agora, né? Dentro dessa jornada do herói do Eduardo de querer anistia para o pai dele em detrimento de uma economia de um país e da justiça como um todo, não constava isso. Por que o que ele dizia? Ele tem muitas críticas severas e tudo no ON em relação ao Valdemar Costa Neto. Exemplo: antes de se mudar para os Estados Unidos, o Eduardo pleiteou, em duas reuniões com o Valdemar, a criação de um escritório físico na Flórida, com secretária e com um advogado. Ele alegava que ele queria fazer com que mais brasileiros que moram lá nos Estados Unidos pudessem se cacifar para poder votar. Porque ele diz o seguinte: na votação Lula x Bolsonaro 2022, a diferença não foi tão grande. Então os votos de brasileiros bolsonaristas no exterior podem fazer a diferença. O Valdemar não deu ouvidos. Daí o Eduardo também me falou muito ressabiado, muito chateado, que o Valdemar dá tudo para Michelle Bolsonaro e para o Nikolas Ferreira. Ele falou que a Michelle custa 800 mil reais por mês. Não é o salário dela propriamente dito, mas a estrutura partidária que ela tem, com muitos funcionários, motorista, viagens em jatinho e que o Nikolas também tem passe livre de jatinho ali pelo PL. E daí ele me falou: “para mim, nada?”.

Ana Clara Costa: Ele queria que o Valdemar fosse um pai mais generoso. Ele queria que o Bolsonaro fosse um pai mais generoso, que o Valdemar, fosse um pai mais generoso, ele talvez precise de um analista, o Eduardo.

Celso Rocha de Barros: Vera Iaconelli nos ajude.

João Batista Jr: Exatamente. Então, ele tem essa carência de atenção e de dinheiro por parte do PL. Ele se queixa do PL, não dá um salário para ele lá. Corta para agora. O que a gente viu essa semana foi uma articulação do Eduardo, em que o PL foi fundamental. O Eduardo se mudou para os Estados Unidos em fevereiro, pediu licença, portanto, estava sem receber salário. Só que a licença dele expirou em julho. A partir de então, as faltas começam a serem computadas e a partir de 120 faltas ele pode perder o cargo. Então esse mesmo partido que não paga, ele, que não deu escritório para ele, que não dá assistência para ele como ele gostaria, foi muito fundamental para ele se articular para manter o seu cargo. Então, nessa jornada do herói dele em que ele brada ser um lobo fiel, uma pessoa quase muito corajosa, ele tá precisando do mesmo Valdemar Costa Neto. Uma coisa que chama a atenção também sobre a relação do Eduardo com o Valdemar, é o seguinte: lá nos Estados Unidos ele teve uma reunião com o Ciro Nogueira e com o Rueda, que estão criando…

Fernando de Barros e Silva: Criaram a Federação, Federação União-Progressista, a junção do União Brasil com o Progressistas.

João Batista Jr: Exatamente. E o Eduardo me disse o seguinte: “eu vou, eu devo sair do PL e ir para o partido deles”. Ou seja, a insatisfação era gigantesca. E o mesmo Eduardo agora tá precisando do PL para não perder o cargo e não perder o salário. Enquanto eu estava com ele nos Estados Unidos, tinha saído a notícia que o Cláudio Castro, governador do Rio de Janeiro, teria se reunido com o Flávio para dar alguma secretaria para o Eduardo, de forma que ele tivesse algum cargo e não pudesse ser cassado, digamos assim. Eu perguntei isso para ele. Ele falou: “de fato, o Flávio falou com o Cláudio Castro, mas eu nunca quis”. Ou seja, ele tentou desmerecer o fato que o Cláudio Castro, ao perceber que isso daria muito problema para ele, recuou para dar algo para o Eduardo. Eu perguntei pro Eduardo: “mas tem algum governador com quem você possa contar no Brasil nesse sentido, para isso?”. Ele falou: “tem o Jorginho Mello de Santa Catarina”, ou seja, eles tem um estudo, digamos assim, do que pode acontecer, quais passos podem acontecer e com quem poder contar. Então agora foi o Valdemar Costa Neto, com a Carol de Toni, que recuou do cargo dela para dar para o colega. Mas lá na frente, caso isso não vingue, ainda tem o Jorginho Mello.

Fernando de Barros e Silva: No conjunto, Celso, das coisas que aconteceram nessa semana, esse fato acabou até ficando em segundo, em segundo plano. E é bom que…

Celso Rocha de Barros: É muito simbólico, né?

Fernando de Barros e Silva: É muito chocante.

Celso Rocha de Barros: Eu achei muito uma síntese das outras coisas que aconteceram porque, bom, o líder do PSB Partido Socialista Brasileiro na Câmara, o Pedro Campos, fez um comentário interessante quando o Eduardo foi nomeado líder da minoria que ele disse: “aqui no Congresso não existe cargo de líder do governo Trump”. Mas eu achei muito simbólico Valdemar arrumar essa boquinha pro Eduardo, porque isso vai mostrando o seguinte: que o golpismo está sobrevivendo com transfusões de sangue do centrão e do Trump, né? E eu acho que esse acordo do Valdemar com o Eduardo, para mim é a síntese perfeita disso. Sem alguém adequado moralmente para liderar esse negócio aí que a gente falou no primeiro bloco, é mesmo o Eduardo Bolsonaro.

João Batista Jr: É quase a substância, né? Com essas transfusões todas.

Celso Rocha de Barros: Perfeito. Exatamente.

Fernando de Barros e Silva: Perfeito. Ana, põe a sua colher nessa conversa aí.

Ana Clara Costa: Eu queria fazer só uma ponderação que até nesse meu passeio pelos discursos dos deputados, eu li um discurso da deputada Talíria Petroni, do PSOL do Rio, em que ela questionava porque a discussão aconteceu no mesmo dia. A questão da PEC da Blindagem aconteceu no mesmo dia em que o Eduardo foi nomeado líder da minoria e ela expõe no seu discurso uma dúvida. Ela diz que há quatro representações no Conselho de Ética da Câmara contra o Eduardo Bolsonaro, sobre temas diversos, mas em geral ligados a condutas criminosas ou ou então patrocinando ataques aos interesses nacionais, que é a questão do que ele fez com o tarifaço. E aí, o Conselho de Ética vai votar essas quatro representações? Porque a partir do momento ele se torna líder da minori, então o que ela questiona é — e aí eu acho que o presidente da Câmara, Hugo Motta, teria alguma ingerência nisso — será que ele vai colocar alguma dessas representações para o Conselho de Ética analisar? E o Conselho de Ética desta Câmara, sobre a qual estamos falando hoje, teria algo a dizer, né? Eu acho que isso é importante a gente colocar. E uma outra coisa, João, que eu queria te perguntar, ainda à luz desse novo fato, o Eduardo como líder da minoria, ele recebe salário da Câmara, né? Licenciado por razões pessoais, ele não recebe. Mas voltando como líder da minoria, trabalhando remotamente, ele recebe salário. E o salário de um deputado, só para a gente lembrar R$ 46.366,19 bruto, fora todos os outros benefícios e auxílios. Mas na sua reportagem João, fica claro que ele vive, embora seja um rendimento considerável, ele tem um estilo de vida muito além do que 46 mil reais poderia proporcionar em dólar para qualquer pessoa. Eu queria que você falasse um pouco dessa gastança do Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos e como que ele banca. A gente sabe que o Bolsonaro fez depósitos para ele. Isso veio na investigação, mas pela sua reportagem fica parecendo que até os 2 milhões que o Bolsonaro mandou para ele, 2 milhões de reais são pouco perto do tipo de vida que ele tem lá.

Fernando de Barros e Silva: Não são só dois, os dois que ele assumiu, não é isso?

João Batista Jr: Exatamente. O Jair Bolsonaro mandou via PIX 2 milhões de reais para o filho lá nos Estados Unidos. Isso em maio. No entanto, com a operação da Polícia Federal, a gente soube que ao todo foram 4 milhões de reais. O dólar tá bem alto, né? Seis para um, quase. Então 4 milhões não vira tanto lá nos Estados Unidos. É muito dinheiro sim, mas não muito dinheiro para tudo que o Eduardo tem feito lá. Então, uma vez que ele se mudou para os Estados Unidos em fevereiro, ele e o Paulo Figueiredo começaram a colocar em prática, de forma mais consistente, um plano que já havia sido elaborado em 22, quando o pai dele perdeu as eleições e eles passaram a acreditar que foi um golpe do Alexandre de Moraes, que o Brasil vive sob censura, que as urnas eletrônicas não funcionam, aquela coisa toda, né? Para isso, o Eduardo alugou uma casa no Texas, numa cidade de Arlington, onde ele vive com os dois filhos e a esposa. E ele falou para mim que ele tem ido quase todas as semanas para Washington. Quando eu estava lá, ele estava hospedado num bom hotel, no Marriott. Além disso, cafés, almoços, jantares. O Eduardo ele contratou, segundo ele mesmo me falou, um escritório de advocacia para fazer lobby nos Estados Unidos em prol de toda essa movimentação que ele tem feito com articuladores e com a Casa Branca. Quando eu perguntei para o Paulo Figueiredo a respeito desse mesmo escritório de advocacia, o Paulo negou. Eu falei: “Bom, o Eduardo fala o contrário”. Aí tem uma outra figura bem interessante que a gente conta em detalhes da matéria, que é um advogado americano casado com uma brasileira chamado Martin DeLuca, o Martin DeLuca. Ele é o advogado do Donald Trump na ação que ele move contra o Alexandre de Moraes, nos Estados Unidos. O Trump tem uma rede social e ele vê no Moraes alguém que impede a livre liberdade de expressão no Brasil. Então ele entrou com essa ação lá na Flórida, mas foi provocado que, para efeitos práticos mesmo. Mas é um homem que tem acesso ao Trump. Uma fonte me falou que o Martin tem andado para cima e para baixo com Eduardo Bolsonaro. Aí eu perguntei para o Eduardo, ele falou assim: “não, não conheço ele”. Beleza, fui para o Martin que me respondeu: “conheço o Eduardo Bolsonaro há quase uma década”. Esse mesmo Martin DeLuca consta também nas investigações da Polícia Federal porque ele trocava mensagens por WhatsApp com Jair Bolsonaro. O ex-presidente Bolsonaro mandou uma mensagem para o advogado pedindo instrução, digamos assim, de como se comunicar a respeito do tarifaço, etc e tal. O Martin fala português. Enfim, a parte do dinheiro de fato é curiosa. Tem uma outra coisa interessante: o Eduardo hoje, ele tem dois tipos de visto. Ele tem o visto diplomático concedido para deputados que tem um passaporte bordô e tenho visto B1 B2 do passaporte normal. Ele tá articulando já com o governo Trump para mudar o status dele nos Estados Unidos, tanto que ele matriculou a filhinha dele numa escola cristã porque ele não queria aquela agenda WOKE, aquela coisa toda ali no Texas. Mas no momento de agora, com esses dois vistos, o Eduardo não pode trabalhar nos Estados Unidos. Mas ele pode ter renda passiva — tecla SAP: pode receber dinheiro de doação. Eu perguntei se ele tava recebendo dinheiro de doação. Ele falou que sim e que não tinha obrigação de me falar. Um dos voos que eu peguei com ele de Washington para Dallas, ele tava no grupo um da American Airlines. O que isso significa? Ele tava na classe executiva. Perguntei para ele, Eduardo — a gente com crachá de jornalista tem a missão e o dever de perguntar tudo, né? —. Eu falei: “quem tá pagando por esse voo? Porque é bem mais caro”. Ele falou assim: “um amigo do amigo do meu pai”, fazendo uma alusão aquela célebre frase da Lava Jato que era atribuída ao ministro Dias Toffoli. Eu falei: “quem é o amigo do amigo do teu pai?”. Ele falou: “não vou falar”. O fato é: antes de eu chegar nos Estados Unidos, em que eu fiquei cinco dias com ele. Na semana anterior, ele tinha ido para Califórnia, especificamente para a cidade de San José, para fazer um meet and greet. Esse é o termo. Como uma artista pop, digamos assim, no Lollapalooza, o meet and greet numa igreja evangélica de um pastor que ficou famoso durante a pandemia porque ele era contrário às restrições sociais, contrário a máscara, contra absolutamente tudo. Eu perguntei para Eduardo se ele tinha recebido dinheiro para fazer esse meet and greet, tipo uma presença VIP, sabe? E daí ele falou que não, que ele foi lá só para fazer foto com as pessoas que ele gosta de ter perto de todo mundo. Enfim, a parte do dinheiro é a mais nebulosa de todas, porque o Eduardo tá sendo investigado pela PGR, que propôs a investigação em relação a ele justamente para entender qual tem sido a atuação dele nos Estados Unidos. Então, se o pai dele que mandou esses 4 milhões é um financiador de algo que a justiça pode entender como um atentado contra a democracia do Brasil, entre outras coisas, isso pode ser bastante ruim para ele.

Ana Clara Costa: Fica a dúvida quem é a pessoa que doa dinheiro para ele andar de classe executiva na vida dele americana, né? Assim, realmente.

Celso Rocha de Barros: O que essa pessoa quer, né? O que é que essa pessoa quer de volta, né?

Fernando de Barros e Silva: Agora, é um escárnio que ele receba 1 centavo de dinheiro público, isso sim me incomoda até mais porque essa outra parte aí a Justiça vai cuidar. Agora, esse sujeito que está sabotando o Brasil fugiu do trabalho, né? Não pode receber dinheiro do Congresso. E o Hugo Motta foi pusilânime mais uma vez, né? Falar que não cabe a ele, etc. Hugo Motta fraquíssimo.

João Batista Jr: O mesmo Hugo Motta que tinha sido ameaçado pelo Eduardo. Eu não sei se vocês se lembram. Em julho, o Eduardo falou que poderia pedir para a Casa Branca sanções ao Hugo Motta caso ele não pautasse a anistia.

Celso Rocha de Barros: Exatamente.

João Batista Jr: Agora a gente fala assim: ah, quem daria dinheiro? Eu acompanhei um evento numa cidade a 70 km de Miami, promovido pelo Eduardo, com 250 brasileiros radicados nos Estados Unidos. Estavam ali no palco Eduardo Bolsonaro, Paulo Figueiredo, Alan dos Santos e a juíza Ludmila Lins Grillo. A pauta era falar de censura, anistia, Jair Bolsonaro e o que eles entendem como o Brasil se tornando uma próxima Venezuela. Eles falam isso com muita convicção. Aquela plateia estava lotada. Tinha gente na fila de espera. Foi durante um domingo de sol a tarde. Ou seja, as pessoas estavam ali porque elas queriam e tinha um público variado. Tinham médicos, empresários, gente que chegou de Tesla, de Porsche ou de carros que não são tão caros. E ali todos eles eram entusiastas de absolutamente tudo que o Eduardo fala. Estavam na plateia algumas pessoas que me chamaram a atenção. Uma delas é o Bruno Zambelli, que naquela ocasião a irmã era apenas foragida, mas não era uma presidiária na Itália. E também estava o Pedro Valente, o Pedro, Ele é o irmão mais velho dos Valentes Brothers, que tem uma rede de academias de jiu jitsu ali em Miami. O Pedro é cunhado da Gisele Bundchen. Ele é quem dá aulas de jiu jitsu para Ivanka Trump, para o marido. Era o brasileiro mais bem posicionado na inauguration, na posse do Trump, sentado à mesa com a família Trump. O irmão dele, Joaquim, companheiro da Gisele Bundchen é um instrutor de tiros do Paulo Figueiredo e frequenta a casa da Gisele com Paulo. Eles são muito, muito próximos. Às vezes a gente pensa que as conexões se restringem apenas ao mundo da política, né? Mas não é bem assim, não é? As pontes e os atalhos, eles chegam às vezes pelo tatame. Eles chegam às vezes de lugares onde você nem imagina. Eu perguntei ao Pedro qual era a relação dele com o Eduardo. Ele falou que nenhuma. Que a academia dele é laica, aspas dele e que o pai havia sido. E é verdade. O pai homônimo, também chamado Pedro Valente, foi secretário de Saúde do Brizola. Mas o fato é o Pedro é o brasileiro mais próximo à família Trump. Ele é bem próximo. E daí a gente vê a Gisele com a Ivanka andando de barco recorrentemente.

Fernando de Barros e Silva: Muito bom. Eu recomendo muito aos nossos ouvintes a leitura da reportagem do João Batista.

Celso Rocha de Barros: Muito foda.

Fernando de Barros e Silva: Você tirou sarro do meu “gesamtkunstwerk”, falou que o Wagner popularizou, é mais um capítulo da obra de arte total. Junta jiu jitsu, instrutor de tiro.

Celso Rocha de Barros: Exatamente.

Fernando de Barros e Silva: Obra de arte total. Puro Wagner.

Celso Rocha de Barros: É, exatamente.

Fernando de Barros e Silva: Bom, a gente encerra o segundo bloco do programa por aqui. Faz um rápido intervalo. Na volta, vamos falar do assassinato do ex-delegado geral da Polícia Civil de São Paulo. Já voltamos.

Fernando de Barros e Silva: Muito bem. Celso, vamos começar com você. Não se sabe ainda quem matou o sujeito e por quê. A primeira coisa que me chamou a atenção quando eu vi aquela cena chocante, foi o terceiro criminoso que sai do carro pelo lado esquerdo e faz o que eles chamam de contenção. Numa cena daquela de muita tensão, coisa imprevisível, algumas pessoas me falaram que chama muita atenção esse comportamento do sujeito, que é um comportamento típico de policial, não é qualquer um que faz.

Celso Rocha de Barros: Tecnicamente competente.

Fernando de Barros e Silva: Tecnicamente muito competente. Exato. Enfim, não estamos fazendo nenhuma ilação aqui, mas esse é um dado que talvez não tenha sido muito salientado na cobertura aí dos últimos dias.

Celso Rocha de Barros: Bom, Fernando, primeiro vamos falar um pouco do perfil da vítima. Foi um delegado que ganhou grande destaque nacional pelo combate ao PCC. Foi o cara que prendeu o Marcola. Foi um cara que fez o organograma lá do PCC uma certa altura, foi um cara responsável pela transferência dos líderes do PCC para um presídio de segurança máxima em um regime de prisão bastante rigoroso. Então não tem a menor dúvida que o pessoal do PCC não gosta desse cara. Agora também a gente deve dizer assim o fato da execução ter sido tecnicamente bem realizada talvez não se deva ler muito nisso, porque o PCC certamente tem dinheiro para contratar gente capaz de fazer isso, seja desde policiais corruptos até, enfim, mercenários de várias qualidades. Sempre bom lembrar a matéria do Allan de Abreu sobre como o PCC matou aquele criminoso que controlava o tráfico em Ponta Porã, né? Deflagrando aquela guerra nacional com as outras facções criminosas brasileiras. Naquele episódio o PCC contratou mercenários, inclusive com artilharia anti-aérea.

Fernando de Barros e Silva: Perfeito, bem lembrado. E tem o caso do sujeito de Guarulhos também.

Celso Rocha de Barros: Bom, é uma coisa semelhante, inclusive o assassinato da Marielle, porque aquele tiro que o assassino deu em movimento não é um tiro que que um bandido comum consiga fazer. Que foi uma coisa que já indicou para os investigadores que quem fez isso tinha contrato para pagar um profissional e aquele cara inclusive tinha sido policial, tinha uma formação de elite, etc. Bom, novamente a gente tem que ter toda a cautela do mundo aqui sobre dizer quem foi que matou o cara, porque a investigação continua. Mas assim, supondo que seja o PCC, isso mostra mais uma vez como no Brasil houve um salto de organização do crime organizado, quer dizer, assim, uma demonstração de ousadia bastante significativa. A gente está falando da mesma organização que dois episódios atrás a gente tava discutindo como é que eles estavam investindo em fintechs, como é que eles estavam comprando a refinaria de combustível para lavar dinheiro. E isso tem dois lados, por um lado, o tamanho dessa organização criminosa. Em segundo lugar, as consequências de ter um pessoal que mata delegado sem maiores pudores, se metendo na economia normal porque, bom, digamos que você tem uma refinaria de combustível rival da refinaria do PCC. Você faz o quê? Você consegue matar o delegado? Não consegue. Então é um negócio que realmente exige uma uma ofensiva de investigação, de articulação entre polícias, naquele caso da fintech. Houve uma articulação entre a federal e a polícia de São Paulo, que eu acho que seria a boa nesse caso. Se não me engano, Derrite disse que não precisa.

Ana Clara Costa: O Ministério da Justiça ofereceu.

Celso Rocha de Barros: Exato. Eu acho que seria positivo justamente que o PCC já é muito maior que o São Paulo, o PCC já tem ligações internacionais. Eu acho que seria saudável se a gente juntasse o poder de investigação de todas as autoridades competentes. E, finalmente, assim, é bom a gente lembrar do problema que isso é para o Tarcísio e para o Derrite, que são os dois caras que estão aí basicamente se lançando politicamente, com um discurso de lei e ordem, com discurso de ter baixado a criminalidade. Quer dizer, bom, mataram o delegado responsável pelo caso do PCC, nas barbas das autoridades para a gente mexer. Ele não tinha nem guarda costas por estar aposentado, que é uma falha de segurança absolutamente grotesca. Então, naturalmente, a gente pode esperar que isso certamente trouxe problemas políticos para o governador.

Fernando de Barros e Silva: Sim. Ana, deixa eu te ouvir sobre isso.

Ana Clara Costa: Bom, na hipótese longínqua de um deputado ligado ao PCC se eleger nesta Câmara e mandar matar alguém, com a PEC da Blindagem, vai ficar difícil ele ser alvo de uma ação penal, principalmente se ele pertencer a um dos partidos do centrão. Outra hipótese bastante remota.

Celso Rocha de Barros: Vai ter gente dos PCCS da vida que inclusive vai tomar vaga de uns caras do centrão que votaram a favor da PEC da Blindagem.

Ana Clara Costa: Assim, o tamanho da influência do PCC na administração pública, das prefeituras, no setor de transporte, conhecidamente, enfim, ele tá na economia de uma forma talvez irreversível. Na Faria Lima, no mercado financeiro, a gente soube recentemente. Por que razão ele não teria capturado a política nacional. Será que lá não tem ninguém? Enfim.

Fernando de Barros e Silva: O processo de institucionalização do crime e gangsterização do Estado, via de mão dupla. É isso.

Ana Clara Costa: Agora, vocês mencionaram sobre esse método profissional que foi usado nesse assassinato, nessa execução, né? Eu tava conversando com o Bruno Langeane, que é do Instituto Sou da Paz, e ele tava justamente falando sobre as semelhanças entre esse método de execução do delegado Ruy e do Gris Bar, que foi o informante que foi assassinado em Guarulhos e com assassinatos que tem acontecido no interior de São Paulo. Porque no interior de São Paulo há uma guerra entre o PCC e novas facções que estão surgindo e que estão tentando roubar o espaço do PCC em determinadas cidades como Rio Claro, como Araraquara e tem acontecido várias execuções. E, segundo o Bruno, as execuções são parecidas no sentido de que elas são extremamente profissionais, né? Nesse caso do delegado Ruy, foi carro roubado, clonado, fizeram campana, usaram balaclava. Os fuzis são de uso da polícia, gente muito preparada, com treinamento tático.

Fernando de Barros e Silva: Queimaram o carro que eles usaram.

Ana Clara Costa: Exato.

Fernando de Barros e Silva: Menos o carro principal. Teve outros carros, mas…

Ana Clara Costa: Eram pessoas que sabiam usar uma longa gente que escolheu estar numa SUV porque é mais fácil de embarcar e desembarcar a arma. Então, todo esse sistema de execução traz uma hipótese de que policiais de que ex-policiais, de que ex-militares estejam em São Paulo fazendo uma prática que no Rio acontecia com o escritório do crime, que é a venda de serviços de execução para grupos criminosos. Claro que sempre houve grupos aleatórios que se reuniam para matar pessoas, como até o João Batista revelou no perfil que ele fez do Derrite, que o Derrite fazia parte de um grupo de extermínio da Polícia Militar de São Paulo. Mas eram coisas pontuais. O que está aparecendo com esse cenário do crime em São Paulo, segundo Bruno, é que existe um modus operandi, ou seja, existe uma comercialização de um modelo de execução e que daí isso está sendo investigado. Assim, o governo de São Paulo, que, como você bem disse Celso, não quis aí ajuda da Polícia Federal. Ele está investigando de onde está vindo essa profissionalização? Por exemplo, existe algum tipo de de investigação sobre a própria Polícia Civil? Se os policiais estão recebendo rendimentos muito acima do padrão salarial da Polícia Civil, por exemplo, ou têm carros muito acima do padrão, ou tem bens ou tem imóveis? Está havendo esse tipo de investigação? Porque o que os crimes sugerem é que o profissionalismo está vindo de quem sabe e quem sabe tá na polícia, né? Um outro ponto que eu acho que vale a gente mencionar é que houve recentemente várias prisões de CACs, né? São os colecionadores de armas que o Bolsonaro liberou geral no governo dele por decreto para que pudessem comprar armas, inclusive fuzis. E agora a gente está vendo esses crimes sendo cometidos com fuzis que não era tão comum.

Fernando de Barros e Silva: Exato. E o carro não era blindado no caso, mas poderia inclusive ultrapassar a blindagem.

Ana Clara Costa: Exato. Ele tava para blindar o carro, né? Coincidentemente, a repórter Aline Ribeiro, do Globo, e o repórter Gabriel de Campos, da CBN, eles entrevistaram o delegado duas semanas antes da execução para um podcast que eles estão fazendo sobre o crime organizado. E eu acho que vale dar uma lida na reportagem que eles fizeram no Globo. E a Aline também, ela dá uma entrevista em vídeo para O Globo, contando da relação dela com o delegado, uma repórter que cobre há 20 anos esse assunto. Então ele foi fonte dela e ele fez o relato na conversa com ela, de que ele não tinha a proteção, de que ele se sentia vulnerável. Ou seja, depois de tudo o que aconteceu, de todo mundo que ele mandou prender, né? A envergadura de quem ele mandou prender… Ele tava se aposentando sem ter proteção, que é uma coisa que vai acontecer com uma geração, na verdade, de delegados, porque é a primeira geração hoje que está se aposentando depois de prender líderes do PCC. Gerações anteriores você não tinha PCC, você não tinha o PCC do tamanho que ele é hoje. Então é uma geração que está chegando agora na aposentadoria, que é o que vai acontecer com o promotor Lincoln Gakiya, que justamente é o promotor dos casos envolvendo os líderes do PCC. E que também disse numa entrevista do Globo que vai se aposentar em breve. Enfim, imagino que ele deva temer bastante pela vida dele, porque ele próprio já pegou comunicações do PCC, em que havia pedidos de execução contra ele. E ele também disse em uma entrevista para O Globo que ele interceptou três mensagens do PCC com pedido de execução do delegado Ruy e que inclusive ele comunicou isso ao delegado. O delegado acabou nunca pedindo, na verdade, essa escolta que deveria ser praxe, mas ele acabou nunca pedindo. Não tinha carro blindado e eu também não sei se essa blindagem ia acabar impedindo o fuzil que foi usado para executá-lo. Mas enfim, tudo isso dá a dimensão da gravidade e da ousadia, né?

Celso Rocha de Barros: Exato.

Fernando de Barros e Silva: Sim.

Ana Clara Costa: Do crime organizado.

Fernando de Barros e Silva: A gente vai encerrando. Então, o terceiro bloco do programa. Fazemos um rápido intervalo e na volta Kinder Ovo. Já voltamos.

Fernando de Barros e Silva: Muito bem, estamos de volta. Mari Faria, afiada. Vamos ver o que você aprontou nessa semana. Solta aí, Mari.

Sonora: “E como eu digo, eu torci muito para o governo Lula dar certo. Pô, torci para o Haddad. Muito.”

Ana Clara Costa: Valdemar

Sonora: “Adorava o Roberto Campos. Parece que o Galípolo também é um cara… Então são coisas que estavam acontecendo que eu acho que muito boas para nós. Se tivesse, mas é mais difícil. Eu acho que o Brasil piorou muito nesses últimos tempos e nós podemos creditar essa fatura à esquerda brasileira se nós conseguirmos mudar…”

Ana Clara Costa: Roberto Justus?

Sonora: “O espectro político brasileiro, na próxima eleição, o Brasil vai ter anos dourados aí de de entusiasmo até de investimentos”.

Celso Rocha de Barros: Caraca, como?

Fernando de Barros e Silva: Roberto Justus, esse personagem grotesco da República.

Celso Rocha de Barros: Eu lembro do Roberto Justus na eleição 2018, fazendo artigo dizendo que anunciar que não vou ser candidato à presidência e ninguém tinha pedido, né?

Fernando de Barros e Silva: Exato. Ninguém tinha pedido.

Ana Clara Costa: Eu achei que a Mari fosse colocar o Temer no Roda Viva. Teve muita fala boa.

Fernando de Barros e Silva: O Temer, eu acertaria a mãozinha, o Temer mexer na mãozinha, acertaria. Nossa, Roberto Justus. Esse caprichou, hein, Mari? Vou tomar um vonau antes do programa. Celso, você perdeu essa.

Celso Rocha de Barros: Essa aí, essa era bem na minha especialidade.

Fernando de Barros e Silva: Ali com o Girão. Esse aí, eu prefiro Girão. Quem fala, então, é o empresário, vamos chamar assim, é o empresário e presidenciável, néCelso? Presidenciável vai por minha conta. E auto presidenciável, né? Empresário e auto presidenciável.

Celso Rocha de Barros: Presidenciável que não foi.

Fernando de Barros e Silva: Roberto Justus em entrevista ao canal Market Makers no YouTube. Eles podiam fazer um programa de concurso de peruca no Luciano Huck.

Celso Rocha de Barros: Saúde capilar.

Fernando de Barros e Silva: Fux e o Justus Saúde capilar. Fica a sugestão aí. Vai fazer maior sucesso! Em vez de Dança dos Famosos, A Peruca dos famosos. Bom, vamos agora então para o melhor momento do programa: Correio Elegante, o momento das cartinhas de vocês. E eu vou começar então com uma postagem da Martha Vian. “Há muitos anos adquiri o gosto de almoçar sem companhia. O Foro de Teresina mudou este hábito. Todas as sextas-feiras, almoço acompanhada do Celso, da Ana e do Fernando. Ótimas companhias. Aliás, nessa semana foram duas vezes. Gosto demais. “Ah, que coisa linda!

Celso Rocha de Barros: Que legal!

Fernando de Barros e Silva: Foram duas porque está nas plataformas, ouvintes, a gravação em vídeo da edição do Foro de Teresina ao vivo no Festival Piauí de Jornalismo, que foi gravado no dia 7 de setembro. Um beijo, Martha.

Ana Clara Costa: Um beijo. Marta. Valeu. Falando em vídeo no Instagram, Denise Barbosa postou depois de nos assistir: “Essa é a carinha do Celso? Nunca tinha visto. Carinha de inteligente”.

Celso Rocha de Barros: Viu?

Ana Clara Costa: E no Spotify…

Celso Rocha de Barros: Minha mãe sempre disse isso.

Ana Clara Costa: E no Spotify. A Valéria Bordin postou: “Se o casca de bala não existisse, precisaríamos criá-lo”.

Celso Rocha de Barros: Opa, valeu gente!

Ana Clara Costa: Muito legal!

Celso Rocha de Barros: Sensacional isso aí. Minha mãe concorda.

Celso Rocha de Barros: O Ives Martins escreveu: “Depois de dois programas seguidos com meu nome citado, me vejo obrigado a comentar. O pior é que minha mãe colocou meu nome por ter visto o nome do Ives Gandra e ter gostado.” Pô, Ives, mas Ives é um nome legal, eu acho. Gandra não é legal, mas o seu nome é legal.

Ana Clara Costa: Mas é em homenagem.

Celso Rocha de Barros: Acho que é mais porque gostou da sonoridade, né? “Ainda bem que nenhum dos meus pais são bolsonaristas, muito pelo contrário, dado que meu pai está no PT desde a fundação. De qualquer forma, esse episódio deve ter sido quando eu ouvi mais vezes alguém falando meu nome num curto espaço de tempo”.

Fernando de Barros e Silva: Coisa mais linda!

Celso Rocha de Barros: Valeu, Ives.

Ana Clara Costa: Pelo menos o Ives não é que nem o do Girão, né? Que é parente mesmo.

Fernando de Barros e Silva: Exato. Exato. Bom, assim vamos encerrando o programa de hoje por aqui. Se você gostou, não deixe de seguir e dar five stars para a gente no Spotify. Segue no Apple Podcast, na Amazon Music. Favorita na Deezer. Se inscreva no YouTube. Você também encontra a transcrição do episódio no site da piauí. O Foro de Teresina é uma produção do Estúdio Novelo para a revista piauí. A coordenação geral é da Bárbara Rubim. A direção é da Mari Faria, com produção e distribuição da Maria Júlia Vieira. A checagem é do Gilberto Porcidônio. A edição é da Bárbara Rubira, da Carolina Moraes e da Mari Leão. A identidade visual é da Amanda Lopes. A finalização e mixagem são do João Jabace e do Luís Rodrigues, da Pipoca Sound. Jabace e Rodrigues, que também são os intérpretes da nossa melodia tema. A coordenação digital é da Bia Ribeiro, da Emily Almeida e do Fábio Brisola. O programa de hoje foi gravado aqui na minha Choupana, em São Paulo, na agência de podcasts, também em São Paulo, e nos Estúdio Rastro, do Danny Dee no Rio de Janeiro. Eu me despeço dos meus amigos. Tchau, Ana.

Ana Clara Costa: Tchau Fernando, Tchau pessoal.

Fernando de Barros e Silva: Tchau, Celso.

Celso Rocha de Barros: Valeu, Fernando. Valeu, pessoal! Até semana que vem.

Fernando de Barros e Silva: Obrigado, João.

João Batista Jr: Um beijo em todo mundo. Obrigado pelo convite, gente. Tchau, Tchau.

Fernando de Barros e Silva: É isso gente! Uma ótima semana a todos e até a semana que vem.

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