Há cerca de dois meses, um companheiro de trabalho, nascido no Recife e torcedor do Santa Cruz, me disse que a dupla de ataque do santinha era formada por DM9 e CR7. E o pior é que era sério: em Pernambuco, DM9 é a sigla para Dênis Marques, o mesmo que veio para o Flamengo em 2009 e foi embora com a risível média de meio gol a cada trinta dias – foram seis em pouco mais de doze meses. Dênis Marques é hoje senhor absoluto da camisa 9 do tricolor pernambucano. E o CR7 genérico é o outro atacante, Flávio, que joga com a 7 e é mais conhecido pelo carinhoso apelido de Caça Rato.
Ainda não entendi direito essa história, e talvez seja apenas um factóide inventado pela mídia e amplificado pelos egos dos nossos craques. Mas, seguindo a trilha de outro post, que aborda o excesso de individualização no futebol, a principal suspeita é de que o objetivo das siglas é criar marcas próprias, dentro da nova tendência de tratar os jogadores como se fossem produtos.
Ok: futebol e marketing vivem em paz e harmonia desde os tempos de Leônidas da Silva, o artilheiro da Copa de 38 que vendeu, por um par de contos de réis, seu apelido para a Lacta: Diamante Negro. De lá pra cá, cachês e uso de jogadores em campanhas publicitárias aumentaram substancialmente, e há craques que trocam de marca como se trocassem de clube. Até 2008, Ronaldo Fenômeno dizia a todos nós que operadora boa era a TIM; hoje, ele garante que é a Claro. Neymar, que já caminhou nervosamente em direção à câmera afirmando pertencer ao clube da Nextel, tem recebido trotes noturnos de Ronaldo em filmes da Claro. São as tais metamorfoses ambulantes cantadas por Raul.
Por falar no Fenômeno, a primeira dessas siglas de que me lembro é, justamente, R9. Como se tratava de um cara bacana e um dos grandes atacantes da história do futebol, a ideia, embora desnecessária, não chegava a incomodar. Mas agora ficou fora de controle. Com um time onde se destacavam R10 e TN7, o Flamengo não obteve nenhum título significativo. Ganhou o estadual, ficou com uma das vagas para a Libertadores e olhe lá. Água. Os marqueteiros do nosso craque maior tentaram emplacar a marca Njr92, mas não colou. Mesmo porque, vamos combinar: marquinha complicada. Até Wellington Paulista – sim, Wellington Paulista – lançou a WP9. Francamente.
Vocês eu não sei, mas sempre que vejo o metrocraque CR7 – o original – em campo, tenho a impressão de que ele ignora o time e joga exclusivamente para si. Em 2012/2013, o Real Madrid perdeu o campeonato espanhol para o Barcelona, a Copa d’El Rey para o Atlético de Madrid e foi eliminado da Champions League pelo Borussia Dortmund, mas isso é detalhe. Aproveitando-se da fragilidade de Zaragozas, Osasunas e assemelhados, CR7 fez mais de cinquenta gols na temporada, e dane-se se o time não ganhou nada. Ele fez mais de cinquenta gols, e isso é o que importa: a cotação de sua marca própria subiu mais alguns milhões de euros.
Agora, um breve exercício de imaginação. E se o lateral-direito Douglas, do São Paulo, começa a usar a sigla D2? E se o reserva do Joinville, Augusto Recife, adota a marca AR15? E se aparece por aí um centroavante esperto e de futebol ardiloso, com o apelido de Xande, será o X9?
Melhor parar com essa bobagem.