Inspiradora da personagem Molly Bloom, Nora Joyce é presença marcante em Ulisses, geralmente considerado o maior romance em língua inglesa do século XX. A relação entre Nora e James fascinou muita gente, gerações de biógrafos exploraram as minúcias do comportamento do casal.
A personalidade da musa não poderia ter deixado de chamar a atenção dos inúmeros admiradores da obra de seu marido. É a data de sua primeira relação, 16 de junho de 1904 (quando Nora tinha 20 anos), que Joyce escolhe como o tempo único de seu romance, data celebrada até hoje em todo o mundo como Bloomsday. O relacionamento gerou dois filhos, Giorgio, nascido em 1905, e Lucia, em 1907.
Lucia tentou a carreira de dançarina, teve amores frustrados (inclusive com o jovem Samuel Beckett, então com 23 anos) e a partir de 1930 passou a manifestar sinais de uma doença mental severa que a afastou do convívio de quase todos até sua morte, 54 anos mais tarde. Tratada por Jung, na Suíça, seu diagnóstico foi de esquizofrenia, o que exigiu que passasse longos anos internada. Suas internações revoltavam seu pai, mas eram bem aceitas por sua mãe, que morreu 20 anos mais tarde, em 1951, sem nunca visitar a filha. Giorgio também abandonou a irmã. Levou uma pacata vida de músico, casou-se duas vezes, teve um filho e morreu aos 70 anos. Viveu doze anos mais que seu desgastado pai.
Com alguma lucidez, é Lucia quem anota o verso da fotografia reproduzida nesta página. A imagem mostra a família Joyce elegantemente vestida, num de seus melhores momentos, em 1924, antes dos problemas mais graves e quando a fama de Ulisses, publicado dois anos antes, já havia se firmado. Nora tem 40 anos; Joyce, 42;Giorgio, 19, e Lucia, 17. Atrás da fotografia, Lucia escreve simplesmente: “James, Nora, Giorgio e Lucia Joyce. Tomada em 1924, Paris”.