O homem elegante e de sorriso malicioso que dedica (a um tal de Carlo) sua foto aqui reproduzida, venceu todos os obstáculos de suas primeiras décadas para tornar-se, a partir dos anos 1940, aquele que muitos consideram o maior guitarrista de jazz de todos os tempos. Nascido num acampamento de ciganos na Bélgica, Django Reinhardt sentia-se francês, mas seu talento derrubou fronteiras ao longo da extraordinária carreira que fez dele uma figura lendária, ainda intensamente admirada mais de 60 anos após sua morte prematura, aos 43 anos, em 1953.
Django era analfabeto e nunca aprendeu a ler música. Adulto, aprendeu a escrever com dificuldade para poder dar autógrafos (o que tornou possível a dedicatória nessa foto). Com o sucesso crescente nos anos 1930, começou a vestir-se com esmero e é assim que posa, por volta de 1945, para o recém-criado hoje o mais prestigioso atelier fotográfico de Paris, cujas imagens já abusavam dos jogos de sombras (como ainda ocorre atualmente, mais de setenta anos após sua abertura).
Django sobreviveu a um incêndio de seu trailer aos 18 anos, que lhe deixou dois dedos paralisados na mão esquerda. Ainda assim, desenvolveu uma técnica própria para contornar a limitação que parecia insuperável e consolidou sua carreira nas décadas seguintes como instrumentista ímpar, umas das poucas grandes estrelas do jazz nascidas fora dos Estados Unidos.
Integrante de uma minoria perseguida durante a Segunda Guerra, sobreviveu milagrosamente quando passava a fronteira suíça e foi preso pelos soldados nazistas, salvo apenas porque o oficial alemão que os comandava era seu fã.
Imprevisível, ciclotímico e desorganizado, deu cano nos seus músicos e no público que o esperava para aquele que seria um show consagrador no Carnegie Hall de Nova Iorque, porque cruzara na rua com o boxeador francês Marcel Cerdan. Conversou com ele a tarde toda e esqueceu a hora. Precursor de Tim Maia, nunca se sabia se Django compareceria às suas próprias apresentações, e seu ocasional mau humor o fez ganhar dos amigos o apelido de “doce fera”. Apesar dessa indisciplina, seu público permanecia fiel, e suas gravações são hoje cultuadas por um grande número de saudosistas apaixonados e de admiradores nascidos décadas após sua morte.
Os autógrafos do iletrado Django não poderiam deixar de ser muito raros e só são às vezes encontrados sob forma de fotos ou programas assinados a pedido de fãs. Das poucas cartas que precisou escrever (sempre em letra maiúscula), parece ter sobrevivido apenas menos de uma dezena.