Às vésperas da Copa de 2010, circularam na internet escalações engraçadas de todas as seleções participantes. A do México nem era das melhores: Zapata; Godinez, Cirilo e Racha-Cuca; José Cuervo, Chapatín, Girafales e Hector Bonilla; Taco, Roberto Bolaños e Speedy González. Técnico, Don Ramón. Não se comparava com as da Nigéria e da Coreia do Sul, mas valia a brincadeira.
Quem não está muito para brincadeirinhas em relação aos mexicanos é o senhor Luiz Felipe Scolari. Em um dos recentes treinos da seleção brasileira, na Granja Comary, o microfone capturou algumas orientações de Felipão aos zagueiros. Com paciência e firmeza, ele alertava que “50% dos gols do México saem desse jeito.” E completava, quase dramático: “Foi assim que nós levamos dez gols do México; foi assim que perdemos a final da Olimpíada pra eles.”
Honestamente, não me lembro quantos e como foram os últimos gols do México contra a seleção brasileira, mas é indiscutível que eles vêm acontecendo numa proporção bem maior do que deveriam. Foi para os mexicanos que, em 1999, dançamos na final da Copa das Confederações. E em 2012, com Neymar, Thiago Silva, Marcelo, Hulk e Oscar, tivemos que enfiar a viola no saco e nos contentar com a desvalorizada medalha de prata nos Jogos Olímpicos. O técnico era o filósofo Mano Menezes, mas metade do time titular de Felipão estava em campo.
Tão inexplicável quanto centenas de coisas que acontecem no futebol, o fato é que o México virou a pedra na chuteira da seleção brasileira. No entanto, a história deles nas Copas é de uma pobreza que, comparado a ela, Seu Madruga é milionário. Já participaram de catorze edições e alcançaram um recorde curioso: com 24 derrotas, têm a seleção que mais perdeu em toda a história dos mundiais.
E a fase não é das melhores. Mesmo participando do risível grupo da Concacaf, o México não conseguiu se classificar nas eliminatórias e teve que ir à repescagem para garantir vaga na Copa. Mas é um time com boa técnica e jogadores reconhecidos, como Chicharito Hernández, do Manchester United, Guardado, do Bayer Leverkusen, e Giovanni dos Santos, que joga no Villareal e é filho de brasileiro. Vai brigar com Croácia e Camarões pela segunda vaga do grupo e tem grandes chances de seguir para as oitavas. Das quais, pela sexta vez consecutiva, não deverá passar.
O que não dá para entender é porque eles dão tanto trabalho à nossa seleção – e não será surpresa se derem mais uma vez no dia 17 de junho – e se apequenam contra as outras. Para explicar, só mesmo o Professor Girafales.
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