Ludwig Wittgenstein é talvez hoje o mais admirado dos grandes filósofos do século XX, e certamente aquele de personalidade mais carismática.
Filho de uma das famílias mais ricas da Europa, era indiferente ao dinheiro e doou toda sua herança aos irmãos. Foi colega, aos 12 anos, na escola secundária, em Linz, na Áustria, de um certo Adolph Hitler, que muitos acreditam teria invejado seu contemporâneo, aristocrata, belo, brilhante, riquíssimo e judeu.
Adolescente, Wittgenstein pensou em ser monge, mas acabou fazendo um doutorado em Engenharia em Manchester, onde se interessou pelos fundamentos da matemática. Estudou filosofia com Bertrand Russell antes de se engajar como combatente voluntário no exército austro-húngaro, durante a Primeira Guerra Mundial, quando foi condecorado por sua coragem. Feito prisioneiro em Monte Cassino, na Itália, foi libertado depois da guerra e se tornou, sucessivamente, mecenas anônimo do poeta Rilke, arquiteto de uma hoje famosa casa modernista para sua irmã, professor de filosofia em Cambridge, ermitão na Noruega, servente num refeitório e técnico num laboratório de análises médicas durante a Segunda Guerra Mundial.
Aos 32 anos, publicou seu famosíssimo que exerceu uma imensa influência sobre a filosofia do século XX. Nada modesto, considerava que tinha resolvido com este livro todos os problemas resolvíveis da filosofia e decidiu se retirar da vida acadêmica.
Sete anos depois, em 1929, achou que poderia melhorar seu trabalho inicial e voltou para Cambridge. Gastou os vinte anos seguintes esclarecendo seu primeiro livro ? na curiosa posição de ser agora o crítico mais veemente de um trabalho seu, admirado por todos. Neurótico obsessivo, misógino e homossexual infeliz, Wittgenstein brigou com praticamente todos seus amigos.
Em 1951, condenado por um câncer de próstata, estava num período de aparente remissão e voltando a escrever trabalhos filosóficos após vários anos de silêncio. A carta reproduzida nesta página é datada de 26 de abril de 1951. Wittgenstein caiu num estado de semi-consciência menos de 48 horas após tê-la escrito. A carta é dirigida a sua governanta em Viena, que só deve ter recebido após a morte do grande filósofo:
Prezada Beth
Muito obrigado por sua carta carinhosa que me deu muito prazer.
Você foi a única pessoa a me felicitar por meu aniversário. É verdade que quando um homem já tem 62 anos não deveria mais esperar parabéns.
Quis muito ver você e todos os amigos em Viena, mas infelizmente não foi possível. Por favor mande meus melhores votos para Magda e Alle, e desejo também a você tudo de melhor.
Seu, Ludwig Wittgenstein
Wittgenstein sabia que este seria provavelmente o seu último aniversário e não escondeu o isolamento em que se encontrava, ao reconhecer que a carta de Beth tinha sido a única que recebera pela data. Toda sua vida pensara em suicídio – três de seus oito irmãos haviam se suicidado. Esperava agora a morte serenamente, mas provavelmente não imaginava, ao escrever essa carta, que seria a última.