O futuro do governo Bolsonaro ainda é uma incógnita, mas os seus contornos já estão claros para a imprensa internacional. Às vésperas da posse, jornais e agências de notícias estrangeiros classificaram o capitão reformado como “populista de direita”, “radical” ou “agitador de extrema direita”.
A associação de Bolsonaro com a extrema direita foi feita por sete de dez veículos consultados pela piauí. Aparece em matérias de jornais como The Guardian, britânico, e Le Monde, francês, e de agências, como Reuters e AFP (Agence France-Presse). Classificações similares também foram empregadas, como “ultradireita” e “direita dura”. O americano The New York Times chamou o presidente eleito de “populista estridente”. Na nuvem de palavras acima, os termos mais empregados em relação a Bolsonaro aparecem em tamanho maior.
Com frequência, as reportagens comparam Bolsonaro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Para o jornal Le Monde, a retórica nacionalista, o selo de “outsider” e a postura antiestablishment do novo presidente brasileiro configurariam um “trumpismo à risca”. O diário afirma ainda que os dois políticos têm convicções semelhantes, “que misturam paranoia e ódio ao socialismo”. Horas depois da publicação da matéria, Bolsonaro, já adornado com a faixa presidencial, comprometeu-se em seu discurso no parlatório do Palácio do Planalto a “libertar” o Brasil do “socialismo, da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto”.
Além do jornal Le Monde, outros quatro veículos – BBC, El País, Süddeutsche Zeitung e The Guardian – caracterizam Bolsonaro como “populista”. Para o diário britânico, conforme essa classificação, ele se situa ao lado de Trump, do presidente da Bolívia, Evo Morales, e do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán. Os dois últimos compareceram à cerimônia de posse de Bolsonaro em Brasília.
Depois das comparações com Trump, as com Orbán são as mais frequentes para explicar a eleição do novo presidente brasileiro. O líder húngaro, há oito anos no poder, lidera o Fidesz, partido conservador e nacionalista. Favorecido pela maioria parlamentar obtida por sua legenda, Orbán conseguiu fazer amplas reformas no Legislativo e na Constituição da Hungria. É acusado de autoritarismo e de tentar influenciar os demais poderes da República. O cientista político alemão-americano Yascha Mounk afirmou em entrevista ao Guardian que Bolsonaro não é um caso isolado e, durante a campanha eleitoral, seguiu o script do populista de direita adotado por Orbán. “Há um manual populista, e isso é perigoso”, cravou Mounk.
Reportagem publicada em 1º de janeiro pelo jornal português Correio da Manhã avalia que o manual de Bolsonaro prega a seguinte fórmula: “Defesa da ordem civil inspirada na cultura militar, da moral cristã e do liberalismo econômico”. A análise é corroborada pelo diário argentino Clarín, que classifica o novo presidente como um representante da “ultradireita”, cujo projeto econômico terá um “tom claramente liberal”. Em três das dez matérias consultadas, é citada a Escola de Chicago, referência do pensamento econômico liberal, à qual está ligado o ministro da Economia, Paulo Guedes.