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    ILUSTRAÇÃO: PAULA CARDOSO

questões políticas

Aluguel do PSL custa R$ 1,8 milhão à campanha de Bolsonaro

Ex-presidente do partido, Luciano Bivar recebeu sozinho, até agora, 28% dos gastos da cúpula nacional da sigla que cedeu ao ex-capitão

Josette Goulart | 14 set 2018_16h20
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Fundador do PSL, Luciano Bivar entregou seu partido para que Jair Bolsonaro o usasse para disputar a eleição presidencial. Foi em janeiro. Desde então, muita coisa mudou: Bivar deixou a presidência da sigla, a sede mudou do Recife para Brasília e um novo presidente assumiu – Gustavo Bebianno, advogado carioca e um dos coordenadores da campanha de Bolsonaro. A contrapartida para Bivar chegou oito meses depois. Candidato a deputado federal por Pernambuco, o fundador do partido recebeu duas doações do Diretório Nacional do PSL entre 20 e 23 de agosto, totalizando 1,8 milhão de reais. Ninguém recebeu mais que ele. Até agora, Bivar, sozinho, foi o destinatário de 28% das despesas pagas pela cúpula nacional do partido que ele cedeu a Bolsonaro.

Com o diretório de São Paulo inteiro, que tem 57 candidatos a deputado federal, o PSL gastou até agora 500 mil reais (8% das despesas pagas pela sigla até esta sexta-feira). Essa é a segunda maior despesa do diretório nacional do partido. Entre os 485 candidatos à Câmara pela sigla, Bivar não é o único a receber diretamente do fundo nacional, sem passar pelo diretório estadual. Mas os valores são bem menores do que os repassados ao ex-presidente do partido. O segundo candidato a deputado com quem o diretório nacional do PSL mais gastou é Waldir Soares de Oliveira, o Delegado Waldir, que recebeu 420 mil para tentar uma vaga à Câmara por Goiás.

Já para uma estrela do partido, a apresentadora Joice Hasselmann, o diretório nacional destinou 100 mil reais até agora para sua campanha à Câmara por São Paulo. Isso se ela conseguir de fato se candidatar, pois sua candidatura foi indeferida pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo. Os magistrados apontaram problemas na documentação, e Hasselmann entrou com recurso. Para os outros candidatos do PSL vinculados ao diretório paulista, as quantias são muito mais modestas: 5 mil reais a cada candidato, conforme disse à piauí o presidente do diretório de São Paulo e candidato ao Senado, Major Olímpio.

Um dos integrantes da nova executiva nacional, que se filiou ao PSL junto com Bebianno, também foi privilegiado na divisão de despesas feitas até aqui pela cúpula do partido. Candidato a deputado federal pela Paraíba, vice-presidente da sigla e coordenador da campanha de Bolsonaro no Nordeste, Gulliem Charles Bezerra Lemos, o Julian Lemos, recebeu 250 mil reais. Lemos integra o comando do partido formado em fevereiro, depois que Bivar deixou a presidência da sigla.

À piauí, Bivar disse que o direcionamento de parte dos recursos dos fundos do partido para sua campanha e para o diretório de Pernambuco havia sido uma “promessa” da época do acordo para a filiação de Bolsonaro. Mas ele nega que tenha alugado ou entregue o partido. “O partido já tinha os fundos e o que está sendo distribuído agora foi dinheiro comprometido no passado [antes de o partido abrigar Bolsonaro] com alguns candidatos. O que foi prometido antes dele está sendo cumprido agora”, disse. Segundo o ex-presidente, os recursos direcionados diretamente à sua campanha serão distribuídos a outros candidatos. “A decisão de aglutinar os recursos em uma única pessoa foi tomada para ver se nada está frio [referindo-se a notas frias de fornecedores]. Isso é um direcionamento do Bebianno e da direção do partido”, prosseguiu. “E o dinheiro não é só para mim, eu vou direcionar recursos para os outros candidatos da coligação.”

Após a filiação de Bolsonaro, Bivar chegou a ser cogitado como candidato a vice-presidente em uma chapa com ex-capitão. Meses depois, já não era considerado para a vaga. Bivar minimizou o episódio e disse que era “importante” não ser o candidato a vice, para não enfrentar “acusações de fisiologismo”.

No total, o PSL declarou à Justiça Eleitoral que vai distribuir cerca de 13 milhões de reais. Desse valor, 9,2 milhões de reais são do fundo especial de financiamento, com recursos do Tesouro Nacional e que se não forem distribuídos para campanha devem ser devolvidos. Com isso, o percentual recebido por Bivar e pelas outras candidaturas até esta sexta-feira tende a  mudar. Se o partido distribuir o total dos recursos, Bivar ainda terá pelo menos 13% do total do fundo, percentual que em outros partidos só são atribuídos a candidaturas majoritárias.

Procurados, o presidente do partido, Gustavo Bebianno, e a assessoria de imprensa do PSL não atenderam os pedidos de entrevista para falar sobre a distribuição das despesas do partido.

 

Bivar foi um dos fundadores do PSL e, desde 1998, quando o partido recebeu definitivamente seu registro, já era presidente do partido. Morador do Recife, ele é empresário e declarou um patrimônio de quase 18 milhões de reais ao TSE. Em 2010, o empresário vendeu sua empresa de seguro saúde, a Excelsior de Seguros, para a Amil, operadora que pertencia ao empresário Edson Bueno. Na época, o Valor Econômico estimou a venda entre 50 e 70 milhões de reais. Bivar já foi dono de empresas de factoring, mas diz que não possui mais nenhuma delas. Durante seis mandatos, distribuídos entre os anos de 1989 e 2014, foi presidente do time de futebol Sport Club do Recife.

Na política, foi deputado federal e candidato a presidente pelo PSL, em 2006. Nas eleições de 2014, concorreu ao cargo de deputado e teve votos suficientes apenas para ficar como suplente. Ele espera que, neste ano, o PSL de Pernambuco eleja dois deputados federais, reforçado pelo nome de Bolsonaro. “Eu sou um presidente de honra do partido e não tenho intenção de voltar ao dia a dia, até porque viajo muito. E às vezes questões práticas do partido requerem uma assinatura, ou algo assim”, disse Bivar. Ele lembra que não é incomum que o seu partido tenha presidentes com a nomeação de “interino” – como Bebianno.

A maior parte do dinheiro do PSL – segundo o presidente do diretório paulista, Major Olímpio – está sendo distribuído entre candidatos a deputados porque Bolsonaro, seus filhos Flávio e Eduardo, e candidatos ao Senado como o próprio Olímpio “não quiseram” receber as verbas do que chamaram de “fundão da vergonha”. Eles incentivam os candidatos a não receberem o recurso, disse Olímpio. A orientação é uma espécie de bandeira dos candidatos que votaram contra a criação do fundo que usa dinheiro público para financiar as campanhas. Ao todo, o fundo tem 1,7 bilhão de reais e foi repartido entre os partidos. A divisão foi feita de acordo com o número de congressistas. Enquanto o PSL, por exemplo, recebeu os 9,2 milhões de reais, o MDB do presidente Michel Temer recebeu 234 milhões de reais. Além do fundo, os partidos também podem usar recursos do fundo partidário que recebem regularmente para financiar as atividades do dia a dia.

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