O alarme de que havia algo errado com a Americanas disparou no BTG Pactual pouco antes de ser anunciado o rombo de 20 bilhões de reais no balanço da varejista, no dia 11 de janeiro. Por volta das 16 horas, um executivo financeiro da Americanas ligou para um funcionário júnior do banco pedindo o resgate das aplicações financeiras da varejista na instituição.
Era um pedido incomum. O funcionário estranhou e resolveu falar com seus superiores no BTG. Por causa do horário, quase final do expediente, do alto valor do resgate (coisa de 1,2 bilhão) e da ligação para um jovem de menor escalão, o banco também estranhou e brecou a transferência. O rombo foi anunciado, às 18h30, pelo então presidente da Americanas, Sérgio Rial. Ele anunciou ao mercado, através de um fato relevante, que a empresa tinha “inconsistências contábeis” de 20 bilhões de reais e pediu demissão O BTG ligou as pontas. O banco tinha 3,5 bilhões de reais a receber da Americanas.
O presidente do BTG Pactual, André Esteves, estava na Suíça. De lá, liderou uma reunião virtual com os diretores do banco naquela mesma noite. Eles analisaram os fatos e tomaram uma decisão arrojada. Na madrugada do dia 12, antes que o mercado abrisse, o banco fez o vencimento antecipado de todos os seus contratos com a Americanas. Na prática, bloqueou todo o dinheiro que a varejista tinha aplicado no banco.
A ação só foi possível porque o BTG tinha um acordo de compensação com a Americanas, segundo o qual, caso houvesse alguma anormalidade ou desrespeito ao contrato, toda a dívida da varejista com o banco que tivesse vencimento futuro seria antecipada para o presente – e os recursos da companhia investidos no banco seriam utilizados para pagá-la. Como a Americanas tinha 1,2 bilhão de reais aplicados, o BTG Pactual bloqueou a quantia e assegurou o recebimento de, pelo menos, parte da dívida.
Os executivos do banco e cerca de trinta advogados se reuniram novamente com André Esteves, via internet, no fim da noite do dia 13, uma sexta-feira. O clima agora era de guerra aberta, dado que os advogados da varejista entraram na Justiça suspendendo os bloqueios dos recursos da empresa pelos bancos. Ao tomar conhecimento da medida, Esteves, da Suíça, determinou, furioso: “Eles agrediram primeiro. Então vamos agredir também. E vamos dar o nome aos bois publicamente.” E prosseguiu: “Vamos escancarar que o que aconteceu não foi um inconveniente no balanço. Não. O que aconteceu foi uma fraude gigante, que tem nome, endereço e cpf.”
Esteves disse ainda: “Não dá para ficar incensando os que controlam a companhia há quarenta anos como se não soubessem de nada e fossem uns néscios na gestão.” Referia-se ao trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, donos da Americanas, mas sobretudo a Sicupira, que já presidira a companhia, tinha grande influência na gestão e ocupava uma vaga no conselho de administração. E orientou os advogados a prepararem uma ação vigorosa contra a Americanas. “É pra bater! É pra ir pro pau!”, ordenou.