Era o domingo perfeito. A gente saía da praia, passava em casa, tomava uma chuveirada pra tirar o sal do corpo e embarcava para o Maracanã. Sem almoçar e para ver o jogo que fosse. No Maraca, o cachorro-quente Geneal quebrava o galho da fome, mas poupávamos bolso e estômago para a alta gastronomia que nos esperava, um pouco mais tarde, ali na Praça XV.
O Angu do Gomes está para o futebol carioca mais ou menos como o Tropeirão do 13 para o futebol mineiro. Papa-fina. Os miúdos mergulhados no angu farto e fumegante faziam esquecer qualquer derrota – menos a de seis a zero, claro.
Com tão pouca coisa a dizer sobre a boa bola rolando, dois assuntos tomaram de assalto o noticiário:a inacreditável bolada que uns e outros encaçaparam com a venda do Neymar e o insuportável cai-não-cai de Fluminense e Portuguesa.
Não sei se procede, mas li certa vez que a saltadora russa Yelena Isinbayeva tinha um contrato de patrocínio que lhe rendia 100 mil dólares a cada recorde quebrado. Só que o bônus era por competição: se ela quebrasse o recorde duas vezes numa só competição, ganhava os mesmos 100 mil dólares. Assim, Isinbayeva ia lá, subia um tantinho de nada o sarrafo e voltava para casa de bolso cheio. Na próxima competição, mais um recorde. E, de tantinho em tantinho, a bela russa enchia o papo. As malcheirosas informações sobre a venda de Neymar e a colocação final do Campeonato Brasileiro nos chegam feito os recordes de Isinbayeva: em doses homeopáticas. No jornalismo diário isso é compreensível, mas cansa.
De aproximadamente dez dias para cá, jornais e sites de esporte passaram a tratar de uma velha novidade: a de que transferências internacionais de jogadores de futebol são grandes fontes de lavagem de dinheiro. Todos fomos pegos de surpresa, até porque sempre acreditamos que o Hulk vale mesmo os 60 milhões de euros que o Zenit teria pago ao Porto. 60 milhões de euros. Hoje, com o dólar a 2,40 e o euro a 3,30, Isinbayeva teria que quebrar o recorde em 825 competições diferentes para faturar essa bobagem. O que trouxe o tema à tona foi o muito mal explicado histórico da venda de Neymar, e a partir daí instalou-se a lenga-lenga. Primeiro, o Santos não sabia de nada. Depois, o pai de Neymar mostra uma carta em que o Santos o autoriza a negociar. Aí o Santos se defende, e alega que a carta autorizava o início das conversas, e não o recebimento adiantado de 10 milhões de euros. Etc., etc., etc.
Apesar de ainda não se saber quantos e quais clubes participarão da série A do Brasileirão, ninguém mais aguentaSTJD, Ministério Público, André Santos, Flamengo, Fluminense, Heverton, Portuguesa. Mas a cada dia estourauma bomba que vira o caso de ponta-cabeça e preenche nossas carentes páginas esportivas. O ex-advogado da Portuguesa de Desportos, que sumira, agora aparece e liga o ventilador virado pra farofa. No começo do embrulho, a Portuguesa era a pobre-coitada habitual; agora, o promotor Roberto Senise Lisboa acusa a Lusa de saber de tudo desde sempre, e por isso suspeita que alguém levou algum na história. Antes, o Flamengo apenas servia de bucha para justificar os pontos tirados da Portuguesa e que salvam o Fluminense; agora, o Flamengo, que em nenhum momento chegou a ser rebaixado, condição que ficou ora com o Flu, ora com a Portuguesa, entra com um recurso em um diabo de um tribunal lá em Lausanne. Pergunto: pra quê? Para recuperar quatro pontos que não alteram nada? Aí surge o novo presidente da Lusa – sim, a Portuguesa mudou de presidente bem no meio do furacão – suspeitando de dois funcionários da administração anterior. Uma chatice.
Excelentíssimo senhor Jorge Murtinho: será que o amigo poderia explicar o que é que o angu tem a ver com isso? Bem, como diria D. Ilka, minha avó – que por sinal batia um bolão na cozinha –, embaixo de todos esses angus têm caroços.