O pastor Cristoffer Zilotti aparentava cansaço na noite daquele domingo, 24 de novembro, quando iniciou o culto da Comunidade Cristã Abraça-me, em Curitiba. Tinha varado o dia ali mesmo, na sala comercial que serve de espaço eclesiástico para o templo, atendendo a uma jovem lésbica que havia tentado suicídio pelo fato de a família não aceitar sua orientação sexual. O religioso iniciou o processo que chama de cura interior, um acolhimento que combina muita conversa e algumas orações. À noite, durante o culto, proferiu um sermão sobre a parábola “O filho pródigo” – em que um jovem volta para casa após ter gastado sua parte na herança em orgias, mas ainda assim é recebido com festa pelo pai. O pastor deu ênfase à reação do irmão mais velho, que, conforme a passagem bíblica, se indignou ante a recepção preparada para o caçula. Neste ponto, Zilotti estabeleceu um paralelo entre a narrativa e o preconceito de que a população LGBTI+ é alvo. “A condenação vem do filho mais velho, não do pai. Está cheio de ‘irmãos mais velhos’ lá fora, em todos os lugares: nas ruas, nas tevês, nas rádios, nas igrejas. Eles nos condenam, dizem que não seremos salvos. Mas eles são só ‘os irmãos mais velhos’. O pai, Deus, não condena: salva o filho mais novo”, pregou, para um grupo de fiéis formado quase que exclusivamente por homossexuais.
Afinada com a doutrina presbiteriana, a Abraça-me é uma das cinco igrejas evangélicas de Curitiba classificadas como inclusivas – que acolhem gays, lésbicas e transexuais que querem expressar sua fé. O avanço dessas comunidades vai além das dimensões regionais e começa a se consolidar como um fenômeno nacional. Segundo a organização não-governamental Aliança Nacional LGBTI+, a capital de cada unidade da federação tem, hoje, pelo menos um desses espaços religiosos. Apesar de os números serem dinâmicos, a entidade estima que a quantidade de igrejas inclusivas em todo o Brasil passe dos 150. Pode parecer pouco, já que o país tem cerca de 42,3 milhões de evangélicos – segundo os dados mais recentes do IBGE, de 2010 – e, ao longo dos últimos dez anos, mais de 72,5 mil novas igrejas (de todas as religiões) tenham sido registradas na Receita Federal em todo o território nacional: média de 20 por dia. Mas há que se considerar que as comunidades voltadas à população LGBTI+ são um fenômeno relativamente recente. As primeiras igrejas evangélicas inclusivas surgiram a partir dos anos 2000, mas de forma bem pontual. Foi ao longo desta última década que elas começaram a se expandir.
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