Desde 1996, ano em que Luiz Alfredo Garcia-Roza lançou , acompanho as aventuras do policial Espinosa. No livro Na multidão, o delegado da 12ª DP abre a janela e dá de cara com “adolescentes que jogam futebol com arrebatamento de final de Copa do Mundo”. Costumo lembrar esse pensamento de Espinosa quando vejo alguns jogadores e certos times em campo – tanto para o bem como para o mal.
O futebol brasileiro tem vários caras que, qualquer que seja a importância da partida, demonstram arrebatamento de final de Copa do Mundo, e o melhor exemplo do momento talvez seja o Aloísio, do São Paulo. Não falo de técnica, visão de jogo ou tirocínio, mas de dedicação. Que é o mínimo que se espera de um profissional, e mesmo de quem pisa num campo de terra batida para disputar uma pelada. Futebol é coisa séria.
Entretanto, existe a antítese do arrebatamento de final de Copa do Mundo: o desalento da disputa pelo terceiro lugar – que também ocorre de quatro em quatro anos e é, certamente, o ápice do anticlímax. Admito a falta de esportividade da tese, mas eis aí um jogo que não deveria existir. É triste toda vida.
Pois o futebol brasileiro também tem vários caras que sempre dão a impressão de estar disputando o terceiro lugar. Dagoberto do Cruzeiro, Carlos Eduardo do Flamengo, Wagner do Fluminense, Jádson do São Paulo, Diego Souza e Casemiro que estão no exterior. Reparem que não há grosso nessa lista, só gente que sabe jogar bola. O problema é que todos entram em campo como se a profissão fosse um fardo.
Mas nada se compara ao time do Internacional, que há três anos vem apresentando desempenho e resultados muito abaixo das possibilidades e do nível de investimentos. Não deve ser fácil para o torcedor do Inter entender que, faltando sete rodadas para o fim do campeonato, o time que contratou Diego Forlán, Scocco e Alex esteja onze pontos atrás do time que contratou Edílson, Dankler e Lima. O Internacional leva todo mundo, monta o time que quer, mas não consegue disputar títulos significativos. Pior que isso: a gente vê o Inter jogar e não encontra sombra do arrebatamento espinosiano que virou marca registrada do futebol gaúcho.
Parece que, depois da conquista da Libertadores em 2010, a derrota para o Mazembe virou o Sapo de Arubinha da vida colorada. Está sendo uma áfrica desenterrar o bicho.