O abismo da desigualdade social e econômica brasileira se reflete no desenvolvimento urbano e na riqueza das cidades. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que apenas oito municípios detêm, sozinhos, um quarto do PIB brasileiro. Já foi pior: há cerca de vinte anos, eram apenas quatro municípios. Quase 80% das cidades brasileiras têm PIB per capita abaixo da média nacional, e em metade delas a economia é fortemente dependente do setor público. A volta do país ao mapa da fome em 2018, a carestia galopante e uma piora geral da qualidade de vida nos últimos anos intensificam as desigualdades urbanas. Veja no =igualdades.
A pesquisa do Ipea, voltada à construção de uma Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU), mostrou que o país terá muito trabalho pela frente para reduzir a desigualdade. Oito cidades brasileiras detêm 25% das riquezas produzidas por aqui. São elas: São Paulo (SP) com 10,2%; Rio de Janeiro (RJ) com 5,2%; Brasília (DF) com 3,6%; Belo Horizonte (MG) com 1,3%; Curitiba (PR) com 1,2%; e, com 1,1% cada, Manaus (AM), Porto Alegre (RS) e Osasco (SP). Isso significa que um quarto da produção econômica do Brasil está limitada a apenas 0,14% dos municípios.
Apesar de a concentração de riqueza permanecer aguda, ela caiu à metade nas últimas duas décadas. Em 2002, apenas quatro cidades controlavam um quarto do PIB brasileiro: São Paulo (12,7%), Rio de Janeiro (6,3%), Brasília (3,6%) e Belo Horizonte (1,57%). Agora, são oito.
Em 2.739 dos 5.570 municípios brasileiros (49%), a maior parte da riqueza provém da administração pública local. Eles estão localizados em um grande bloco territorial que parte do Norte de Minas Gerais e abrange considerável parcela das regiões Nordeste e Norte. Nesses locais onde o capital da prefeitura é o que predomina na formação do PIB – e não o de agricultura, serviços ou indústria, por exemplo –, também são encontrados os menores PIB per capita do país.
O PIB per capita é uma importante alternativa para medir o desenvolvimento econômico de um país. Ao dividir o total de riqueza produzido no território em um ano pelo número total de habitantes, é possível projetar como seria a distribuição de renda num cenário de plena igualdade. No caso do Brasil, cada cidadão receberia R$ 33.593,82, o equivalente a R$ 2.800 por mês. Entretanto, a realidade do país é muito diferente e a alta concentração de riqueza se reflete também territorialmente: 78% dos municípios brasileiros têm renda per capita abaixo dessa média.
Brasília (DF) e Belém (PA) ocupam polos opostos do ranking nacional em relação ao PIB per capita. O da capital federal encabeça a lista, totalizando R$ 85.661,39. Isso representa o quádruplo do PIB per capita da capital paraense, que é também o mais baixo do país: R$ 21.191,47.
Entre 2002 e 2019, o setor terciário foi, disparado, o que mais gerou empregos formais no país. O número de postos no comércio cresceu 96%, seguido de perto pelo aumento na área de serviços (94%). Na lanterna do ranking, estão a agropecuária, cuja variação foi de 30%, e a administração pública, com 31%. Construção Civil (82%) e Indústria (40%) completam a lista. No agregado, o emprego formal no Brasil cresceu 66%.
Bancos Comunitários de Desenvolvimento (BCDs) são uma alternativa cada vez mais comum no Brasil para fomentar economias locais. Eles fornecem crédito social, em real e em uma moeda social própria, com o intuito de incrementar a produção e o consumo internos de uma população. Florescem em um cenário de alta exclusão dos circuitos formais de créditos e aguda informalidade da mão de obra, concentrando-se, portanto, em regiões mais pobres. Até 2016, o país tinha 146 BCDs, e quase metade deles (69) estava no Nordeste. Na região, o Ceará, sozinho, tinha 42, e somente Pernambuco não contava com nenhum. No Sul, eram apenas quatro, todos no Rio Grande do Sul.