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    Fiscal do IPAAM visita um trecho de floresta destruído no sul do Amazonas: o estado respondeu por 22,5% de toda a área desmatada da Amazônia no período de agosto de 2021 a julho de 2022, segundo o Inpe Lalo de Almeida/Folhapress

questões ambientais

Aumento do desmatamento no Amazonas alarma ambientalistas

Derrubada da Amazônia durante o governo Bolsonaro cresceu 59% em relação aos quatro anos anteriores

Bernardo Esteves | 30 nov 2022_13h13
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Uma alta de 13% no estado do Amazonas é o destaque negativo da taxa de desmatamento na Amazônia de 2022, que ficou em 11 568 km2, conforme anunciou hoje (30/11) o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O número deste ano representa uma queda de 11% em relação à taxa de 2021, quando o desmatamento passou de 13 mil km2 – foi o maior índice desde 2006. Durante o governo Bolsonaro, a taxa ficou quatro anos seguidos acima dos 10 mil km2, depois de uma década em que esteve contida na casa dos quatro dígitos. A taxa de desmatamento na Amazônia é calculada pelo Inpe a partir de imagens de satélite e se refere ao período de agosto de 2021 a julho de 2022.

Nos anos Bolsonaro, a taxa média de desmatamento na Amazônia foi de 11,4 mil km2 – um aumento de 59% em relação à média dos quatro anos anteriores, que foi de 7,1 mil km2. A explosão do desmatamento nesse período é um reflexo da política ambiental do governo federal, marcada pelo afrouxamento da fiscalização, pela diminuição expressiva das multas ambientais e pelo estímulo ao crime ambiental no discurso do presidente.

O Inpe já tinha entregue o número desde antes da COP27, a 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que aconteceu de 6 a 18 de novembro no balneário de Sharm el-Sheikh, no Egito. No entanto, a exemplo do que fizera no ano passado, o governo brasileiro escolheu não divulgar a taxa de desmatamento antes da conferência, possivelmente para evitar o desgaste com a má notícia. Questionado pela piauí durante a COP27 sobre por que o governo ainda não tinha anunciado o dado, o chefe da delegação brasileira em Sharm el-Sheikh – o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite – não quis responder.

Nos dados apresentados pelo Inpe, chamou a atenção a participação expressiva do Amazonas na derrubada da floresta, uma tendência que se observa desde o ano passado. Com 2,6 mil km2 de devastação, o estado respondeu por 22,5% de toda a área desmatada. Historicamente o Amazonas costumava ter participação discreta no desmatamento da região, por abrigar florestas mais protegidas – os estados de Pará, Mato Grosso e Rondônia são os que apresentam a maior área desmatada acumulada desde que o Inpe começou seu monitoramento, em 1988.

“É muito grave e assustador ver que o desmatamento chegou ao coração da floresta densa, numa área muito mais densa de estoque de carbono”, disse Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, organização dedicada a questões de política climática. 

O aumento do desmatamento no estado reflete o avanço do agronegócio na fronteira entre Amazonas, Acre e Rondônia, uma região conhecida como Amacro. Mas o número espelha também a explosão da violência na região – em 2021, o Amazonas registrou 1,7 mil mortes violentas e foi o estado brasileiro onde esse tipo de crime mais cresceu (49%). O estado é ainda aquele com o maior número de indígenas assassinados desde 2019. O Vale do Javari, no Oeste do Amazonas, foi a região onde foram executados em junho o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips, um crime que chocou o Brasil e o mundo. 

Embora responda por 36% de toda a área desmatada registrada pelo Inpe, o estado do Pará teve uma queda de 21% no desmatamento em relação ao ano passado. O Mato Grosso, onde fica 16% da área derrubada, também registrou uma queda no desmatamento, de 14%. Nos dois casos, a redução é um reflexo da ação dos governos estaduais, de acordo com o engenheiro florestal Tasso Azevedo, coordenador do Mapbiomas, plataforma de monitoramento do desmatamento que une ONGs, empresas e universidades. “São dois estados que começaram a agir de forma mais contundente em relação ao desmatamento com as forças próprias”, afirmou.

Azevedo chamou atenção para outro fator que ajuda a explicar os diferentes padrões regionais de desmatamento registrados pelo Inpe. “No período em questão, houve mais chuva no Pará e no Mato Grosso, onde o desmatamento caiu, e menos chuva no Sul do Amazonas, onde ele mais aumentou”, afirmou. O engenheiro florestal notou também que, no período de agosto a novembro deste ano – que não entrou no cálculo da taxa divulgada esta semana –, um outro sistema de monitoramento por satélite realizado pelo Inpe apontou um recorde histórico do desmatamento na Amazônia, que possivelmente será computado na taxa a ser divulgada em 2023. “É de se esperar que ainda venha bastante desmatamento por aí”, disse Azevedo.

 

No discurso que fez na COP27, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, se comprometeu a não medir esforços para zerar o desmatamento não só na Amazônia, mas nos demais biomas do Brasil. No primeiro governo Lula, foi lançado um plano de ação que levou a uma redução de 83% no desmatamento da Amazônia, entre 2004 e 2012, já no primeiro mandato de Dilma Rousseff. 

Marina Silva, que era a ministra do Meio Ambiente quando o plano foi elaborado, está cotada para reassumir o cargo no terceiro mandato de Lula – há a expectativa de que o presidente eleito anuncie esta semana o nome do futuro titular da pasta. Ela aparece também na lista de possíveis indicados para a Autoridade Nacional Climática, uma secretaria com status ministerial que se reportaria diretamente à Presidência e lidaria de forma transversal com as políticas ligadas à mudança do clima nas várias pastas da Esplanada.

A criação do cargo estava entre as propostas que Marina Silva levou a Lula quando selou seu apoio ao petista às vésperas do primeiro turno. Na sua concepção, seria um posto de caráter técnico para acompanhar as ações de diferentes ministérios para o cumprimento dos compromissos do Brasil no âmbito do Acordo de Paris, à imagem dos órgãos técnicos na área econômica que monitoram o cumprimento das metas de inflação, por exemplo. 

Numa entrevista que deu à piauí em Sharm el-Sheikh, Marina Silva desconversou quando indagada sobre se teria o perfil mais talhado para ocupar o ministério ou a nova secretaria. Mas deu uma pista sobre suas intenções quando questionada se não faria falta na Câmara dos Deputados caso abrisse mão do cargo para o qual foi eleita pela Rede-SP para ocupar um cargo na Esplanada. 

“O que fizemos no Ministério é a milésima potência do que consegui fazer ao longo de dezesseis anos como senadora”, afirmou. Em seguida, a ex-ministra enumerou as principais realizações de sua gestão: “Fomos responsáveis de 2003 a 2008 por 80% das áreas protegidas criadas no mundo; evitamos lançar na atmosfera 5 bilhões de toneladas de CO2; inibimos 35 mil propriedades ilegais; aplicamos 4 bilhões em multa; conseguimos apreender 1 milhão de metros cúbicos de madeira; fizemos 25 grandes operações da Polícia Federal; colocamos na cadeia 725 criminosos” , entre outras realizações. O recado está dado: em sua própria avaliação, sua atuação foi mais eficaz no ministério que no Legislativo.

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