Nos últimos dias, seja em Belo Horizonte, seja em Jataí ou em Goiânia, estavam lá as motocicletas possantes conduzidas por homens em jaquetas pretas empunhando bandeirolas do Brasil em ruas e estradas. Têm sido assim as motociatas em apoio ao presidente Jair Bolsonaro. Mas faltou uma presença ilustre, que desde 2020 nunca deixou de participar dos desfiles de moto do presidente: a Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Desde a semana passada, quando policiais rodoviários federais protagonizaram cenas de brutalidade, como os 23 homicídios em operação na Vila Cruzeiro, Zona Norte do Rio, e a morte de Genivaldo de Jesus Santos na caminhonete da PRF transformada em câmara de gás, a corporação, aliada de primeira hora do presidente, subitamente desapareceu das motociatas. Em Jataí, Sul goiano, onde Bolsonaro esteve no último dia 31 por conta do aniversário do município, apenas dois policiais da PRF, ao lado de uma caminhonete da corporação, observaram o presidente e o deputado federal Major Vitor Hugo (PL-GO), ambos sem capacete, passar por eles. Em Belo Horizonte, dia 26, e Goiânia, 27, a corporação não deu as caras.
“Acredito que o sumiço da PRF nas motociatas seja por cautela do próprio presidente, para não expor ainda mais a corporação diante das críticas”, diz Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A quatro meses da eleição, Bolsonaro tenta se descolar do desgaste sofrido pela PRF com a morte de Santos. Ao comentar a morte em Sergipe, em vez de cobrar a responsabilidade da Polícia Rodoviária nos dois episódios, Bolsonaro elogiou a corporação. “A PRF faz um trabalho excepcional para todos nós, para momentos difíceis. Quando estamos numa pista, geralmente… Geralmente, não, são os primeiros a chegar e proporcionar o conforto”, disse. Um dia antes, no Twitter, o presidente parabenizou os “guerreiros do Bope” pela operação na Vila Cruzeiro.
Por lei, cabe ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) cuidar da segurança do presidente da República durante eventos ao ar livre, como os passeios de moto. Mas desde meados de 2020, no meio da pandemia, quando surgiram as motociatas do presidente, a PRF é presença constante, ainda que o percurso não seja feito em rodovia federal: em 23 de maio de 2021, sessenta policiais rodoviários acompanharam Bolsonaro no trajeto de 41 km entre o Parque Olímpico, na Barra da Tijuca, e o Monumento aos Pracinhas, no Aterro do Flamengo, no Rio, sempre por ruas e avenidas, sem passar por rodovias.
“É o presidente da República, a gente está cumprindo uma missão institucional de fazer com que ele tenha segurança no deslocamento dele. Envolvemos motociclistas também, porque na medida em que a gente garante essa segurança do presidente, os motociclistas que trafegam na mesma direção acabam usufruindo dessa segurança também”, afirmou o policial rodoviário Guilherme Fabrício a um youtuber em junho de 2021, durante motociata de Bolsonaro pela Rodovia dos Bandeirantes, em São Paulo – quem cuida do policiamento ostensivo na estrada paulista é a Polícia Rodoviária Estadual. Em março deste ano, quando a motociata percorreu um trecho da Rodovia Presidente Dutra em São José dos Campos, São Paulo, essa sim federal, a PRF deslocou dezenas de caminhonetes, motos e até um ônibus para o evento.
Só neste ano, sem contar as motociatas das duas últimas semanas na capital mineira e nas duas cidades goianas, Bolsonaro participou de pelo menos catorze eventos do tipo no Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte, Mato Grosso e Rondônia. Foram 3 eventos em fevereiro, 4 em março, 3 em abril e 4 em maio. Em reação, dois partidos de oposição, PT e PDT, ingressaram com ações judiciais contra o presidente no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por propaganda eleitoral antecipada e falta de transparência na arrecadação financeira de um dos eventos, o “Acelera para Cristo”, em abril, na capital paulista. Procurada, a assessoria da PRF não se manifestou.