No último dia do II Festival piauí Globo News de Jornalismo, o repórter e produtor da Vice, Ben Anderson, discorreu sobre experiências que tem enfrentado ao redor do mundo, em situações de guerra e conflito armado. A mesa foi mediada pelas jornalistas Malu Gaspar, da revista piauí, e Renata Lo Prete, da Globo News.
“Os repórteres geralmente visitam as bases americanas, fazem algumas perguntas e vão embora. Eu chego e fico alguns dias: com isso, ganho respeito e acesso”, disse Anderson. O jornalista britânico, que já cobriu países conflagrados como o Afeganistão, a Síria e Líbia, destacou as diferenças entre estar acompanhado pelo o Exército americano (ou britânico) ou pelos Marines.
Malu Gaspar perguntou a Anderson se ele não corria o risco de, à força das recorrentes coberturas em áreas de conflito, ter um olhar mais distanciado, até cínico, sobre as atrocidades cometidas.
O repórter elogiou a flexibilidade da Vice em aceitar as pautas que seus profissionais propõem, bem como a liberdade que o canal de vídeos lhes dá. A respeito da linguagem despojada e jovial do veículo, lembrou que no início a Vice era muito criticada por, em muitas ocasiões, os repórteres se portarem frente às câmeras com um certo deslumbramento por estarem em zona de conflito. Anderson concorda com as críticas, mas reconhece que os jornalistas da casa amadureceram ao longo do tempo. E ainda ponderou: “Quando você viaja para países em conflito, há pessoas dispostas a correr riscos para aparecer diante da câmera. Às vezes é preciso proteger as pessoas de sua própria coragem”, disse.
O repórter garantiu que a Vice nunca pagou para ter acesso aos locais. E, a quem pretende ser correspondente de guerra, Ben Anderson aconselhou a, antes de mais nada, acumular experiência e só então se dirigir à áreas de risco.
Sobre o mito de que as coberturas de guerra seriam uma fonte de adrenalina, Anderson foi enfático: “Há pessoas que dizem sentir falta da adrenalina quando chegam em casa depois de cobrir uma guerra. Mentira. É um horror se deparar com situações críticas. Só diz isso quem nunca cobriu uma guerra.”