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Público ainda mostra desconforto na volta às salas de cinema

Eduardo Escorel | 24 nov 2021_09h02
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A principal boa notícia da semana passada foi a média móvel de óbitos ter chegado no sábado (20/11) a 196 vítimas, menor índice desde 22 de abril de 2020, com variação de -16% indicando tendência de queda. Mesmo assim, porém, mais de 612 mil mortes causadas pela Covid-19 desde o início da pandemia não permitem comemorar, pois o patamar de falecimentos a que chegamos continua sendo inaceitável.

Ao comentarista leigo em questões de saúde pública parece temerária a liberalização do uso de máscara, mesmo em espaços abertos, assim como o fim do distanciamento entre lugares ocupados nos cinemas. São precauções mínimas que parecem essenciais enquanto a vacinação completa não alcançar percentual da população bem mais elevado do que o atual, incluindo crianças; e a taxa de transmissão (Rt), após ter subido no princípio do mês, não for drasticamente reduzida, assim como a média móvel de casos.

Estão aí os recentes alertas feitos pelo diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, sobre a nova onda de Covid-19 na Europa. Em Portugal, por exemplo, onde 87,78% da população está vacinada, os casos de contágio vêm aumentando e novas medidas restritivas estão sendo propostas.

É fato que no hemisfério Norte o inverno se aproxima, a cobertura vacinal é insuficiente em alguns países e a variante Delta prevalece, enquanto aqui o verão chegará em menos de um mês, a vacinação progride lentamente e a Delta não tem sido tão devastadora. Mas por diferentes que sejam as circunstâncias nas duas regiões do mundo, a experiência recente comprova que convém sermos cautelosos e fazer o possível para evitar uma nova onda.

A baixa frequência aos cinemas, em especial para assistir a filmes brasileiros, parece indicar não só um desajuste da produção, mas também o desconforto e a insegurança do público para voltar às salas.

No ranking das vinte maiores rendas e número de espectadores de 2021, segundo a plataforma Filme B, só há produções estrangeiras. Os três filmes brasileiros que aparecem entre as vinte maiores rendas do fim de semana de 11 a 14 de novembro, Marighella, Pixinguinha – Um Homem Carinhoso e Bob Cuspe – Nós Não Gostamos De Gente, tiveram média de público de apenas 178, 24 e 23 pessoas em 316, 70 e 16 cinemas, respectivamente.

A pandemia parece ter exacerbado a anomalia crônica de filmes brasileiros no mercado interno. Dissonância resultante, em grande medida, dos termos desiguais da competição pelo interesse do espectador no circuito exibidor.

 

Além da diminuição progressiva da média móvel de mortes causadas pela Covid-19, outra notícia auspiciosa foi divulgada na semana passada através de um comunicado: “A Cinemateca Brasileira, entidade responsável pela preservação e difusão da produção audiovisual do país, retomou parcialmente as atividades nesta quinta-feira, 18 de novembro, após um longo período de interrupção dos trabalhos. A Sociedade Amigos da Cinemateca (SAC) firmou um contrato emergencial, com duração de três meses, com a Secretaria do Audiovisual do Ministério do Turismo, que permitirá o retorno de parte da equipe de colaboradores da Cinemateca, demitidos em agosto de 2020.

Profissionais da área técnica, que já trabalharam na Cinemateca, estão sendo recontratados aos poucos e começam a reocupar seus postos. Na medida do possível, outros colaboradores serão convocados para assumir funções que permitam a recuperação gradual da normalidade de atuação da Cinemateca.

O grupo [de técnicos], em tamanho reduzido, retorna à Cinemateca para uma avaliação minuciosa dos possíveis danos causados ao acervo, aos equipamentos e em sua infraestrutura depois de quase um ano e meio de fechamento e pelo incêndio que atingiu o galpão da Vila Leopoldina, em julho passado. 

A reabertura da Cinemateca Brasileira decorre de uma doação da SAC ao governo federal, com a promessa da reconstituição do Conselho Consultivo da instituição como contrapartida. Neste primeiro momento, os fundos são provenientes da Fundação Vale.

A professora Maria Dora Mourão, diretora executiva da SAC, conduzirá a Cinemateca na transição até que o contrato de gestão por cinco anos seja firmado. Assim que as condições objetivas permitirem, o público poderá voltar a frequentar a Cinemateca. Desde já, o Banco de Conteúdos Culturais, no site da Cinemateca, está novamente acessível.”

Na foto abaixo, feita na Cinemateca no próprio dia 18 por Lauro Escorel, a alegria transbordante dos integrantes do Conselho Deliberativo e Conselho Fiscal da SAC não deixa dúvida quanto à magnitude da vitória alcançada com a retomada ainda que parcial das atividades e o retorno de parte da equipe de colaboradores demitidos em agosto de 2020.

Foto: Lauro Escorel

 

Na foto estão, da esquerda para a direita: Maria Dora Mourão, diretora-executiva; Miguel Gutierrez, do Conselho Fiscal; Arthur Autran; Carlos Augusto Calil, eleito representante dos associados da SAC no futuro conselho da Organização Social; Roberto Gervitz, da Apaci; Roberta Corvo, do Conselho Fiscal; Walter Salles; Renata de Almeida; e José Roberto Sadek, suplente de Calil.

Em nota, o movimento SOS-Cinemateca-Apaci saudou a retomada parcial das atividades da Cinemateca e assinalou, em versão resumida: “Este é o primeiro grande passo para resgatarmos a Cinemateca Brasileira […] O desafio, sabemos, não será pequeno […] Este é, portanto, o início de um período de reconstrução, e daremos todo o apoio que for necessário para que ele seja bem sucedido […] No período devido, esperamos ver a Cinemateca Brasileira em pleno funcionamento, com o seu corpo de funcionários completo, com exibições de seu acervo e ciclos, […] e com o acervo sendo preservado, conservado e disponibilizado para a pesquisa e para novas produções cinematográficas.”

 

Uma sombra agourenta paira, no entanto, sobre a felicidade geral, o que não é surpresa alguma em se tratando do errático desgoverno federal.

Em 31 de outubro, a bibliotecária Neide De Sordi, diretora-geral do Arquivo Nacional e presidente do Conselho Nacional de Arquivos, publicou mensagem dirigida “aos servidores, usuários e parceiros do Arquivo Nacional” em que anuncia sua saída dos cargos que ocupava por decisão do Ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública. De Sordi declarou que “cargos em comissão são de livre nomeação e exoneração. Por isso, recebi a notícia da minha exoneração com a tranquilidade de quem vem cumprindo com dedicação os seus deveres.” (A mensagem completa está disponível em https://www.gov.br/arquivonacional/pt-br/canais_atendimento/imprensa/copy_of_noticias/mensagem-de-neide-de-sordi-diretora-geral-do-arquivo-nacional-e-presidente-do-conselho-nacional-de-arquivos .)

Em nota publicada no dia seguinte à retomada de atividades da Cinemateca Brasileira (19/11), Lauro Jardim informou em seu blog que o governo nomeou o advogado Ricardo Borda D’Água Braga novo presidente do Conselho Nacional de Arquivos. Segundo Jardim, a expertise de D’Água Braga se resume a ter sido “até o ano passado […] dono de uma empresa de ‘treinamento e segurança’ no Rio de Janeiro. Integrou também o governo Ibaneis Rocha, no Distrito Federal, onde, aliás, também trabalhou o delegado da PF Anderson Torres, atual ministro da Justiça, a quem o Arquivo Nacional está subordinado”.

O novo presidente da instituição passa a ser responsável, escreve Jardim, “por um acervo de 1,7 milhão de fotos, 55 km de documentos coletados desde 1838, registros sonoros e muito mais”. Inclua-se nesse “muito mais” considerável acervo de filmes transferidos da Cinemateca do Museu de Arte Moderna para o Arquivo Nacional a partir de 2002, essa entrega tendo sido interrompida no ano seguinte. Foram levados 87 mil rolos de filme do total de 100 mil existentes em 2000, quando foi feito o levantamento, segundo Hernani Heffner, conservador-chefe da Cinemateca do Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro. Desse modo, enquanto na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, desenha-se expectativa de gestão positiva, no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, pode-se esperar, no mínimo, um tempo de incerteza.

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