Em 2021, o custo de vida ficou mais alto e a renda do brasileiro, mais curta. Desde que começou a compilar dados sobre o poder de compra no país, o IBGE nunca registrou um valor tão baixo quanto o do trimestre de setembro a novembro do ano passado. Naquele período, o assalariado recebia em média R$ 2.444 por mês — valor 11,25% inferior ao do trimestre anterior. Os principais prejudicados são, é claro, os mais pobres. Para se ter uma ideia, a queda no rendimento empurrou quase 5 milhões de brasileiros para baixo da linha da pobreza. Trabalhadores de defesa, educação e saúde sofreram as maiores perdas. O =igualdades desta semana esmiúça os últimos dados do declínio na renda dos brasileiros.
No trimestre de setembro a novembro de 2021, o salário do brasileiro caiu ao menor nível já registrado pela Pnad Contínua, pesquisa do IBGE que desde 2012 acompanha a força de trabalho no país. A renda média mensal, normalmente recebida pelos trabalhadores ocupados, ficou em R$ 2.444, valor 11,25% menor ao do trimestre antecedente.
Os brasileiros mais pobres foram os primeiros a sentir os efeitos da crise sanitária na economia. Entre o último trimestre de 2019 e o segundo de 2021, a renda média mensal do grupo encolheu 21,5%. A crise também aumentou a distância entre as classes sociais, visto que entre os 10% mais ricos a queda salarial foi de 7,16% no mesmo período.
Na pandemia, o contingente de brasileiros pobres cresceu muito em pouco tempo. Mais de 4,7 milhões de brasileiros foram empurrados para baixo da linha da pobreza. Em dezembro de 2019, cerca de 23 milhões eram considerados pobres e tinham renda per capita inferior a R$ 261 mensais. Já no trimestre de abril a junho de 2021, o número chegou a 27,7 milhões.
A renda mensal dos brasileiros mais pobres ficou em R$ 172 no segundo trimestre de 2021. Para comprar uma cesta básica em Salvador, capital com o menor custo médio para os alimentos, um brasileiro abaixo da linha da pobreza teria de guardar três meses de salário.
A desigualdade na queda de rendimento também pode ser observada na atividade profissional. De setembro a novembro de 2021, pessoas que trabalhavam com defesa, educação e saúde perderam 7,1% da renda (R$ 270 mensais) em comparação com o trimestre anterior; é mais que o dobro da queda de 2,3% registrada no setor de serviços domésticos.
Na pandemia, as trabalhadoras mulheres tiveram de se dedicar tanto às atividades profissionais quanto às domésticas. Com isso, ganharam menos aumento e foram as que mais sofreram cortes nos salários. Como consequência, as famílias chefiadas por homens ficaram com a renda 60% superior à das chefiadas por mulheres no terceiro trimestre de 2021. No início da pandemia, a diferença era de 47%.
Entre os grupos etários, os trabalhadores idosos tiveram a perda de renda mais significativa. Os brasileiros com mais de 60 anos perderam 14,22% da renda durante a pandemia — taxa elevada em relação à população geral, que perdeu 9,43%.
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Fonte: IBGE/Pnad; Fundação Getulio Vargas; Dieese; Observatório das Metrópoles.