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Bolsonaro vai pior que os prefeitos 

Segundo Ibope Inteligência, avaliação do presidente é negativa em metade das 26 capitais

José Roberto de Toledo | 28 out 2020_16h22
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O presidente Jair Bolsonaro é menos bem avaliado do que os prefeitos em 15 das 26 capitais onde haverá eleição em novembro; sua taxa de ótimo e bom é mais baixa do que a dos titulares das prefeituras nos respectivos municípios. Pior do que isso, tem saldo negativo em metade dessas cidades: seu governo recebe mais avaliações ruim/péssimo do que ótimo/bom em 13 capitais. Salvo uma única capital, não existe correlação entre quem aprova o presidente e o eleitorado do candidato que lidera a corrida à prefeitura. Ou seja, Bolsonaro não é um eleitor decisivo em praticamente nenhuma das principais cidades do país. Não elege prefeitos.

A exceção é Fortaleza, onde há uma marcante sobreposição dos eleitorados de dois capitães. Metade dos que aprovam Bolsonaro declaram voto no Capitão Wagner (Pros), o líder das pesquisas de intenção de voto (28% segundo o Ibope). Mas, mesmo lá, o cacife eleitoral de Bolsonaro é limitado. O presidente é mais mal do que bem avaliado na capital do Ceará. Entre os eleitores de Fortaleza, seu governo tem saldo negativo de 21 pontos percentuais (26% ótimo/bom contra 47% ruim/péssimo).

Isso significa que a base policial-militar do bolsonarismo pode levar o candidato do Pros ao segundo turno, mas o apoio do presidente seria insuficiente para eleger o capitão da Polícia Militar. Wagner foi um dos incentivadores do motim da PM no Ceará em fevereiro deste ano. Se a eleição fosse hoje, ele enfrentaria Luizianne Lins (PT) no turno final. Com 23% de intenções de votos no Ibope, ela é apoiada pelo governador Camilo Santana (PT), que tem 56% de ótimo/bom em Fortaleza. Luizianne e Capitão Wagner são seguidos à distância por José Sarto (PDT), com 16%. Ele é o candidato do atual prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, que é bem avaliado e tem o dobro do cacife eleitoral de Bolsonaro na cidade.

A capital onde Bolsonaro é mais mal avaliado é Salvador: 62% de ruim e péssimo, com saldo negativo de 43 pontos percentuais. Lá, o grande eleitor não é o presidente, mas o atual prefeito, ACM Neto (DEM), o mais bem avaliado nas capitais – tecnicamente empatado em primeiro lugar no ranking com Teresa Surita (MDB), prefeita de Boa Vista. O candidato apoiado por ACM, Bruno Reis (DEM), lidera com 42% das intenções de voto e, se a votação fosse hoje, seria eleito no primeiro turno, porque seus adversários, somados, não passam de 33% das intenções de voto. Entre os soteropolitanos, Bolsonaro tem 18% de ótimo/bom contra 62% de ruim/péssimo, ou seja, saldo negativo de 43 pontos.

O presidente é impopular também em São Paulo (saldo de -24 pontos), Porto Alegre (-24 pontos), Fortaleza (-21 pontos), São Luís (-21 pontos), Teresina (-15 pontos), Florianópolis (-15 pontos), Recife (-14 pontos), Vitória (-12 pontos), Aracaju (-10 pontos), Belém (-9 pontos), Belo Horizonte (-5 pontos) e Rio de Janeiro (-3 pontos).

Na maior cidade do país, Bolsonaro tem 49% de ruim e péssimo e apenas 25% de ótimo e bom. Ironicamente, seu déficit de popularidade na capital paulista é igual ao do seu rival, o governador do estado de São Paulo, João Doria (PSDB), a quem o presidente não cansa de criticar por causa das ações contra a pandemia de Covid-19. O tucano tem 44% de ruim e péssimo na cidade cuja prefeitura abandonou para disputar o governo estadual e só 20% de ótimo/bom: saldo negativo de 24 pontos.

Infografia: Emily Almeida

 

Nessa corrida de governantes politicamente mancos, o atual prefeito e candidato à reeleição, Bruno Covas (PSDB), é o único com saldo positivo de popularidade. E mesmo assim, pequeno. Ele tem 31% de ótimo/bom contra 25% de ruim/péssimo. Numa disputa eleitoral na qual nenhum candidato parece entusiasmar a maioria do eleitorado, estar pouco acima da linha d’água é o suficiente para colocar Covas tecnicamente empatado com Celso Russomanno na liderança da disputa eleitoral em São Paulo. O tucano tem 22% das intenções de voto, contra 25% do rival do Republicanos. 

Russomanno foi dos raros – se não o único – a receber apoio explícito de Bolsonaro, mas isso não ajudou em nada sua candidatura. Ao contrário. No Ibope, ele oscilou negativamente de 26% para 25%, enquanto Covas foi de 21% para 22%. Segundo o Datafolha, porém, Russomanno entrou em queda livre. Foi de 29%, em setembro, para 27%, imediatamente após a declaração de apoio de Bolsonaro, e despencou para 20% duas semanas depois. 

A perda de 9 pontos num intervalo de um mês repete o padrão das campanhas anteriores de Russomanno. Reconhecido como apresentador de programas populares na tevê, ele é escolhido por mais eleitores no começo da campanha do que quando importa, na urna. Isso ocorre por dois motivos, e o principal deles é a falta de convicção de seu eleitorado. Russomanno é lembrado porque é famoso, não porque seja o prefeito ideal. Para complicar, ele sempre fala durante a campanha uma besteira que faz os eleitores se lembrarem de suas fragilidades. Nesta eleição, disse que moradores de rua são resistentes à Covid porque não tomam banho.

O apoio de Bolsonaro poderia fazer as coisas tomarem um rumo diferente para Russomanno em 2020 do que tomaram em 2016 e 2012, quando liderou a corrida à prefeitura e morreu na praia. Uma parcela significativa dos que aprovam o governo federal declara voto no candidato do Republicanos. Porém, essa parcela é cada vez menor. Em meados de setembro, 28% dos paulistanos avaliavam positivamente o governo Bolsonaro. Agora, são 25%. E a maioria desse eleitorado está dispersa entre rivais de Russomanno. Ou seja, nem Bolsonaro resolve.

O Rio de Janeiro é a eleição mais negativa entre as capitais. Todos os governantes são impopulares e têm taxas de ruim/péssimo maiores do que de ótimo/bom: do prefeito ao presidente, passando pelo governador. Como resultado, é a capital com maior intenção de votos inválidos. Praticamente um em cada quatro eleitores diz que vai anular ou votar em branco (23%). Isso torna a disputa ainda mais imprevisível. Pelo Ibope, haveria segundo turno, e o mais provável, hoje, é que fosse entre o ex-prefeito Eduardo Paes (30%) e seu sucessor, Marcelo Crivella (12%). Mas a rejeição ao incumbente é tão alta (62% dizem que seu governo é ruim ou péssimo) que há espaço para uma terceira candidata chegar ao turno final. Delegada Martha Rocha (PDT) tem a menor rejeição entre os concorrentes com chances de se eleger e está tecnicamente empatada com Crivella em segundo lugar. É quem tem mais possibilidade de surpreender, mas Benedita da Silva (PT) também está na disputa.

Quem não está é Bolsonaro. Na cidade onde fez sua carreira política, o presidente ainda não conseguiu ajudar seu aliado Crivella. Há mais pessoas que avaliam positivamente o governo federal declarando voto em Paes do que no atual prefeito.

Bolsonaro caminha para não eleger nenhum prefeito de capital em 2020. Aliados seus podem se eleger, mas não será graças a ele. E isso resume a expressão política do presidente: desagregadora por natureza, ela não transfere prestígio para outros, tampouco é capaz de uni-los em um partido. É a política do “tudo meu”, do “só dá eu”. Como não consegue governar sozinho, quem acaba por se beneficiar dessa incapacidade do presidente são os partidos do Centrão, que comandam fatias cada vez maiores do orçamento federal, controlam mais cargos e estão entre os prováveis vitoriosos nas urnas. 

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