Capitã Cloroquina, Ricardão, Merda, Paulo Bosta, Chatinho, Pé de Pato do Lixo… Para os candidatos que concorrem com nomes bizarros nestas eleições municipais, o recado dos pleitos anteriores é claro: apesar da repercussão intensa na internet, a estratégia piadista não tem o mesmo resultado nas urnas. A piauí analisou todas as 1.517 candidaturas aprovadas pela Justiça Eleitoral à Câmara dos Vereadores do Rio em 2016 e o desempenho de 140 candidatos que claramente apostaram em nomes com algum tipo de humor ou estranheza intencional para atrair votos. Nenhum deles está entre os 51 eleitos.
Dos 140 candidatos com nomes bizarros, 111 (79%) conseguiram vaga na suplência, que, embora não garanta salário ou benefícios, pode ser uma porta de entrada para a Câmara Municipal. Os outros 29 (21%) não tiveram a mesma sorte. Juntos, suplentes e não eleitos de nomes peculiares obtiveram 109.427 votos, o equivalente a 3,7% dos 2.929.084 votos válidos para o cargo na cidade. Por questão metodológica, foram excluídos da lista candidatos que usavam nome e sobrenome de registro, ainda que incomuns, bem como apelidos usuais e nomes de batismo seguidos de referências às comunidades de origem. Para fins de comparação, os 51 vereadores eleitos conquistaram 1.202.431 votos, o que corresponde a 41% do eleitorado.
Os cinco mais votados da lista de candidatos com nomes engraçados concentram quase 25% da votação do grupo. São eles, em ordem: Jorginho SOS (MDB), com 9.809 votos; Spiff (PHS), com 4.660; Edmilson Barão (PMN), com 4.560; Galô Fernandes (PTB), com 3.753 e Chagas Bola (PSC), com 3.537. Os sete candidatos que ocuparam do sexto ao 13º lugar da lista tiveram entre 2 mil e 3 mil votos. Na sequência, quinze candidatos tiveram entre 1 mil e 2 mil votos. Trinta e dois candidatos ocuparam a faixa entre 500 e mil votos. A maioria (80 candidatos) teve menos de 500 votos.
Entre os Edmilsons do PMN, o barão levou a melhor sobre o imperador: Barão é o terceiro mais votado da lista, com 4.560 eleitores (0,16%), enquanto Edimilson Napoleão chegou a 1.863 apoiadores (0,06%). Nem só de suseranos, porém, é feito o feudo da suplência: Andrea Vassalo (PTdoB), embora com votação bem mais modesta (77), também entrou na fila por um lugar na Câmara.
Três candidatos incluíram “jogador” no nome em busca de uma torcida para chamar de sua: Xandinho Jogador (PSDB), Jonathan Sabino O Jogador (DEM) e Pará Jogador (PHS) — que não é sósia do ex-lateral do Flamengo, atualmente no Santos. Mas só o primeiro teve mais de mil votos. No duelo entre Pelé Barbeiro e Alexandre Maradona, melhor para o maior jogador de futebol de todos os tempos: 440 votos do brasileiro contra 423 do argentino.
Alguns tentaram seduzir pelas madeixas (ou pela falta delas). Careca Curandeiro (PRP), Su Careca (PDT), Luiz Kbelinho (PTC), Paulo Cabelo (PSDB) e Peruca (PSC) tiveram, respectivamente, 195, 382, 877, 1.213 e 1.960 votos. Houve também quem só quis marcar presença: Stive Aqui (PHS) foi notado por 823 eleitores. Já Eron Batman dos Protestos (PSC) foi reconhecido por 473 manifestantes. Cris Bombando (PRP) não transformou a intenção em voto: foram 112 apenas, assim como Elias Ouzzadia (PSC), que ficou com 109.
Outros candidatos se arriscaram a perder o voto, mas não a piada, e capricharam nos trocadilhos e nas rimas. É o caso de Alessandralegria (PTB), com 199 votos; Graça Figuraça (PTB), com 138; Moraes Muralha (PL), com 189; Patinho Quem, Quem (Patriota), com 292; Salathiel Salada (PTN), com 939; Miro Mirox (PRB), com 837; Jorgestilo (PSDC), com 873; Joca o Nordestino Carioca (PP), com 685; Sallim Solução Amor no Coração (PMB), com 52; e Alex Ribeiro O Pai Guerreiro (PSL), com 903.
O sucesso entre os passageiros nem sempre dá resultado com o restante do eleitorado. Que o digam Pantera Van Q Vem (PHS), com 1.179 votos, e Barata Bigode da Van (PSOL), com 158. Outros dois candidatos, embora com escolhas bem distintas de apelido, tiveram desempenho parecido: Mouralidade (Progressistas) conquistou 212 votos e, Molezinha (PMB), 318. Tem também quem esteja com a autoestima em dia, como Ilaci Bonita (PTB), com 367 votos, e Carlos Filé (Patriota), com 359. A mensagem forte não rendeu votos para Edson Somos Todos Vítimas (PTB), que teve apenas 392 adesões ao seu protesto. Tampouco adiantou gourmetizar o apelido: Maciel Penttelho (PDT), com dois Ts, ficou com 120 votos.
Também não faltou quem tentasse fisgar o peixe, ou melhor, o voto, pela boca. Sexto mais votado do grupo, Fernando Rei da Empada (PHS) teve 2.985 votos. Gilson Feijão (PRB) também ficou entre os vinte primeiros da lista, com 1.803 votos. André Lazanha (PSC); Morena do Açaí (PMB); Felipe Cafezinho (PT do B); Hamburgão (PRP); Joaquim, Gás, Ovo, Queijo e Pão (PDT); Claudio Farinhão (SD); Tia Pipoqueira (PHS); Nil Doces (PDT) e Moranguinho (Progressistas) tiveram menos de 600 votos cada.
Para aqueles que se escandalizaram com a campanha vitoriosa de Tiririca em 2010, apontando-a como o fim da seriedade e do decoro no processo eleitoral, o Brasil tratou de provar de lá pra cá que “pior do que tá, fica”, sim. Um levantamento do UOL mostra que as eleições deste ano terão mais de 150 Lulas e mais de 80 Bolsonaros, alguns Trumps e Obamas, quase 60 super-heróis e 35 candidatos que fazem referência a órgãos sexuais em seus nomes escolhidos para as urnas. Além disso, o ex-técnico do Flamengo Jorge Jesus ganhou mais um “Mister” sósia no Piauí; há, ainda, uma “Dilma do Povão” em Minas e até um “Advogado de Deus” no Rio.
Na lista de candidatos com nomes esdrúxulos, a exceção que confirma a regra é Cagado (MDB), vereador em busca do quarto mandato na pequena Mirante da Serra (RO). Ele foi o terceiro mais votado entre os eleitos em 2016 (375 votos), 97 a menos que o campeão de votos entre os 6.461 eleitores mirantenses. Mesmo com percentual muito superior aos piadistas cariocas (5,8% dos votos válidos), Cagado precisou contar com a sorte: só levou uma das nove vagas graças ao quociente partidário.
“Cagado é o seguinte: já está no terceiro mandato e não fez nenhuma cagada como vereador. Então eu queria pedir a você para continuar sendo Cagado aqui em Mirante”, convoca o deputado federal Lucio Mosquini, presidente do MDB-RO, em vídeo da campanha do mirantense à reeleição. Resta saber se os memes gerados por candidatos assim serão trampolins para as Câmaras Municipais ou apenas lembranças nas listas futuras.
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