O Santos vendeu Neymar, o São Paulo negociou Lucas, o Atlético Mineiro encheu a burra com Bernard. Fluminense e Grêmio começaram a temporada com os elencos mais caros do futebol brasileiro. O Cruzeiro tem um CT exuberante. Corinthians e Flamengo brigam para ver quem contabiliza os maiores patrocínios. O Internacional, com seus mais de 100 mil sócios-torcedores, não para de contratar jogadores muito bem pagos. Entretanto, no meio de toda a dinheirama e dos negócios milionários, o time-sensação desse início de campeonato é o desmonetarizado Botafogo – sem jogadores valiosos no mercado internacional, com menos de 10 mil sócios-torcedores , sem CT e carregando na camisa a marca de uma espécie de sub-Red Bull da Baixada de Jacarepaguá.
Aqui, uma questão de ordem: tomara que eu me estrepe, mas não acredito que o Botafogo vá brigar pelo título. Por mais que se cuide e por mais profissional que seja, não há como Seedorf aguentar o tranco das 38 rodadas. O excelente Jefferson desfalcará o time quando for convocado para a seleção brasileira. E ainda existe a possibilidade de Dória ser negociado. Mas, nessas doze primeiras rodadas, o Botafogo mostrou que a prática coletiva é capaz de superar a falta de dinheiro e outras dificuldades típicas dos grandes clubes tradicionais e burgueses. É ninja puro.
O que mais chama a atenção no time é a movimentação do meio-campo. Pegue o jeito de jogar do meio-campo do Botafogo e compare, por exemplo, com o do Flamengo, o do Fluminense ou o do São Paulo. Com um fluxo multicolaborativo que se retroalimenta o tempo inteiro e um amplo mosaico de parcialidades, o meio-campo botafoguense se impõe com legitimidade e produz como alguém que custa 900 reais e rende 150 mil. Saca?
Um dos grandes problemas do Botafogo é que, aos poucos, ele vai se tornando o segundo time dos torcedores dos outros clubes, e isso é péssimo. Tiro por mim: com o Flamengo nessa lama em que está, devendo o equivalente a um Washington Post e meio, e mandando a campo um time constrangedor, torço nesse Brasileirão – olha o perigo aí – pelo simpático clube da estrela solitária.
Repito: eu não acredito. Mas seria bacana se o Botafogo conseguisse provar que não é café com leite. Por sinal, uma bebida alvinegra.