“Água brilhando, olha a pista chegando / E vamos nós…” Para quem voa sobre o Rio de Janeiro em um dia de sol, a cidade é mesmo como Tom Jobim descreve em Samba do Avião. Por outro lado, o verso “Dentro de mais um minuto estaremos no Galeão” perdeu sentido para muita gente. O número de pousos no Galeão – Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim – vem caindo constantemente. Nos últimos oito anos, ele perdeu quase 11 milhões de passageiros, o equivalente à população de um Rio de Janeiro e meio. Enquanto isso, a 14 km dali, o aeroporto Santos Dumont, com sua pista apertada à beira-mar, anda cada vez mais superlotado e cheio de filas. Entre 2021 e 2022, ganhou 40 mil voos e 3,3 milhões de passageiros. Os atrasos se tornaram frequentes. Esse desequilíbrio entre os aeroportos da segunda maior cidade do país motivou o prefeito Eduardo Paes a recorrer ao presidente Lula em busca de soluções. Está em discussão no Ministério de Portos e Aeroportos uma proposta para reduzir o fluxo de voos no Santos Dumont – e, com isso, tentar reverter a derrocada do Galeão. O =igualdades desta semana explica o tamanho do problema.
Em 2023, janeiro foi o mês de maior movimento em Guarulhos, com 23.617 pousos e decolagens e 3,5 milhões de passageiros. A disparidade com o Galeão é grande: nos quatro primeiros meses do ano, o aeroporto carioca não somou nem 20 mil voos.
Ao longo de 2022, o estado de São Paulo recebeu um milhão e meio de turistas internacionais, pouco mais que o dobro do estado do Rio. Mas a diferença entre o número de voos internacionais que chegam às capitais dos dois estados é muito maior: Guarulhos registrou 60 mil pousos e decolagens internacionais no ano passado, enquanto o Galeão registrou apenas 14,6 mil.
Desde que a concessionária que administra o Galeão assumiu o aeroporto, em agosto de 2014, o ano mais movimentado foi 2015, com 16,5 milhões passageiros e 123 mil voos (domésticos e internacionais). Os números despencaram desde então. Em 2022, passaram pelo Galeão somente 5,9 milhões de pessoas.
Entre 2018 e 2022, houve um aumento de 10 mil voos e 1 milhão de passageiros no Aeroporto Santos Dumont. Até abril de 2023, quase 4 milhões de passageiros já haviam passado pelo Santos Dumont, distribuídos em 40 mil voos. Caso essa média se mantenha até dezembro, o aeroporto fechará o ano com cerca de 12 milhões de passageiros, superando 2022.
Em 2022, o aeroporto internacional de São Paulo movimentou uma média de 4 mil passageiros por hora. É seis vezes a quantidade que o Galeão movimenta por hora. Em um dia, Guarulhos movimenta tantos passageiros quanto o Galeão em seis dias.
A maioria das viagens que chegam ao Santos Dumont vem do aeroporto de Congonhas. Em 2018, eram 44% dos voos. Mas a proporção vem diminuindo e as origens diversificaram. Em 2022, Congonhas representou 31% dos voos que chegaram no aeroporto do Rio.
Entre janeiro e fevereiro de 2023, foram marcados 2.420 voos para sair do Santos Dumont com destino a Congonhas – 700 a mais que no mesmo período do ano passado. Desse total, 240 foram cancelados e 726 partiram com atraso de ao menos 15 minutos. O número de voos atrasados dessa ponte aérea no começo de 2023 é seis vezes o do ano passado.