Na piauí deste mês, a jornalista Leila Salim, brasileira que vive no Líbano, conta em um diário como os ataques de Israel ao país e o aumento da tensão política estão afetando o cotidiano dos libaneses. Em 17 de setembro, ela estava esperando seu marido para ir ao aeroporto tratar da renovação de seu visto, quando ocorreu a explosão simultânea de vários pagers usados por membros do grupo Hezbollah. “Parece episódio de Black Mirror”, escreve Salim, referindo-se à série com histórias de ficção científica. “No caminho do aeroporto – que passa por uma das áreas em que houve explosões –, começamos a ver muitas ambulâncias, as ruas engarrafadas e, em certo ponto, um aglomerado de soldados. Nas redes sociais e no noticiário, já havia pedidos de doação de sangue. Decidimos voltar para casa. Parece que entramos em um novo capítulo da guerra.”
No dia seguinte, ocorreram novas explosões em walkie-talkies e rádios de mão, causando a morte de 25 pessoas e ferimentos em 608, segundo o Ministério da Saúde. Os pedidos por doação de sangue se intensificaram. “Na mídia local e nas redes sociais, muita gente relatando pânico, inclusive de médicos e integrantes da Defesa Civil, que também usam pagers, e estão com medo de manter seus aparelhos consigo”, relata Salim.
Em 23 de setembro, a jornalista conta que muitas pessoas em Beirute e em vários pontos do Líbano receberam ligações em seus celulares com supostas ordens de evacuação do Exército israelense. “Foram mais de 80 mil ligações, segundo a mídia local, espalhando ainda mais pânico.” Uma das ligações pedia a evacuação imediata do Ministério da Informação de seu prédio em Beirute. O ministério seguiu com suas atividades e declarou que as ligações são parte da guerra psicológica aberta por Israel.
No Sul do Líbano, as ordens de evacuação foram oficiais. De manhã, o porta-voz do Exército de Israel disse que “qualquer pessoa próxima ou em lugares usados pelo Hezbollah para esconder armas” deveria se afastar imediatamente. “É o mesmo procedimento que vem sendo usado em Gaza há um ano, para buscar legitimar o ataque indiscriminado a civis. As pessoas são responsabilizadas por estarem supostamente próximas às armas, e recebem ordens sumárias de evacuação sem que tenham para onde ir. Se ficam, são mortas”, escreve Salim. “A comparação é meio absurda, eu sei, mas é mais ou menos como se a Polícia Militar do Rio de Janeiro bombardeasse toda a comunidade da Maré para dar fim ao tráfico.”
As mensagens de amigos e familiares do Brasil não param de chegar para Leila Salim. “Algumas mais cuidadosas, perguntando por mim e oferecendo ajuda, outras mais assustadas, me falando para ir embora do Líbano”, ela conta. “Tenho buscado passagem de ida em voos comerciais, mas os preços dispararam, chegando a 25 mil reais – cinco vezes mais do que costumam custar. Além disso, muitos voos têm sido cancelados.”
Assinantes da revista podem ler a íntegra do diário neste link.