Por coincidência comemora-se esta semana o centenário de dois brasileiros que pouco tinham em comum, mas que nasceram no mesmo dia 30 de abril de 1914: Dorival Caymmi e Carlos Lacerda.
Não foram companheiros de maternidade, pois Dorival nasceu na Bahia e Lacerda no Rio de Janeiro e talvez tenham até demorado muito em saber que eram quase gêmeos astrológicos (se é que algum dia acreditaram na astrologia). Foram apresentados aos vinte e poucos anos (quando Lacerda ainda era comunista) por Jorge Amado. Como lembra seu neto, o escritor Rodrigo Lacerda, tiveram até mesmo uma “parceria imprevista”, pois com Jorge compuseram a três uma música intitulada .
Esta página traz a reprodução de duas peças curiosas dos companheiros de aniversário: um desenho de Caymmi e uma foto de Lacerda menino.
O grande compositor baiano, que também se considerava pintor, fazia às vezes o desenho da famosa jangada (que vai sair pro mar) da Suíte do Pescador para admiradores que lhe pediam um autógrafo. Este foi obtido por um colecionador do Rio de Janeiro em 12 de maio de 1964, menos de duas semanas depois de Caymmi completar 50 anos.
A peça de Lacerda é também curiosa: mostra o futuro tribuno, cuja exaltação será famosa em seu tempo, ainda inocente, aos 9 anos incompletos, e traz no verso uma dedicatória intensa à sua avó: “À boa vovó Mirinha o Carlos oferece como provando a idolatria que a consagro. Caxambu 5/4/923”
O colecionador que preserva essas duas peças nunca as imaginou juntas, mas a efeméride compartilhada proporciona agora esse casamento de circunstância entre um político e jornalista controvertido e um gênio bonachão de nossa música popular.