Além de concentrar mais da metade de toda a área queimada no Brasil nos últimos vinte anos, o Cerrado teve 41% do seu território atingido pelo fogo nesse período – mais de 825 mil quilômetros quadrados. Essa área corresponde a três estados de São Paulo e dois do Rio de Janeiro, somados. A maior parte desse território correspondia à vegetação nativa local, principalmente à formação savânica, característica da região. Isso faz do Cerrado o bioma brasileiro mais afetado pelo fogo nas últimas duas décadas, seguido da Amazônia e Mata Atlântica.
Segundo os pesquisadores, mais da metade da área queimada no Brasil nos últimos vinte anos pegou fogo duas ou mais vezes. Isso significa que nessas áreas, as queimadas não são um fenômeno esporádico. Nesse quesito, o Cerrado também aparece no topo do ranking e é o bioma com mais recorrência de fogo em uma mesma área. Segundo dados do MapBiomas, uma mesma área de quase 10 quilômetros quadrados pegou fogo todos os anos no Cerrado durante as últimas duas décadas.
O cenário dos últimos anos anos se repetiu em 2020: até novembro, o bioma continuou sendo o mais afetado pelos incêndios em relação à área queimada. Até o último domingo (6), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais também identificou mais de 63 mil focos de incêndio na região. Com isso, o Cerrado fica atrás apenas da Amazônia em número de queimadas.
Apesar de ser o segundo maior bioma da América do Sul, o Cerrado tem a menor porcentagem de áreas sobre proteção integral – apenas 8%, segundo o ICMBio. Uma das preocupações dos pesquisadores é a progressiva perda da biodiversidade local, que está relacionada a duas atividades econômicas comuns no Cerrado: a monocultura intensiva de grãos e, principalmente, a pecuária. Estima-se que 60% da área total do bioma seja destinada somente a essa atividade.