Nos últimos vinte anos de sua vida, até sua morte, em 1988, talvez a figura mais conhecida da televisão brasileira tenha sido Abelardo Barbosa, famoso nacionalmente como Chacrinha. Seu programa “Discoteca do Chacrinha” alcançou por décadas recordes de audiência e seu personagem, com roupas coloridas e chapéus extravagantes, era familiar a todos os brasileiros.
A produção do programa nos anos 1960 era artesanal se comparada com a intensa parafernália movimentada hoje pelos produtores de programas de auditório. A gravação era ao vivo e os convites aos participantes e jurados fazia-se por meio de cartas mimeografadas que Chacrinha fazia questão de assinar pessoalmente.
A carta abaixo, de 1962, é uma dessas convocações reproduzidas pelo impreciso mimeógrafo, que não identificavam sequer o destinatário. O texto convida o “Prezado cronista” para participar da eleição dos “5 sambas e as 5 marchas carnavalescas que mais se destacaram na preferência do povo durante o tríduo momesco” (expressão rebuscada para referir-se aos três dias de carnaval).
Chacrinha diz também que:
Plenamente consciente de que era a identificação do público com suas escolhas que garantia seu sucesso, Chacrinha insiste que a premiação deva vir da voz do povo e não da opinião de uma crítica especializada.
Pouquíssimas cartas desse tipo foram conservadas por seus destinatários que, logo após tomarem conhecimento de seu conteúdo, quase sempre as jogavam fora.
A sobrevivência desta permite-nos evocar uma das figuras mais importantes da televisão brasileira, cuja vida é tema de um musical atualmente em cartaz.