Em setembro, o avanço da violência armada em Salvador forçou setenta escolas a suspenderem suas atividades por pelo menos quatro dias, em regiões diferentes da cidade. A Secretaria Municipal de Educação (Smed) afirmou na época que cerca de 21 mil estudantes foram afetados. Em outubro de 2023, o município do Rio de Janeiro viu a queima de 35 ônibus e o fechamento de vias importantes a mando de um grupo miliciano da Zona Oeste, depois da morte de uma das suas lideranças em uma ação policial. Em novembro, após sucessivas operações contra o Comando Litoral Sul, facção em franco crescimento no Sul pernambucano, um desertor do grupo foi assassinado a tiros em plena luz do dia, em um domingo de praia lotada em Porto de Galinhas. O ano de 2023 ficou marcado por casos que ilustram a crise da segurança pública brasileira. Com dados do Fogo Cruzado, o =igualdades desta semana anatomiza o avanço do controle territorial por grupos armados no Brasil.
Entre 2022 e 2023, houve um aumento de 55% de tiroteios motivados por disputa na região metropolitana do Rio de Janeiro, de 112 para 174 casos. Na região metropolitana de Salvador o aumento foi de 58%, de 104 para 165 registros. Os dados do Instituto Fogo Cruzado combinam informações recebidas por usuários através do aplicativo da organização ou de redes sociais, pela imprensa e por órgãos de segurança.
Em 2022, a Zona Oeste do Rio teve 561 tiroteios registrados. Em 2023, foram 860. Ainda segundo dados do Fogo Cruzado, em 2023, a região concentrou um aumento de 53% nos casos de disparos de arma de fogo em relação a 2022. Segundo o Mapa Histórico dos Grupos Armados no Rio de Janeiro, realizado pelo Instituto Fogo Cruzado em parceria com o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni), a Zona Oeste é a região mais afetada pelas milícias.
A Zona Oeste do Rio, que concentra um terço da população da cidade, registrou 486 pessoas baleadas em 2023, em meio aos conflitos entre as milícias e o tráfico. A Zona Norte fica logo atrás, com 443. O Centro e a Zona Sul tiveram 57 e 18 atingidos respectivamente.
O número de ataques sobre rodas (casos em que ocupantes de um carro ou motocicleta passam atirando na direção de um grupo de pessoas sem descer do veículo) aumentou de 19, em 2022, para 44, em 2023. O Fogo Cruzado interpreta esse tipo de caso como forte indicativo da ação de grupos criminosos. Apenas em 2023, Salvador e região metropolitana registraram ao menos 165 tiroteios causados por disputa de territórios e 200 resultantes de assaltos.
Em 2022, foram registradas 18 chacinas que deixaram 60 mortos na capital baiana e região metropolitana. Em 2023, o número de chacinas aumentou 167% e o total de mortes causadas cresceu 217%: foram 48 chacinas e 190 mortos. Mais de 70% desses episódios envolveram a atuação de policiais.
Os dados do Fogo Cruzado apontam para o descontrole da violência armada em Pernambuco. Apesar do aumento de 50% na ação policial, o estado teve 132 pessoas baleadas a mais em comparação com 2022.
Dos 1634 tiroteios registrados em Pernambuco, 41% aconteceram no Recife. As outras regiões mais afetadas foram Jaboatão dos Guararapes, com 21% dos tiroteios; Olinda, com 13% dos casos; Cabo de Santo Agostinho, com 9%, e Paulista, com 5% dos tiroteios registrados.
Fonte: Instituto Fogo Cruzado e Geni/UFF.