O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC, e o Ministério da Cultura – MinC continuam destinando recursos para desmoralizar o cinema brasileiro no exterior, contando para isso com a parceria da Ancine.
No Festival de Cannes encerrado ontem, do qual o cinema brasileiro esteve notavelmente ausente das principais mostras, o Programa Cinema do Brasil, iniciativa do Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de São Paulo– SIAESP, presidido por André Sturm, marcou presença no Mercado, desta vez com um estande de 100m2 para dar apoio a sete filmes brasileiros e a produtores associados. Isso, graças ao suporte financeiro da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos do MDIC, e do MinC. Segundo o blog de cinema do Globo, teria chegado a 1 milhão de reais apenas o custo do “lounge” onde foi realizado um show da Gaby Amarantos.
A ausência quase completa do cinema brasileiro no mercado externo, tanto nos principais festivais quanto no circuito exibidor, sugere que os recursos gastos tenham sido mal aplicados e que o Programa Cinema do Brasil, cuja atuação já foi comentada neste blog em janeiro, não passa mesmo de uma iniciativa perdulária mal concebida.
Em Cannes, a novidade do Cinema do Brasil, batizada de Momento Brasil, consistiu na promoção de alguns outros produtos brasileiros, além de filmes. Cactos de chocolate com cerca de 50 cm de altura foram oferecidos, sem nenhum utensílio que permitisse provar um pedaço. Os convidados de bom senso evitaram sujar as mãos. Para constrangimento geral, em outro dia, houve um desfile de moças de biquíni, tendo ficado no ar a dúvida, nesse caso, exatamente o quê estava sendo promovido. A uma revista distribuída durante o Festival, entre outras respostas esclarecedoras, o presidente do Programa Cinema do Brasil declarou que “estamos nos divertindo”.
De fato, André Sturm deve ter se divertido ao participar com Raí de um jogo de futebol, diante de umas 20 pessoas, em frente à praia Le Goeland.
Para coroar o Momento Brasil, houve um show da cantora e compositora Gaby Amarantos. Fora de hora, em local inadequado e longo demais, boa parte dos convidados se retirou, em especial os que mais importavam – potenciais distribuidores e produtores estrangeiros. Ficaram os brasileiros, alguns curtindo o tecnobrega, outros perguntando se não haveria algo mais adequado para representar a música brasileira no exterior.
O blog de cinema do Globo publicou as críticas do secretário de Cultura do Rio e presidente da RioFilme, Sérgio Sá Leitão, ao Momento Brasil. “É assim que devemos promover o Brasil em 2013? No Festival de Cannes?”, escreveu Sá Leitão. E completou: “Não vou.”
Em entrevista dada ao Globo por e-mail, Sá Leitão declarou que “as quatro ações do Momento Brasil destacadas no anúncio publicado na Variety promovem o Brasil por meio de clichês, como comida exótica, desfile de biquíni, futebol e caipirinha. Apenas reforçam uma imagem parcial do país que muitas pessoas no exterior já têm. Reforçam os estereótipos. Chovem no molhado. E são estereótipos que não representam adequadamente o país de hoje, sétima economia do mundo, com uma indústria criativa dinâmica, um setor de energia entre os maiores do mundo.”
O jornal noticiou depois que Sá Leitão foi visto no evento confraternizando com os promotores. Terá mudado de ideia ou sido incoerente?
Iniciativas como a do Programa Cinema do Brasil não têm demonstrado serem eficazes para comercializar filmes brasileiros no exterior. E é difícil acreditar que a estratégia adotada seja considerada adequada por produtores, diretores e profissionais de cinema que tenham algum discernimento.
Leia a resposta de André Sturm