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    Imagem: cartaz de "Osvaldão"

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O Clã e Osvaldão – fatos reais

"O clã" é um filme poderoso e bem realizado, enquanto "Osvaldão" resulta inferior ao seu personagem principal

| 17 dez 2015_16h42
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Entre um filme brasileiro, arrasado por Carlos Helí de Almeida, outro argentino, aplaudido por André Miranda, e um terceiro produzido na Geórgia, aplaudido também por Daniel Schenker, todos três escrevendo no Globo, a vontade inicial era assistir a Osvaldão.

Um documentário sobre Osvaldo Orlando da Costa, líder da Guerrilha do Araguaia morto em combate, poderia ser tão ruim quanto dizia Carlos Helí? As cenas de um filme feito, em 1961, sobre estudantes brasileiros que viviam na antiga Tchecoslováquia, no qual o guerrilheiro Osvaldo participa, incluídas em Osvaldão, não seriam suficientes por si só para assegurar o interesse do filme?

Apesar da preferência por Osvaldão, não seria possível ir à sessão de 18h40, a única naquele dia. Há algum tempo, o horário errático das sessões influi na escolha do que assistir tanto ou mais do que o filme em si. Desconhecendo por completo o cinema produzido na Geórgia, o jeito foi ver, às 14h10, A ilha do milharal, dirigido por George Ovashvili. A projeção mal começara quando foi interrompida e as luzes da sala se acenderam. Depois de alguns minutos, uma espectadora comentou em voz alta que a energia 220 volts fora cortada, como acontecera dias antes. Aos poucos, o público foi desistindo de esperar, sem que tivesse aparecido ninguém do cinema para dar uma satisfação. No saguão, os funcionários, quando indagados, diziam que não havia previsão de volta da energia elétrica. Recuperado o valor do ingresso, só restou bater em retirada cabisbaixo, continuando sem saber nada sobre o cinema georgiano.

No dia seguinte, pela localização do cinema e horário da sessão a escolha recaiu sobre o argentino O clã, dirigido por Pablo Trapero. Com mais sorte dessa vez, a sessão não foi interrompida e foi possível assistir ao filme inteiro. Baseado em fatos reais, a premissa de O clã é semelhante à do documentário The Wolfpack (Os irmãos lobo), dirigido por Crystal Moselle, comentado no post de 15 de outubro – um pai tiraniza sua família, levando seus dois filhos mais velhos, no caso de O clã, a serem coautores dos seus crimes.

O olhar esbugalhado de Guillermo Francella, fazendo o papel do pai de família Arquímedes, é um tanto óbvio para caracterizar um psicopata. E a estrutura narrativa em flash-back, resulta mais complicada do que necessário para dar conta da história da família Puccio. Reparos à parte, aos quais caberia acrescentar ainda certos lapsos do roteiro, O clã é um filme poderoso, bem realizado, com um elenco, inclusive nos pequenos papéis, de alta qualidade. Na primeira semana de exibição, na Argentina, foi visto por mais de 500 mil pessoas.

Trapero domina bem a narrativa realista, grande fragilidade do cinema feito no Brasil.

Finalmente, no terceiro dia, às 18h40, chegou a vez de assistir a Osvaldão, dirigido a oito mãos por Vandré Fernandes, Ana Petta, Fabio Bardella e André Michiles. As quatro assinaturas da direção não ajudaram o filme que resulta inferior ao seu personagem principal, Osvaldo Orlando da Costa, mineiro de Passa Quatro. O filme theco Encontro na antibabilônia, do qual ele participa, é retalhado e desperdiçado. A definição dada por Carlos Helí no Globo é precisa – é uma “esforçada, porém burocrática biografia”.

Havia dez espectadores, incluindo este escriba, no cinema. Feito com bons propósitos, Osvaldão deixa clara a inexperiência dos seus quatro realizadores. A maioria dos entrevistados pouco ou nada tem a dizer. E quando o depoimento de um morador de Xambioá tem um vislumbre de interesse, o filme não se detém sobre ele. Segue acumulando relatos ocos, sem fazer qualquer consideração política de interesse sobre o PCdoB, partido que promoveu a guerrilha do Araguaia, seus integrantes e a atuação repressiva do Exército.

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