Na noite de 13 de dezembro, o Senado aprovou a indicação de Flávio Dino para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal. Com 47 votos a favor, 31 contra e duas abstenções, Dino se transformou no primeiro ex-governador a conseguir assento no STF. Treze dias antes, em 30 de novembro, quando começou o beija-mão para conquistar o voto dos senadores, o ex-ministro da Justiça do governo petista afirmou que mudaria de roupa assim que entrasse no tribunal. A frase pode valer para os grandes embates políticos, mas dificilmente terá algum efeito em seu modelito atitudinal. “Sempre gostei de um bom combate”, afirma Dino. Ele é centralizador, detalhista, afiado, workaholic, bom de briga e, sobretudo, voluntarioso.
Quem primeiro sondou Dino sobre sua indicação para o STF foi Alexandre de Moraes, conta Angélica Santa Cruz na edição deste mês da piauí. Dino nunca escondeu que sonhava ser candidato à Presidência da República em 2030, mas sabia que o caminho era cheio de minas terrestres. A cúpula do PT deixa claro que, depois de Lula em 2026, seu ungido será o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Nem mesmo no PSB, legenda pela qual Dino se elegera senador, a vida seria fácil – o partido já tem nomes no páreo, como o vice-presidente Geraldo Alckmin.
A mulher de Dino, Daniela Lima, ponderava que o marido poderia sofrer de abstinência da refrega da política partidária caso fosse para o STF, mas não se opunha à ideia. O resto da família e a maioria dos amigos eram entusiastas da possibilidade de vê-lo, aos 55 anos, de novo dentro de uma toga e enfim com alguma segurança financeira — ainda por cima sentado na cadeira de maior prestígio do Judiciário. Dino, então, disse sim aos padrinhos. Mas decidiu não procurar diretamente o presidente Lula para pedir a indicação ao STF.
Consultado por Lula algumas vezes sobre a sucessão, Gilmar Mendes indicou Dino com maior contundência em um almoço no final de agosto, quando falou de suas qualidades no campo dos saberes jurídicos, acrescentando que o afilhado toparia porque precisava cuidar da saúde e ficar mais próximo da família, argumentos com muito poder de sensibilizar o presidente. Também no fim de agosto, em um jantar com Lula, Moraes reforçou a indicação. Foi uma surpresa para o presidente, que sabia das ambições políticas de Dino.
Agora, resta a pergunta que não quer calar: Dino vai conseguir se segurar e ficar longe da política partidária?
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