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Como os botafoguenses conquistaram a alegria

O documentarista João Moreira Salles reflete sobre um ano glorioso

21fev2025_13h33

Além dos vivos, vieram a Buenos Aires também os mortos, botafoguenses que partiram antes de ver o time ser campeão da América. Um pai, uma mãe, uma avó, um irmão, uma amiga, um filho

Os torcedores choravam, riam, rezavam, dançavam, cantavam, se beijavam ou, aturdidos, ficavam em silêncio. Alguns passavam mal, outros desmaiavam e voltavam a si sem acreditar no que acontecia em Buenos Aires naquele dia 30 de novembro de 2024: Botafogo, campeão da Libertadores da América.

 

“Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira”, escreveu Tolstói em Anna Karenina, para dizer que a felicidade é mais banal que a infelicidade e que a alegria é sempre igual a si própria. Talvez não seja bem assim, reflete o documentarista João Moreira Salles, que assistiu à partida na Argentina: “Naquele momento tive a certeza de que a alegria não é uma coisa só, mas muitas, talvez tantas quantos forem os botafoguenses neste mundo.”

 

Neste mundo e em outros. Além dos vivos, também os torcedores do Botafogo que partiram estavam no Estádio Monumental de Núñez, na disputa com o Atlético-MG. Familiares e colegas levaram seus rostos e nomes estampados em cartazes ou em camisetas: um pai, uma mãe, uma avó, um irmão, uma amiga, um filho. “Nas horas após o apito final, me senti tão abençoado que, se alguém tivesse pedido, tenho certeza de que poderia sair pelas ruas de Buenos Aires curando os enfermos e multiplicando os pães”, brinca o documentarista.

 

 

 

O ano de 2024 foi um tempo extraordinário para os botafoguenses: o time arrebatou não apenas a Libertadores, mas o título de Campeão Brasileiro. Até lá, foi preciso atravessar um longo deserto (seu último troféu datava de três décadas atrás), o que seus torcedores fizeram com paciência e abnegação quase bíblicas. “Achávamos que as conquistas viriam, mas não para nós. Era coisa para os outros, botafoguenses do futuro”, observa Moreira Salles.

 

Na piauí deste mês, o documentarista revê os principais lances de uma conquista que, contra as expectativas, se fez no tempo presente. “Nossa experiência nos estádios de 2024 nos levou a entrar em contato com algo novo, estranho e valioso. Havíamos formado uma comunidade de pessoas que, a cada partida, descobria que esperança e alegria eram mais normais do que tristeza e frustração.”

 

Cobertos de glória, os torcedores agora se perguntam como viver esse inesperado triunfo. Moreira Salles compara: “Num dos romances de Dickens, um personagem pergunta: ‘Quando duas multidões se confrontam aos gritos, o que se deve fazer?’ Prudente, o sr. Pickwick, que dá título ao livro, responde: ‘Grite com a maior delas.’ O botafoguense é o sujeito que prefere gritar com a menor, o que é um modo de estar no mundo e, dependendo da perspectiva, uma posição política.”

 

 

 

Assinantes da revista podem ler a íntegra do texto neste link.

 

 

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