“O momento é oportuníssimo para ouvir Costa-Gavras”, observou o jornalista espanhol Jacinto Antón, em matéria publicada ontem (14/6) no El País.
Em meio à finalização de O capital, seu novo filme, nas palavras dele “a história, centrada em um homem, do que se tornou a nova religião: o dinheiro”, Costa-Gravas [] permanece fiel à concepção que lhe deu fama a partir de Z (1968), e continuou praticando em A confissão (1970), Estado de sítio (1972), Seção especial de justiça (1975) e Desaparecido (1982) etc. – filmes que declara nunca ter dito serem políticos. “Faço filmes sobre nossa sociedade, sobre o que vejo”, disse. “Somos contadores de histórias em imagens. Na verdade, tudo é política, tanto os filmes de Esther Williams, quanto os de Schwarzenegger.”
Não surpreende, portanto, que Costa-Gavras tenha falado, na Filmoteca da Catalunha, mais da crise da União Européia do que de cinema. Cineasta do seu tempo, está envolvido nos acontecimentos – na França, a eleição de um presidente da República e a maioria conquistada pelos socialistas e seus aliados no primeiro turno das eleições legislativas; na Grécia, a eleição presidencial de domingo; e na Espanha, o socorro dado ao sistema financeiro, permanecendo alta a taxa de desemprego.
Costa-Gavras declarou estar “indignado com o fato dos dirigentes eleitos não dirigirem os Estados, que são dirigidos, na verdade pelos bancos, os acionistas existentes por trás, e os especuladores, dos quais se fala muito pouco”. Deplorou a inexistência de “uma visão política e filosófica” na Europa, convertida em “um supermercado”.
Considera a situação na Grécia trágica: “Das eleições [no próximo domingo] só podemos esperar que surja algo muito negativo, dado o total desacordo entre os grandes partidos. Os jovens gregos estão partindo em massa do país, principalmente arquitetos, engenheiros e advogados. Assim, o país se empobrece duplamente.”
“A grande responsável por ter deixado que a dívida grega crescesse dessa maneira é a Europa. O que fazia a Alemanha vendendo submarinos a um pequeno país como a Grécia quando sabia que ela não poderia pagá-los? Todo mundo estava contente em vender seus produtos para a Grécia e no final a Grécia não pode pagar, voilá.”
“A avareza é a causa principal desta crise?”, perguntaram a Costa-Gavras. “Não, o problema atual não é de avareza, é de ganância”, respondeu.
Costa-Gravas passou dois anos e meio lendo livros de economia para fazer seu novo filme, O capital, e acabou sendo “tragicômico” descobrir que “os ricos estão insatisfeitos com o que têm e aspiram ter um terço a mais.”
“Ele teria alguma solução para a crise?”
“Nós cineastas não temos soluções, essa não é nossa função, as soluções têm que vir das pessoas em quem votamos, que estão aí para isso. Os cineastas têm, em todo caso, que fazer perguntas, as perguntas corretas. E para devolver a dignidade à política precisamos eleger bem. Nem todos os políticos são corruptos, ainda que muitos sejam débeis, uma debilidade que resulta de pensarem mais do que qualquer outra coisa em serem eleitos.”
Sobre seu amigo Jorge Semprún, falecido há um ano, Costa-Gavras declarou: “Ele sabia o que era preciso dizer e provavelmente o que era preciso fazer.”