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    Presidente da CPI, o nome do senador Omar Aziz foi o que registrou maior aumento de buscas durante a investigação, seguido pelo de Renan Calheiros Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

anais da pandemia

A CPI na boca e nas buscas do povo

Levantamento inédito indica que assuntos mais despertaram interesse dos brasileiros no Google durante os seis meses de investigação

Hellen Guimarães | 27 out 2021_18h20
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Há exatos seis meses, tinha início no Senado Federal uma Comissão Parlamentar de Inquérito que monopolizaria o noticiário do país. De 27 de abril a 19 de outubro deste ano, nenhum tema relacionado à política foi mais buscado que “CPI da Covid”. Somente em 2005, no escândalo do mensalão, o termo “CPI” foi mais procurado no Google do que em 2021. A investigação revelou recusas de compras de vacinas por parte do governo federal, esquemas de corrupção em pedidos obscuros de imunizantes e pressão de operadora de plano de saúde para que seus médicos utilizassem remédios comprovadamente ineficazes contra a doença, o chamado “kit Covid”. Após depoimentos que geraram revolta e comoção, o relatório final da CPI pediu o indiciamento de 78 pessoas, duas empresas e imputou nove crimes ao presidente da República, Jair Bolsonaro. Em levantamento exclusivo para a piauí, o Google detalhou o que os brasileiros mais procuraram na ferramenta de pesquisa durante os trabalhos da comissão.

Nas buscas sobre política, o termo que apresentou maior crescimento no período foi “TV Senado”. O pico ocorreu no dia 29 de setembro, quando a investigação ouviu o depoimento do empresário bolsonarista Luciano Hang, dono da Havan, suspeito de participação em esquema de disseminação de informações falsas. Na ocasião, Hang confirmou que a mãe, vítima da Covid, recebeu medicamentos sem eficácia em um hospital da Prevent Senior. Seu atestado de óbito, porém, omitia a infecção pelo coronavírus.

Já a pessoa cujo nome apresentou o maior crescimento de buscas foi Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI. O maior interesse no senador foi registrado no dia 8 de julho, quando ele entrou em embate direto com Bolsonaro em virtude do depoimento do deputado federal Luis Miranda (DEM-DF). Miranda disse que informou o presidente sobre irregularidades nas negociações de compra da Covaxin pelo Ministério da Saúde. O deputado afirmou que o presidente teria dito que ”não poderia se meter no esquema” do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). Naquele dia 8, Aziz desafiou o presidente a se manifestar sobre as declarações, e ele respondeu acusando o senador de corrupção. Na véspera, Aziz havia dado voz de prisão ao ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias. 

Tanto “Omar Aziz” quando “TV Senado” apresentaram aumento repentino de buscas de 27 de abril a 19 de outubro. Isso indica que os dois termos tiveram crescimento acima de 5.000% nas buscas no período se comparados aos seis meses anteriores à CPI. Em seguida, a segunda pessoa que mais cresceu nas buscas de política foi o relator da comissão, o senador Renan Calheiros: o aumento foi de 1.950% em comparação aos seis meses anteriores à investigação. O ápice de interesse no senador ocorreu em 13 de maio, quando ele foi chamado de “vagabundo” pelo presidente em seu próprio reduto eleitoral, Alagoas, na inauguração de uma obra. Bolsonaro repetiu a ofensa proferida pelo filho Flávio na véspera, em virtude de Calheiros ter defendido a prisão do ex-secretário de Comunicação da presidência, Fábio Wajngarten, por mentir à CPI. Naquele dia 13, a comissão ouviu o gerente-geral da farmacêutica Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, sobre as recusas do Brasil às ofertas de vacina da fabricante.

Outro indício de que a CPI mobilizou fortemente as pessoas durante sua atuação é a frequência de buscas por suas transmissões ao vivo. Nesse período analisado, de 27 de abril a 19 de outubro, nenhuma busca por “ao vivo” cresceu mais que a por ”CPI ao vivo” (+5.000%), seguida por “TV Senado ao vivo” (+2.400%) e “Senado Federal do Brasil ao vivo (+950%). A investigação também motivou as buscas por nomes até então menos frequentes. Os três depoentes da comissão mais procurados durante todo o período de trabalho foram o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, Hang e Miranda.

Quando se considera, no entanto, o interesse nos depoentes no dia exato e/ou no dia seguinte em que prestaram depoimento, o ranking sofre ligeira alteração. Pazuello passa à segunda posição, marcando 94 pontos na escala de interesse do Google, e Hang à terceira, com 89 pontos. À frente deles e de todos os outros, no ápice da escala, o nome que atraiu mais pesquisas foi o da médica infectologista Luana Araújo (100 pontos). Ela chegou a exercer, por dez dias, o cargo de secretária extraordinária de enfrentamento à Covid-19 do Ministério da Saúde. Favorável ao isolamento social, defensora da vacinação em massa e crítica do chamado “tratamento precoce”, ela relatou à CPI que sua demissão não foi justificada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.

A médica chamou a atenção por suas posições firmes e o jeito simples, direto e didático de tratar de assuntos técnicos, como a ineficácia de medicamentos como a hidroxicloroquina. Diante da insistência do senador governista Marcos Rogério (DEM-RO) em falar de tratamento precoce, por exemplo, a resposta da médica viralizou nas redes. “Se eu pegar essa cultura viral e botar no micro-ondas, senador, os vírus vão morrer, mas não é por isso que vou pedir ao paciente para entrar no forno duas vezes por dia. O senhor entende? Essa diferença precisa ficar clara para as pessoas em casa”, disse. Ela também classificou a discussão do uso desse tipo de medicamento como “delirante, esdrúxula, anacrônica e contraproducente”: “É como se estivéssemos discutindo de que borda da Terra plana vamos pular. Não tem lógica”, defendeu.

Foi dela também o maior salto de popularidade nas redes sociais: antes de depor, Araújo tinha cerca de 9 mil seguidores no Instagram. Na tarde daquele dia 2 de junho, o número já tinha saltado para 53 mil. Hoje, são 310 mil, um aumento de 3.333%. Hang, por sua vez, lidera em números absolutos: o empresário ganhou 112 mil seguidores logo após o depoimento, saltando de 3,8 para 3,9 milhões. Hoje, são 4,1 milhões, um crescimento de 8%. Pazuello não tem redes sociais.

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